10 de fev. de 2015

Iamí – Luz e Sombra (CD)

Independente
Nota 9,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia



O Black Metal brasileiro é como um diamante. Não se pode nunca fazer previsões do que uma banda está se propondo a fazer. Muitas usam um insight mais cru e obscuro, buscando elementos mais primordiais da SWOBM (Second Wave of Black Metal, um termo ao este autor usa para descrever as bandas do gênero surgidas no início da década de 90), e nisso, conseguem fazer música em alto nível, como o IAMÍ, que na cara e na coragem, acaba de lançar seu primeiro álbum, “Luz e Sombra”.

A música é crua e soturna, como as bandas da SWOBM do Black Metal são, mas aglutina alguns aspectos do Depressive Black Metal, soando introspectivo e denso, criando assim uma personalidade bem única. A despeito de seu um projeto no estilo “One Man Band”, nem por isso deixa de ter méritos, muito pelo contrário: vocais rasgados e ríspidos a extremo, guitarras em riffs insanos ou em belos dedilhados limpos, baixo e bateria seguros em uma base rítmica forte e consistente, teclados criando aquela atmosfera soturna e opressiva única. Sim, o IAMÍ é bem diferente do que estamos acostumados, e por isso, tem uma personalidade forte. É como se o ANCIENT antigo, da época do “Svartalvheim” encontrasse o BURZUM do “Det Som Engang Var” e “Hvis Lyset Tar Oss”, mas com personalidade.

A produção é bem crua, não há como negar. Mas não torna o trabalho tosco, ou seja, você vai conseguir compreender o que é tocado sem problemas, mas terá a sujeira obrigatória que bandas nessa linha precisam (sim, PRECISAM!) ter. Senão fosse assim, a música soaria deslocada ou vazia de seu propósito: criar música pesada, soturna, mas de bom gosto.

Íami
O mais interessante é que o IAMÍ procurar focar suas energias em uma música não tão veloz assim, mais focada em uma climática bem mais opressiva e depressiva, mas com uma riqueza de arranjos um pouco incomum na SWOBM. Sim, se repararem direito, a música aqui está longe de ser simplista, mesmo porque grande parte das canções transcende os 5 minutos de duração (somente “Lamento” dura menos que isso, pouco mais do que três minutos). Mas não se preocupem: não vão nem mesmo perceber a passagem do tempo.

O álbum já abre com uma música bem diversificada, que é “Crença Profana”, composta de partes mais ríspidas e outras mais introspectivas (e as guitarras se saem bem em ambas, tendo como aliados os teclados, muito bem postados e sem serem orquestrações gigantescas. Aqui, o básico ajuda bem mais), seguida de “Lamento”, mais ríspida, direta e agressiva, mostrando um trabalho muito bom dos vocais. Em “Rito Iniciático”, voltamos a ter uma música mais opressiva e crua, mas onde o clima mais depressivo está presente o tempo todo, com algumas boas variações rítmicas, mostrando que baixo e bateria, mesmo tocando de forma simples, são aliados da música da banda, e não apenas uma base para guitarras e vocais. Tocada inteiramente por teclados bem depressivos, criando a atmosfera bem opressiva e quase Ambient, temos “Orvalho do Crepúsculo”, que precede a arrastada, dura e bruta “Cura e Magia”, que evoca bastante aquela mesma climática densa e primordial do BURZUM, mas que ganha certa adrenalina mais próxima ao final, com riffs à lá MAYHEM em sua fase mais importante (ou seja, a fase de “De Mysteriis Dom Sathanas”). Fechando, o colosso de quase 20 minutos de duração, “Quietude”, outra longa instrumental de teclados bem atmosférica.

Não podemos negar que “Luz e Sombra” não é um trabalho de difícil compreensão para muitos, mas a essência do Black Metal pulsa na música do grupo, logo, espero que todo bom fã do gênero dê uma ouvida e aprecie sem moderação alguma, mas em sua completitude.



Músicas:

01. Crença Profana
02. Lamento
03. Rito Iniciático
04. Orvalho do Crepúsculo
05. Cura e Magia
06. Quietude


Banda:

Rômulo – Todos os instrumentos, vocais


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