15 de jul. de 2014

Resenha: Ratos de Porão - Século Sinistro (CD)

Nota 10,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia



Bem, falar de algumas bandas chega a ser gratificante, mas ao mesmo, deixa alguns críticos mais antigos de cena com certo receio, já que falar de grupos que possuem história no cenário e contribuições relevantes chega a ser algo temeroso, com medo de sermos injustos. Mas mesmo assim, falar do RATOS DE PORÃO é algo gratificante, sempre, ainda mais agora que, depois de 8 anos, a banda retorna à carga com tudo em "Século Sinistro", seu novo CD.

A pergunta sempre é a mesma: como a banda está?

Nisso, fiquem tranquilos: a fúria ácida Hardcore/Crossover do quarteto está intacta, com músicas que, de certa forma, resgatam a agressividade deles de álbuns como "Vivendo Cada Dia Mais Sujo e Agressivo" (1987) e "Brasil" (1989). Jão continua um autêntico mago dos riffs simples e ganchudos. Juninho (baixo) e Boka (bateria) formam uma base rítmica de respeito, seja nos momentos mais rápidos ou nos mais cadenciados. E João Gordo continua em forma com seus vocais ora urrados, ora gritados, de forma única e sua verborragia ríspida contra o sistema. E meus caros leitores: isso não é pouco, ainda mais para estes pioneiros do Crossover e Hardcore do Brasil nesses 33 anos de existência.

Gravado nos Family Mob Studios, dividida entre a banda e André Kbelo Sangiacomo, mais a masterização feita em nos Fantasy Studios (em San Francisco, EUA) deixou a banda sonoramente perfeita: toda o impacto sonoro do grupo está aliado à uma clareza instrumental muito boa e com qualidade a ponto de se compreender o instrumental sem problemas, e mesmo a dicção de João ficou bem clara. E saber que eles conseguiram isso em uma gravação analógica mostra o quanto o quarteto é entrosado. 

A arte, sombria e densa, é um trabalho fantástico de Ricardo Tatoo, retratando a rebeldia relacionada às mídias sociais 24 horas por dia, com as pessoas fugindo do mundo real em prol do virtual, fugindo dos problemas que temos que resolver em nossas vidas cotidianas em prol de uma vida (aparentemente) sem problemas nas mídias sociais. Um trabalho digno do conteúdo lírico da banda.

Ratos de Porão
Como dito acima, "Século Sinistro" é herdeiro legítimo toda a carga sonora de seus discos mais famosos da segunda metade dos anos 80, quando a banda já vinha fazendo algo mais Crossover (o que lhes rendeu severas críticas da cena Punk/HC no Brasil desde os anos 80), e o disco tem uma musicalidade espontânea, bruta e direta, tendo a participação de Max Kolesne do KRISIUN nos solos de "Neocanibalismo" e "Progreria of Power" (um cover para o ANTI-CIMEX) e Estevam Romera nos backing vocals. Mas falar do RxDxP implica em falar de suas letras, que como sempre, são um soco reto e direto na cara e no fígado de muitos, abordando cada problema de nossa modernidade. Nada foi poupado da do discurso duro e azedo do quarteto, seja a truculência do governo com os protestantes (em "Conflito Violento"), o mau uso e vício das redes sociais da internet (em "Viciado Digital"), a estrutura econômica do país (em "Neocanibalismo"), a Copa do Mundo e a reação do brasileiro à ela (em "Grande Bosta"), a impunidade concedida à criminosos de todos os tipos (em "Boiada pra Bandido"), e mesmo às manifestações de apoio à justiça feita com as mãos e os vícios televisivos e auditivos do povo (em "Sangue & Bunda"). Enfim, nada da atualidade foi deixado de lado. E tudo isso em pouco mais de 34 minutos de música!

Falar das músicas chega a ser desnecessário. Quem os conhece, sabe que RxDxP nunca foi de se acomodar, e cada disco, por mais que tenha a essência intacta, mostra algo diferente. E aqui, a dinâmica das músicas está ótima, destacando apenas para a primeira audição a bruta e rápida "Conflito Violento" (com uma introdução tirada dos manifestos do ano passado, com belos riffs e grandes corais, uma especialidade deles), o murro direto no fígado em "Neocanibalismo" (belos vocais de João e onde surge um solo insano), "Grande Bosta" e seu andamento não tão veloz, a totalmente HC "Século Sinistro" (a raiz musical do grupo está totalmente exposta aqui, e ouçam como os vocais oscilam magistralmente entre timbres graves e rasgados), o show de riffs de "Jornada para o Inferno", o show da cozinha rítmica em "Prenúncio de Treta", outra cacetada HC viciante em "Viciado Digital", a mais Crossover "Boiada pra Bandido" (apesar de simples, baixo e bateria dão uma amostra de peso e força), a supracitada versão para "Progreria of Power", e a golfada de revolta "Puta, Viagra e Corrupção". Mas o disco por inteiro é excelente.

Um trabalho que desafiará a muitos, mas diga-se de passagem: vencido o desafio, é um prazer enorme desfrutar de um disco tão bom.

Bem vindos de volta, obrigado e parabéns por mais um belo trabalho João, Jão, Juninho e Boka.






Tracklist:

01. Conflito Violento
02. Neocanibalismo
03. Grande Bosta
04. Sangue & Bunda
05. Século Sinistro
06. Jornada para o Inferno
07. Prenúncio de Treta
08. Stress Pós-Traumático
09. Viciado Digital
10. Boiada pra Bandido
11. Progreria of Power
12. Puta, Viagra e Corrupção
13. Pra Fazer Pobre Chorar


Banda:

João Gordo - Vocais
Jão - Guitarras, backing vocals
Juninho - Baixo, backing vocals
Boka - Bateria


Contatos:

Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.
Liberaremos assim que for analisado.

OM SHANTI!

Comentário(s):