Nota 10,0/10,0
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
A longevidade de uma banda depende explicitamente de muitos fatores, mas um dos mais marcantes é: o quanto ela pode ser criativa com o passar dos anos, de como pode se diferenciar de tantas outras em uma enxurrada de bons trabalhos que surgem todos os dias. Não se pode ficar para sempre vivendo de passado em termos musicais. É preciso ir adiante. E o experiente quarteto LAND OF TEARS, do Rio de Janeiro, sabem muito bem como lidar com todos os dissabores vindos do longo tempo de vida, bem como sabe se renovar, ser criativo. E "The Ancient Ages of Makind", seu primeiro álbum, e que acaba de ser lançado pela Black Legion Productions, é uma prova real de que se pode evoluir e ser criativo, sem no entanto perder sua essência.
Antes de tudo, para a compreensão de "The Ancient Ages of Makind" como um todo, é preciso saber como a banda evolui bastante nesses anos todos. Do Death Metal com doses de Doom Metal das Demos "Canon Episcopi" e "Total Disgrace", e do Death Metal ríspido do EP "World of Pain", o LAND OF TEARS chega em uma nova formatação, com uma musicalidade mais encorpada e evoluída, que poderíamos denominar como "Epic Death Metal", pois a música da banda continua com fortes influências do Death Metal dos anos 90 (um mix bem equilibrado entre as escolas européia e norte-americana), mas se percebe muitas nuances do Black, do Doom, do Metal tradicional, e mesmo algumas coisas de fora. Ou seja, existem toques mais ecléticos embaixo da brutalidade opressiva (mas elegante) do quarteto. Os vocais deram uma melhorada em relação ao passado (a dicção ficou perfeita, bem como os timbres guturais estão mais equilibrados. E ainda existem uns urros mais rasgados). As guitarras ficaram em um nível excelente, com riffs muito bem trabalhados, e os solos mostram fortes doses de melodia (embora existam aqueles mais doentios e cheios de alavancas que os fãs mais tradicionais adoram). Baixo e bateria estão com ótima técnica, boa presença, e uma dinâmica nos andamentos e mudanças de tempos ótimas. Tudo isso muito coeso e homogêneo, sem deixar que algum instrumento se sobressaia demais. O quarteto se preocupa com a música como um todo.
A produção do disco (que tomou bastante tempo em termos de gravação, mixagem e masterização) é ótima, sem espaço para críticas negativas. O grupo, aliado a Marco Anvito (que ainda gravou todas as partes de baixo do CD) nos HCS Studios (RJ), souberam sonorizar muito bem o disco, escolhendo timbres para os instrumentos que fossem polidos, mas sem deixar a agressividade e o peso de banda de fora. É bruto e ríspido, mas como uma sonoridade cristalina, que nos permite observar cada detalhe e arranjo perfeitamente. E realmente: esta qualidade deixa claro que este NÃO É UM CD para ser ouvindo em MP3!
Land of Tears |
Em termos musicais, a Legião Ômega do LAND OF TEARS mostra uma evolução absurda, fugindo completamente do convencional. As músicas estão muito bem arranjadas e trabalhadas, mostrando um nível de composição e entrosamento enormes. É claríssima a idéia de que "The Ancient Ages of Makind" é, antes de tudo, um disco inteligente, que nasceu para ser grande.
Introduzido por "Sons of Eternity", uma instrumental de teclado com clima bem épico, o CD já abre em grande estilo com "The Colossus of Rhodes", uma canção longa (mais de seis minutos de duração), com ótimas variações rítmicas, riffs bem pesados e um trabalho de bateria excelente, seguida por "Old Legends", com um andamento de velocidade mediana no início, antes de ganhar mais velocidade, com boa técnica das guitarras, e vocais fortíssimos. Abrindo com um solo técnico e mais tradicional, vem "Cerberus", outra com andamento bem mais abrasivo, e com um solo fino em termos técnicos e melódicos. Um belo dedilhado de violão dá início a "The Ancient Ages of Makind", onde mais uma vez a cozinha baixo-bateria se destaca, e mais um excelente solo de guitarra. Em "Forbidden God", temos uma faixa já mais agressiva e seca, mas bem trabalhada, com riffs bem envolventes e andamento dinâmico. Grandiosidade é o que "Mega Alexandros" transpira, onde novamente algumas influências mais modernas em termos de Metal extremo aparecem, fora algumas melodias bem subjetivas darem as caras nos riffs; além disso, se vê claramente que esta música é a maior influência na arte da capa (uma imagem que representa a Batalha de Hidaspes, onde Alexandre, o Grande, e o Rei Poro, da região de Panjabe, se enfrentaram. Isso foi em 326 A.C.). Também introduzida por violões, "Pentekontoros" é um pouco mais seca e agressiva, com ótimos vocais e andamento que leva a cabeça a bater involuntariamente, e nesta música, a melodia fica mais explícita tanto nos riffs quanto solos. Rápida e opressiva é "Omega Legions", bem trabalhada, vocais bem assentados na parte instrumental, onde se destacam as guitarras inteligentemente compostas.
Finalizando: "The Ancient Ages of Makind" não é um disco de difícil assimilação ou compreensão, pelo contrário. Mas é um disco tão inteligente e maduro que dá vontade de ouvir muitas vezes seguidas para ter uma visão mais ampla sobre ele. Mas cuidado com o volume, senão as paredes vão tremer e os vizinhos chatos reclamar (mesmo que eles adorem enfiar em nossos ouvidos coisas terríveis em termos sonoros, coisas que o Pai Marcão recusa chamar de "música").
E além disso, a Legião Ômega do LAND OF TEARS lançou um disco que veio para bagunçar com o Top 10 de 2014 de muitos. E estará acessível no Norte e Nordeste pela Rising Records, e no Sul e Sudeste pela Impaled Records.
Tracklist:
01. Sons of Eternity
02. The Colossus of Rhodes
03. Old Legends
04. Cerberus
05. The Ancient Ages of Makind
06. Forbidden God
07. Mega Alexandros
08. Pentekontoros
09. Omega Legions
Banda:
Robson Night Arrow – Vocais e guitarras
Leandro Xsa – Guitarras
S. Vianna – Baixo
Orion Gobath – Bateria
Contatos:
Black Legion Productions (imprensa e selo)