9,0/10,0
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Quando bandas clássicas sofrem processos de ruptura, ou seja, um membro icônico sai, são postos em xeque, de uma única vez, a carreira do grupo e daquele que saiu. Há casos onde tudo deu errado para ambos os lados, outros em que um dos lados se prejudicou (ou a banda ou o músico), ou mesmo em que ambos os lados se deram muito bem. Neste último, podemos encaixar o vocalista Udo Dirkschneider, que após sair do ACCEPT (várias vezes, diga-se de passagem), formou o U.D.O. Ótimos discos como “Animal House” e “Mean Machine” são mostras que o baixinho poderia ir adiante sem seus colegas, seu novo álbum, “Decadent”, mostra que ele e sua banda ainda possuem muita lenha para queimar. E a Shinigami Records nos deu mais uma vez de conseguir uma versão nacional com qualidade, já que a atual crise econômica no Brasil está tornando os importados, mais uma vez, inacessíveis a grande parte do público. E com duas músicas a mais!
Uma das maiores qualidade de “Decadent” é justamente a personalidade do grupo, pois a única coisa que lembra o ACCEPT é mesmo a voz de Udo, sem os famosos corais característicos. Aqui, temos um Metal tradicional híbrido entre o tradicional clássico e o moderno, com ótimos refrões e ótimas melodias, seja nos momentos agressivos, outros mais amenos ou mesmo em alguns soturnos. E isso é uma prova que a chegada de Kasperi Heikkinen só beneficiou o trabalho do grupo é que as guitarras estão muito melhores que os últimos trabalhos da banda, tanto nos riffs quanto nos solos, se entendendo muito bem com Andrey Smirnov. A cozinha rítmica do veterano Fitty Wienhold (baixo, que está com Udo desde 1996) e do novato Francesco Jovino (bateria) é pesada e bem entrosada, com boa técnica e conduzindo bem os tempos do grupo. E falar da voz esganiçada e marcante de Udo é desnecessário: é uma das vozes mais particulares do Metal, e talvez uma das mais influenciadoras de muitas gerações.
Udo e Fitty dividiram a produção de “Decadent” com Martin “Mattes” Pfeiffer, e este último fez a mixagem, enquanto Jacob Hansen fez a masterização. E vemos que a qualidade sonora do CD está excelente, clara e pesada como o grupo precisa. Dirk Hüttner fez uma ótima capa, verdade seja dita, e é bem divertida, mas antenada com a realidade do mundo atual.
U.D.O. |
O CD já abre fazendo os ouvidos arderem com “Speeder”, uma faixa agressiva, com ótimo refrão e excelente trabalho nas guitarras, enquanto “Decadent” é uma faixa de andamento em tempo mediano, pesada e muito ganchuda, uma faixa para bater cabeça mesmo, conduzida com maestria pelos vocais muito bem assentados sobre as linhas instrumentais. Em “House of Fake”, temos uma faixa mais agressiva e muito empolgante, graças aos riffs mais modernos, fora um trabalho muito pesado da cozinha rítmica. Uma tijolada mais cadenciada e azeda é “Mystery”, com um peso abrasivo de doer os ouvidos, enquanto “Pain” é uma canção bem acessível, com refrão grudento e uma energia Hard’n’Heavy deliciosa aos ouvidos. Uma balada bem comercial é o que vemos em “Secrets in Paradise”, bela e com excelentes arranjos de guitarra (inclusive em duetos). A agressividade torna a ser a tônica em “Meaning of Life”, com trabalho de guitarras típico das bandas germânicas de Metal tradicional, enquanto “Breathless” é outra faixa bem grudenta, mas pesada e com vocais excelentes (outro refrão ótimo). Dois típicos estandartes à lá anos 80 são “Let me Out” (uma das bônus da versão brasileira do CD) e “Under Your Skin”, mostrando que Udo realmente é uma das fundações do Metal tradicional alemão, com a primeira mais focada no peso e com andamento médio, enquanto a segunda é mais veloz. “Untouchable” é mais cadenciada, azeda e com ótimo trabalho do baixo e algumas guitarras limpas. A macia e pesada “Shadow Eyes” é uma das duas faixas bônus da versão brasileira, onde apesar do peso, as melodias são mais evidentes, com vocais ótimos e lindo trabalho de guitarras. “Rebels of the Night” tem toques mais melodiosos, apesar do peso e molde da escola do Metal alemão estar presente, com um trabalho ótimo da bateria. Fechando, “Words in Flame”, que começa como uma balada, mas depois ganha peso e elegância ímpar, e fica transitando entre esses dois mundo sem se perder (e reparem na presença de alguns teclados ótimos). O disco é uma verdadeira aula de como se faz Metal sem ficar acomodado no passado, logo, Udo merece uma estátua, tanto pelo que realizou quanto pelo que ainda realiza e ainda irá realizar.
E não, Udo e sua banda não estão decadente, muito longe disso, como “Decadent” mostra explicitamente, logo, adquira logo o seu sem medo.
Músicas:
01. Speeder
02. Decadent
03. House of Fake
04. Mystery
05. Pain
06. Secrets in Paradise
07. Meaning of Life
08. Breathless
09. Let Me Out
10. Under Your Skin
11. Untouchable
12. Shadow Eyes
13. Rebels of the Night
14. Words in Flame
Banda:
Udo Dirkschneider – Vocais
Kasperi Heikkinen – Guitarras
Andrey Smirnov – Guitarras
Fitty Wienhold – Baixo
Francesco Jovino – Bateria
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