Por Marcos “Big Daddy” Garcia
É incrível como algumas bandas que buscam sua inspiração no passado mais remoto do Metal conseguem fazer algo amorfo e moderno como o KAPPA CRUCIS.
Este quinteto vindo de Apiaí (SP), em ambos os trabalhos (“Jewel Box” de 2009, e o recém-lançado “Rocks”, agora em 2014) mostram maturidade, personalidade e bastante energia.
Aproveitando o bom momento e graças à Som do Darma, eis que tivemos a chance de uma entrevista com o grupo, na figura de Fábio Dória, baterista do KAPPA CRUCIS.
Confiram!
BD: Primeiro de tudo, obrigado pela entrevista. E vamos começar com uma pergunta das boas: sendo de Apiaí, um pouco distante da Grande São Paulo, como tem sido a luta de vocês em termos de divulgação e shows? Se bem que se de um lado estão um pouco distantes de SP, estão mais próximos do Paraná... E por falar nisso, já foram tocar mais ao sul do país, aproveitando esta proximidade?
Fábio Dória: Salve! Nossa cidade é distante dos grandes centros e os acessos não são fáceis. Fizemos a opção de fazer nossa carreira até agora em Apiaí por uma questão de qualidade de vida, de família e de outras situações que de certa forma nos vinculam à região. Ricardo mora em Ribeira, bem próxima e ao sul de Apiaí e para ele é o mesmo caso. Claro que existem certas dificuldades de locomoção, logística e outras, mas a divulgação é feita normalmente. Hoje os canais de internet facilitam alguns trabalhos. Quanto aos shows, quando aparecem as oportunidades, o inconveniente maior é a distância dos locais. Já tocamos em Santa Catarina e estamos agendando algo para a divulgação de “Rocks” no Paraná. Mas isso não se deve à proximidade, mas ao trabalho, dedicação e comprometimento como um todo em relação ao que gostamos e acreditamos.
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F. Dória |
BD: Como é a primeira vez que entrevistamos vocês, poderiam nos explicar o que significa “Kappa Crucis”, e qual o conceito que usaram quando adotaram esse nome? E em que ele se aplica em sua música?
Fábio: Kappa Crucis é o nome de um aglomerado de estrelas, próximo ao Cruzeiro do Sul. Existem certas técnicas para enxergar o aglomerado. Não é visível facilmente ou para qualquer um. As estrelas do aglomerado são brilhantes e elas, por mais jovens que sejam, tem muito tempo de vida. Isso faz um paralelo com a idéia de se manter uma banda sem abrir mão da identidade intacta por toda sua existência. Pode-se viver por muito tempo, sendo jovem um dia e no outro não. Para manter o brilho em forma de luz acesa tem que manter uma grande persistência e quem se interessar por isso precisa realmente querer olhar para nós e terá que prestar atenção. Na vida, o que é muito fácil não tem muito valor, às vezes nenhum.
BD: Há cinco anos, vocês estrearam em disco com “Jewel Box”, logo, como foi a recepção do CD pelo Brasil, e mesmo pelo mundo? Graças à internet, hoje em dia não ficamos mais presos demais ao nosso país... E com “Jewel Box”, conseguiram a projeção que desejavam?
Fábio: “Jewel Box” foi muito bem recebido pela imprensa especializada e pelo público que teve acesso ao disco. No exterior a divulgação foi bem menor e tivemos algo de bom também. O disco atingiu os objetivos que basicamente eram das pessoas e da imprensa saber de nossa existência.
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G. Fischer |
BD: Uma pergunta que fica a atormentar a minha paciência desde que ouvi seu trabalho: como surgiu essa fusão do Heavy Metal com elementos do Rock’n’Roll mais clássico e mesmo com as viagens musicais do Progressivo? E o mais interessante é: mesmo que a fórmula já tenha sido utilizada antes, vocês têm uma música bem pessoal, algo bem distinto do que ouvimos por aí.
Fábio: Obrigado. Somos e sempre seremos todos fãs do rock do final dos anos 60 ao início dos anos 80. Seja hard, heavy, progressivo clássico, southern, etc. A magia dos 70 e a atitude dos 80. Assim, nosso trabalho acaba sendo natural com essas referências. Musicalmente nunca nos preocupamos em soar isso ou aquilo. Deixamos a natureza nossa falar mais alto e não temos uma fórmula específica para nosso som.
BD: Mesmo sendo gravado no Brasil, “Rocks” teve a masterização feita por Jera Cravo (que já trabalhou com VIRGIL DONATTI, T.J. HELMRICH, PLANET X, DENNIS CHAMBERS) no estúdio Vertex C em Montreal, no Canadá. Como foi que chegaram até ele? E houve uma satisfação plena com o resultado do trabalho em termos de produção, mixagem e masterização?
Fábio: No estúdio onde gravamos e mixamos tivemos a indicação de Jera Cravo para masterizar. Falamos com ele e acertamos os detalhes. Ficamos bem satisfeitos com o resultado. Também ficamos satisfeitos com a produção e mixagem, totalmente nossa e esse fator foi levado em consideração.
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R. Tramontin |
BD: Já que falamos da masterização de vocês feita no exterior, isso tem se tornado um fenômeno cada vez mais comum para as bandas brasileiras, que cada vez mais buscam tanto a mixagem como a masterização feitas no exterior. Acreditam que isso seria uma nova tendência em termos de produção sonora? Acreditam que os produtores/estúdios no Brasil ainda não apresentam o nível necessário?
Fábio: No nosso caso, a masterização fora do país foi uma opção e isso deu certo por diversos fatores. Acredito que no Brasil haja profissionais e equipamentos bons o suficiente para fazer grandes trabalhos. Muitas vezes, algumas bandas vão atrás de estúdios no exterior mais preocupadas com a grife do engenheiro ou técnico do que com a qualidade em si.
BD: E por falar em “Rocks”, o trabalho musical ficou soberbo, e valeu a pena esperar cinco anos por ele. Mas o que houve para essa demora entre “Jewel Box” e “Rocks”? E como foi a pressão de fazer o segundo disco? E já aviso: em geral, o terceiro é visto por muitos como o ponto crucial na carreira da banda, logo, se preparem! (risos)
Fábio: (Risos). Será o fim da trilogia? Agradeço muito seu elogio. Isso é gratificante para nossa banda, que faz um trabalho totalmente comprometido com o que realmente acredita e gosta. Quanto ao tempo entre “Jewel Box” e “Rocks”, acho que o tempo decorrido foi um período natural para a divulgação do primeiro e a preparação do segundo. Hoje em dia é comum que até as grandes bandas demorem algum tempo entre um lançamento e outro. Há outros meios de se manter na ativa e como discos não vendem como antes isso acaba sendo normal. Também há o fato de querermos fazer o melhor produto possível. Não queremos lançar discos com a maioria das músicas só para cumprir tabela.
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A. Stefanovitch |
BD: Uma das grandes notícias que tivemos nos últimos dias foi a confirmação do KAPPA CRUCIS como atração no Roça’n’Roll desse ano. Mas vocês vão tocar com uma diversidade incrível de sonoridades em termos de Metal e Rock, como Black Metal, Metal Melódico, Death Metal, Hardcore, Crossover, Hard Rock e tantos outros, logo, acham que festivais assim seriam a chave para a fortificação da cena nacional? Ou seja, o fim do radicalismo seria uma boa para todos nós? E como se sentem estando lá, no meio de um grande festival? E só digo uma coisa: cuidado com os ET’s de Varginha, com o Chupacabra, e sentem “Rocks” na platéia!
Fábio: No cenário que você menciona, com certeza na atual realidade em que bares bem estruturados e outros lugares, como casas de show pequenas e médias, preferem alguns fantasiados chamados bandas cover, festivais como o Roça'n'Roll acabam sendo o que de melhor existe para divulgar as bandas autorais, mostrando-se a cena verdadeira. Quanto ao radicalismo, sinceramente, algumas pessoas confundem o que é você defender suas bandeiras e o que é ser radical só por ser. Algumas conversas como “eu sou mais banger que você”, “eu sou mais rocker que você” ou “eu sou mais pesado que você” não tem sentido conforme a maturidade que se espera de quem está falando isso. Também não há sentido em querer dividir mais ainda o que já é uma divisão. Os sub estilos do verdadeiro rock, desde que feitos com atitude, autenticidade e paixão, tem que se tratar como co irmãos, respeitando suas diferenças.
BD: Bem, “Rocks” tem sido bem recebido pela crítica, mas já possuem um feedback em termos de público? E sabem como andam as vendas do CD?
Fábio: Ainda não temos parâmetros para um feedback da receptividade de público e também é cedo para avaliar as vendas.
BD: A Som do Darma, sua assessoria, tem feito um trabalho ótimo, mas e vocês, como se sentem sendo uma banda do cast deles?
Fábio: Para nós é um orgulho trabalhar com a Som Do Darma. Trata-se de uma empresa com gente de bagagem e respeito no cenário do rock, além de preocupada com a essência das bandas. A maneira como Eliton Tomasi vê o rock e as bandas com quem trabalha é muito parecida com a nossa maneira de ver, tratando a arte em primeiro lugar como arte, tornando-se produtos comerciais como conseqüências quando for o caso.
BD: Bem, falamos em shows acima, logo, sem contar o Roça’n’Roll, como tem sido a maratona de vocês? Já há algo certo para regiões mais ao Nordeste e Sudeste do país? Alguma possibilidade de alguns shows pela América do Sul, que tem se mostrado cada vez mais uma rota viável para as bandas do Brasil?
Fábio: Ainda estamos montando nossa agenda. O primeiro show oficial de divulgação foi essa sensacional apresentação que acabamos de fazer no Roça'n'Roll em Varginha, Minas Gerais. Temos proposta para o interior do Paraná em seguida. Estamos abertos a convites e analisaremos todas as possibilidades de shows pelo resto do Brasil. Claro que o restante da América do Sul é bem vinda, desde que viável.
BD: Agradecemos demais pela entrevista, e deixamos o espaço para suas considerações finais, e mensagem aos nossos leitores.
Fábio: Quem tem que agradecer somos nós pelo espaço concedido. Deixamos aqui um abraço à você, Marcão, aos demais da Metal Samsara e aos leitores. Vamos todos continuar nossa jornada por esse mundo maravilhoso do rock. O KAPPA CRUCIS continua vivendo longamente, sempre dedicado ao verdadeiro e clássico rock n roll!
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