Por Marcos "Big Daddy" Garcia
E lá vão 7 anos desde o surgimento do CAVALERA CONSPIRACY, grupo que reúne os irmãos Max e Iggor depois de ambos deixarem sua banda original. Tanto "Inflikted", de 2008, quanto "Blunt Force Trauma", de 2011, mostram o quanto esses dois irmãos ainda podiam render ao Metal, mas em "Pandemonium", que acaba de ter sua versão nacional, os "Jungle Brothers" resolveram surpreender mais uma vez, lançando um trabalho irrepreensível!
Diferente dos supracitados álbuns anteriores, o CAVALERA CONSPIRACY em "Pandemonium" aposta todas suas fichas em uma música mais suja, bruta e agressiva, deixando evidentes as influências do HC e do Thrash que tanto Max quanto Iggor carregam, lembrando em muito o trabalho do NAILBOMB em alguns momentos. Mas não se enganem, pois o disco tem a qualidade e esmero que esse quarteto experiente sabe impor em seus trabalhos. Os vocais de Max estão em timbres mais graves, ainda mais urrados que o que nos acostumamos em seus trabalhos, mas se encaixando perfeitamente na proposta do CD; falar que Marc Rizzo é um mago nas seis cordas chega a ser repetitivo, pois mais uma vez, ele mostra um "ensamble" de riffs e solos inspirados; Nate Newton, do DOOMRIDERS e CONVERGE, fez um trabalho ótimo no baixo e ainda cantou a faixa "The Crucible"; e Iggor, por sua vez, foge um pouco do groove e latinidade de sua forma de tocar (embora existam alguns momentos dos mesmos aqui e ali, como em um trecho de "Banzai Kamizaki") em prol de algo mais reto e veloz, mas com boa técnica. Ou seja: o disco pode causar um pouco de constrangimento aos fãs do grupo, ou mesmo aos dos trabalhos mais seminais dos "Jungle Brothers", mas é maravilhoso!
John Gray, o mesmo que trabalhou com MINISTRY, VENIEN e VON, fez a produção do álbum, que soa abrasiva e suja, mas com qualidade. Ou seja, os timbres estão extremos (especialmente nas guitarras, ainda mais com as afinações baixas perceptíveis), mas compreensíveis, e cada instrumento aparece na devida medida, sem se embolarem mutuamente (o que é um desafio com esses timbres mais sujos e a afinação baixa das guitarras e baixo). Ponto para John e para a banda.
A arte da capa, baseada em uma pichação de Stephan Doitschnoff, ficou caótica e com paletas de cores não convencionais ao Metal, verdade seja dita. Mas está bem antenada com a proposta também não convencional do trabalho do quarteto, inclusive com toques que enfocam bastante o conteúdo lírico do quarteto.
Simples: caos, agressividade, brutalidade, ou seja, PANDEMÔNIO, na mais profunda concepção da palavra!
O disco é caótico, violento, bruto e ríspido, com cada uma de suas faixas guardando surpresas e desafios aos ouvintes. Mas verdade seja dita: para todos, "Pandemonium" não é um disco de fácil assimilação. Ouvir uma ou duas vezes é pouco para falar da qualidade aqui imposta em termos de composição. Talvez seja o melhor trabalho que, juntos ou separados, os "Jungle Brothers" tenha feito desde 1995.
Introduzida por sons de guera que criam uma expectativa (um expediente que eles usaram em sua outra banda), para depois virar uma explosão de caos e agressividade, vem "Babylonian Pandemonium", rápida e bruta, com um trabalho de bateria fantástico, grandes riffs e vocais. "Banzai Kamikazi" é outra pedrada rápida, mas com riffs lembrando um pouco mais o Thrash Metal clássico do SLAYER em seus primeiros discos, com um refrão absurdamente caótico. Em "Scum", surge novamente aquela sonoridade mais abrasiva e suja, com boas levadas de baixo e bateria, e aqui, sob a montanha de riffs sujos, está um pouco de Groove. Já em "I, Barbarian", surge o lado mais hardcorizado do grupo, mais seco, e mais uma vez, Iggor eleva o nível de seu trabalho com sua ótima técnica de bumbos. Com alguns toques mais industriais modernos, muitas palhetadas e solo inspirado, temos a quase hipnótica "Cramunhão", seguida da ríspida "Apex Predator", com uma bela presença do baixo, e que resgata alguns elementos particulares em termos de composição dos "Jungle Brothers", especialmente em termos de riffs, fora bela alternância de andamento. Mais uma aula de bateria é vista em "Insurrection", que mais uma vez lembra o lado mais Thrash Metal híbrido e doentio que se espera da banda, fora a presença de alguns elementos Industriais. "Not Losing the Edge" é uma faixa mais cadenciada (mas que ganha uma velocidade "Hardcorizada" em sua segunda metade), que pulsa com energia absurda, com enfoque mais moderno e "grooveado", e vocais insanos. Iniciada de forma Industrial, "Father of Hate" é rápida e opressiva, mais uma revendo algum influência do Thrash Metal antigo, e mais excelentes solos de guitarra. Fechando, "The Crucible", bruta e mais uma com cara de Thrash Metal, e que tem possui duetos de vocais urrados e uma presença maravilhosa do baixo. Mas ainda não acabou: a versão nacional ainda tem duas músicas extras: a esporrenta "Deux Ex Machina" (que alterna momentos um pouco mais cadenciados com outros mais velozes, mas o caos permeia esta faixa. Destaque absolutos para o mestre "Riif" Rizzo e os vocais insanos de Max), e a abrasiva e experimental "Porra" (introduzida por berimbaus, dando uma aclimatação brasileira, para ganhar contornos Industriais agressivos, toques com violas à lá MPB e Samba, com muito sabor latino. Talvez seja a única que fuja um pouco ao conceito mais reto e agressivo do CD).
Este autor preferiu não citar a antiga banda dos "Jungle Brothers" por um motivo bem simples: não dá para viver de passado, e agora, ambos os lados estão com trabalhos muito bons, logo, esqueçamos de vez as dicotomias e saudosismo, e abracemos ambas como elas são.
E "Pandemonium" mostra muito bem que o CAVALERA CONSPIRACY não vive de passado, e merece a aquisição certa como um dos grandes CDs de 2014.
Músicas:
01. Babylonian Pandemonium
02. Banzai Kamakazi
03. Scum
04. I, Barbarian
05. Cramunhão
06. Apex Predator
07. Insurrection
08. Not Losing the Edge
09. Father of Hate
10. The Crucible
11. Deux Ex Machina
12. Porra
Banda:
Max Cavalera - Guitarra base, vocais
Marc Rizzo - Guitarra solo
Nate Newton - Baixo, vocais em "The Crucible"
Iggor Cavalera - Bateria
Contatos:
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