24 de fev. de 2014

Wagner Gracciano - Across the Universe: The Beginning and The End

Independente
Nota 10/10

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Fazer discos orientados para a guitarra no Brasil não é algo simples, uma vez que o público acaba ficando restrito aos instrumentistas, o que é injusto. Boa música não se mede pela presença de um vocalista, e isso já se tornou verdade em grandes trabalhos que todos conhecemos como os de Joe Satriani e outros monstros lá de fora, bem como Cauê Leitão no Brasil. Mas o trabalho de WAGNER GRACCIANO em "Across the Universe: The Beginning and The End" chega a ser covardia com o coração de tão bom.

Sim. o trabalho de Wagner é algo fantástico, já que seu estilo de tocar realmente tem uma coincidência interessante com o de Joe Satriani: apesar de ambos serem excelentes guitarristas, o trabalho deles é voltado única e exclusivamente para a música em si, e por mais técnicos que sejam, eles valorizam as composições. Ou seja, as músicas são caprichadas, bem feitas e com arranjos que valorizam todos os instrumentos e suas técnicas (embora as guitarras, obviamente, tenham mais destaque). E a música de Wagner vai direto ao nosso espírito e emociona com uma força extrema, sendo uma mistura de Fusion, Jazz, Rock, com toques maravilhosos de Música Clássica aqui e ali. É uma bela e maravilhosa viagem, e o melhor de tudo: a técnica de Wagner, mesmo sendo ótima, evita as famosas "rachadas" (as 10000 de notas por segundo).

Wagner Gracciano
Gravado em Goiânia, e mixado e masterizado (e muito bem, diga-se de passagem) por Adair Daufembach, a sonoridade está cristalina, e cada elemento da música fica muito claro, exposto, e assim, se percebe o minimalismo perfeccionista de Wagner. A arte é belíssima e bem esmerada, o encarte trabalhado com várias imagens que ilustram a temática do disco: uma viagem pelo universo.

Musicalmente, nem há o que ser comentado além de "perfeito", já que "Across the Universe" é um disco perfeito do início ao fim, cheio de convidados que abrilhantam o trabalho e lhe dão um certo toque de ecumenismo musical, de total liberdade, e que só nos faz bem aos ouvidos.

"Journey into the Unknown" (uma faixa rápida e dinâmica, mas com momentos amenos e certo toque de anos 70 devido ao velho órgão Hammond presente), "Broken System" (essa já um pouco mais calma, com o baixo bem presente, e belos arranjos nas guitarras), a mais introspectiva e suave "Across the Universe: Part I" (com um belo piano e a guitarra nos embala gentilmente com seus solos e acordes mais suaves), a mais jazzística e Fusion "Chaotic World" (reparem que existem arranjos de saxofone, trompete e trombone presentes aqui), a linda "As a Prayer" (mais intimista, onde alguns vocais aparecem em belos corais, mais uma canção onde a guitarra nos conduz com muita gentileza), "My Own World" (outra música mais intimista, com um certo clima de Jazz, novamente com a participação de trompete e piano, com um toque "noir"), "Act I: A Breath of Life" (uma faixa que começa bem calma e vai crescendo, com lindos arranjos de violino, e onde Wagner fica apenas nos sintetizadores e samplers. E aqui existe apenas um violão, mostrando que para Wagner, a música vale mais que o ego), a forte e pesada "Act II: When the Eyes Open", a sinuosa e moderna "Act III: The Evil Government and the Birth of Good" (riffs bem intensos e pesados), e "Act IV: The Resurrection, the Victory and Eternity" são faixas que não se podem deixar de ouvir. São jóias, lapidadas de forma extremamente bem cuidada.

Um excelente disco, e Wagner Gracciano forma, junto com Cauê Leitão, Wael Daou, Paulo Schroeber e Michel Oliveira, a espinha dorsal da escola brasileira de grandes guitarristas.




Tracklist:

01. Journey into the Unknown
02. Broken System
03. Across the Universe: Part I
04. Chaotic World
05. As a Prayer
06. My Own World
07. Act I: A Breath of Life
08. Act II: When the Eyes Open
09. Act III: The Evil Government and the Birth of Good
10. Act IV: The Resurrection, the Victory and Eternity


Banda:

Wagner Gracciano - Guitarras, violão, sintetizadores, samplers, efeitos, percussão
Adhemar Rocha - Vocais (faixa 05)
Roberta Gleyce - Vocais (faixa 05)
Marcelo Rodrigues - Órgão Hammond (faixas 01, 05 e 08), Rhodes (faixa 02), samplers (faixa 02 e 09), sintetizadores (faixa 02, 04 e 09), piano (faixa 03)
Alex Parr - Samplers (faixa 07), sintetizadores (faixa 07 e 10), piano (faixa 10)
Willian Isaac - Violino (faixa 07)
Foka - Saxofone (faixa 04)
Henrique Reis - Piano (faixa 06)
Manassés - Trompete (faixa 04 e 06)
Luiz Fagner - Trombone (faixa 04)
Brujo Rejan - Baixo (faixa 04), baixo acústico (faixa 06)
Roberto Milazzo - Baixo (faixas 01, 02, 03, 05, 07, 08, 09 e 10)
Guilherme Santana - Bateria


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