1 de abr. de 2015

Necromesis – The Poet’s Paradox (CD)

Nota 9,5/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia



Cada vez mais a presença feminina na cena do Metal nacional tem se tornado evidente seja em bandas exclusivamente femininas, ou em bandas onde sua presença se destaca. Sim, depois do VOLKANA e o PxUxSx, de anos em que as mulheres estiveram um pouco ausentes do meio (ou então, fazendo trabalhos que não chegaram a ser conhecidos amplamente), elas estão de volta com trabalhos ótimos, como o NERVOSA (que anda atraindo muita atenção fora do Brasil), VALHALLA (sim, elas estão de volta, e continuam fazendo uma música intensa), HELLARISE e INDISCIPLINE, agora é a vez do NECROMESIS, do ABC (SP), mostrar a que veio em “The Poet’s Paradox”, seu primeiro álbum, lançado pela Shinigami Records.

Após um Demo CD (“The Dark Works of Art”, de 2011) e dois EPs (“Evolving to an Underworld” de 2011, e “Echoes of a Memory”, de 2014), mais com a estabilização da formação, o quarteto mostra um Death Metal sólido e bem bruto, mas não sem boa sofisticação técnica. E para aqueles que acreditam que é algo mais suave, é bom se prepararem: o quarteto faz um trabalho bem extremado, que segue a veia de bandas mais tradicionais e explosivas como CANNIBAL CORPSE, MONSTROSITY e VITAL REMAINS. Os vocais de Mayara Puertas são guturais, mas usando urros rasgados e timbres bem diferentes (e essa moça sabe usar muito bem esses timbres, como podemos comprovar em “Self Condemnation”), ótimo trabalho das guitarras feito por Daniel Curtolo (único membro da formação original que restou, e que faz riffs extremamente marcantes, vide o trabalho dele em “Evolving a Paradox”), o baixo de Gustavo Marabiza e a bateria de Gil Oliveira mostram boa técnica, peso e firmeza nos andamentos. Ou seja: juntando tudo isso, temos uma música que é cheia de energia e impregnada com personalidade.

Produzido por Daniel Curtolo (guitarrista da banda), sabendo pôr cada instrumento em seu devido lugar, com timbres bem diferenciados e secos. Está claro aos ouvidos, mas ao mesmo tempo, pesado e agressivo. A arte feita por Mark Riddick (capa) e Mayara Puertas (layout) ficou sombria e visualmente agressiva, uma carta de apresentação da banda.

Necromesis
O NECROMESIS é capaz de criar música em alto nível, mas isso se deve à capacidade em não ser uma banda conformista, ou seja, eles mostram-se capazes de adicionar influências de outros subgêneros extremos do metal sem pudor algum. Os arranjos do grupo são bem pensados, pois com a existência de algumas músicas de longa duração, isso se faz necessário para que o fã não se sinta entediado. Nem é possível no meio de tanto dinamismo musical, verdade seja dita. E para dar um molho especial, ainda temos a participação de Fernanda Lira (do NERVOSA) nos vocais em “Self Condemnation”, Paolo Bruno (do DESDOMINUS e THY LIGHT) nos vocais e guitarra solo em “The Omission of the Living”, Vitor Rodrigues (do VOODOOPRIEST) nos vocais em “The Last Stage of a Mind”, e Marcel Briani (do IN SOULITARY) nas vozes em “The Last Stage of a Mind” e nas narrativas em “Awake” e “The Final Truth”.

A intro “The End of the Cloistered” precede o assassinato sonoro de “Desocial Inclusion”, uma faixa com muitas mudanças rítmicas e destaque para baixo e bateria, que mostram uma técnica que beira o Jazz, seguida da trampada e feroz “Self Condemnation”, com belo trabalho nos vocais. Toques acústicos permeados por acordes distorcidos de guitarra, seguidos de batidas tribais e enfim, em uma base instrumental introduzem a longa e diversificada “Evolving a Paradox”, em seus mais de oito minutos de duração recheados de nuances Thrasher e muita violência. Em “The Life is Dead”, temos uma canção mais bem trabalhada, com alguns tempos quebrados e tempo mediano no início, depois virando uma explosão de violência e técnica mais apurada, se destacando bastante o trabalho das guitarras. Em “Awake” o uso de narrativa com violões ficou ótimo como um momento ameno para recuperar o fôlego, já que “Condemned by Themselves” é outra lição de violência musical, com baixo e bateria mostrando mais uma vez sua técnica apurada. “The Omission of Living” tem alguns momentos mais melodiosos subjetivos nas guitarras, mas a rispidez dos vocais chega a assustar, e temos evidência desses mesmos aspectos em “Indifferent Echoes of Sensitivity” (faixa que possui alguns toques de Thrash Metal no meio de tanta brutalidade). Outro momento acústico, “The Final Truth”, novamente usando de uma narrativa sinistra, precede o encerramento do CD com “The Last Stage of a Mind”, a faixa mais longa (pouco mais de onze minutos), mostrando a banda como um todo em grande forma, cheia de mudanças de andamento e riqueza musical absurda, beirando o Progressive Death Metal em muitos momentos. E é esta que mostra o quanto o NECROMESIS ainda pode oferecer.

O grupo mostra-se forte e vigoroso durante cada música, e isso é ótimo. Quem ganha é o ouvinte, sendo assim uma das revelações de 2015, com toda certeza. E fica claro que eles ainda podem render muito mais no futuro. 

Parabéns ao quarteto pelo excelente trabalho em "The Poet's Paradox", e à Shinigami Records por bancar mais esse ótimo trabalho feito em nossas terras.



Músicas:

01. The End of the Cloistered
02. Desocial Inclusion
03. Self Condemnation
04. Evolving a Paradox
05. The Life is Dead
06. Awake
07. Condemned by Themselves
08. The Omission of Living
09. Indifferent Echoes of Sensitivity
10. The Final Truth
11. The Last Stage of a Mind


Banda:

Mayara Puertas – Vocais 
Daniel Curtolo – Guitarras 
Gustavo Marabiza – Baixo 
Gil Oliveira – Bateria 


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