Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Falar no nome do PANZER é chover no molhado.
Após um hiato após o lançamento de “The Strongest” de 2001 (que teve uma ótima recepção de público e crítica na época) e a volta à ativa em 2012, eles não param mais, lançando um Single (“Rising”) e um EP (“Brazilian Treat”) ainda em 2012, e coroando esta volta, em 2013, lançam seu terceiro disco, “Honor” (lançado pela Shinigami Records), fora as duas edições bem sucedidas do festival Panzer Fest.
E lá fomos nós bater um papo com a banda, para saber um pouco do que ocorreu após a volta, sobre as edições do Panzer Fest, sobre “Honor” e outros aspectos que circulam o grupo.
Metal Samsara: Mais uma vez, é um prazer fazer mais uma entrevista com vocês, e logo de cara, uma pergunta quente: quando voltaram ano passado, Élcio Cruz (vocalista que gravou “The Strongest”) parecia estar junto com vocês, mas pouco tempo depois, vimos o Rafael Moreira nos vocais. O que ocasionou esta mudança? E como chegaram até ele?
Edson Graseffi: Obrigado mais uma vez pelo espaço para podermos falar sobre o PANZER.
Realmente quando planejamos a volta, minha ideia inicial juntamente com o André era de trazermos o Élcio para completar a formação. Tínhamos consciência de que a volta com ele seria importante para a banda, por ter feito parte de um line up clássico do PANZER.
O André sempre manteve contato regular com o Élcio, pois sempre mantiveram alguns projetos musicais juntos.
Na época, o André fez contato com ele, que hoje mora no Espirito Santo, e resolvemos tentar a volta com a banda mesmo com ele vivendo lá e nós aqui, mas infelizmente a distância acabou interferindo no andar das coisas, e todos acabaram abortando a ideia pois se tornava inviável para ambos os lados.
Assim , precisávamos de um vocalista com a mesma qualidade que o Élcio sempre colocou nas gravações e no palco.
Para mim foi automático pensar no Rafinha, que havia cantado comigo em outra banda e eu conhecia sua performance no palco, assim, nós fizemos o convite e ele aceitou. E a banda se transformou no que é hoje.
Da esquerda para a direita: André, Rafinha, Edson e Rafael DM. |
MS: Outro aspecto interessante no lineup do PANZER é que parece que a maldição do baixista parece ter se acabado com a entrada do Rafael DM na banda. Podemos dizer que finalmente encontraram o cara certo para as quatro cordas? Ainda sobre a formação, vocês estão juntos há mais de um ano, com a formação estável. O que significa finalmente conseguirem ter uma formação firme?
Edson: Essa questão do baixista sempre foi algo complicado para a gente. Nos primeiros 4 anos da banda , lá no inicio dos 90 , tivemos meu irmão como baixista e vocalista. Na época ele era a “cabeça pensante” em termos de composições, toda parte musical vinha praticamente dele. O próprio álbum "Inside" traz esse lado dele ainda em muitas musicas.
Até ali , ele foi até então o baixista que mais tempo ficou dentro da banda.
Realmente com a entrada do DM a coisa se estabilizou, ele é um ótimo músico, um ótimo performer e o principal, uma boa pessoa de se conviver e trabalhar. Isso é importante dentro da banda, afinal você convive muito tempo com os caras e lidar com pessoas difíceis torna a coisa insuportável.
Ter uma formação fixa torna tudo mais sólido, planos para futuro, musicalidade, datas de shows. Enfim acredito que achamos uma formação estável.
Experiência e juventude, unidos pelo Metal. |
MS: Falando sobre “Honor”, como vocês comparam-no aos seus trabalhos anteriores, especialmente ao “The Strongest”? Acreditam que existem grandes diferenças entre um e outro em termos de musicalidade? E como foi compor o disco já com Rafinha e Rafael DM? Eles chegaram a ajudar nos aspectos de composição musical e lírica do grupo?
Edson: Quando fizemos "The Strongest", nossa cabeça estava voltada para a idéia de dar um passo adiante na nossa música, estávamos fugindo daquele lance feito no "Inside", que tinha um pé no Stoner, um pé no Thrash e muita coisa do Rush trazida pelo meu irmão. Queríamos algo mais pesado e direto. Ao mesmo tempo, estávamos no final dos 90, estávamos ouvindo muito W.A.S. P na época, e colocamos no disco muita coisa deles aqui e ali dentro das músicas. Se você ouvisse o disco comigo eu poderia te apontar onde estão as influências. Se você notar na própria letra de "Speed" existe uma citação ao W.A.S.P. Aquele também era outro momento de tecnologia, compúnhamos e ensaiávamos pensando na forma de se gravar da época, que foi um período de transição do analógico para o digital. Assim, "The Strongest", como todos os outros CDs feitos naquele momento, foram feitos usando conceitos técnicos que hoje são obsoletos dentro de estúdio.
Acho que tudo isso trouxe para aquele álbum a sonoridade única que ele tem e que transformou em um disco que as pessoas realmente curtem, mesmo em mais de uma década depois.
Já em "Honor", nossa visão do que é o som do PANZER já estava formada, tínhamos o passado para ser revisto e a influência dos 2 membros novos, Rafael Moreira e Rafael DM. Eles trouxeram elementos novos para dentro da nossa musica, que se fundiram com as raízes do que fizemos no passado, fazendo o PANZER soar mais agressivo... E nós gostamos do resultado!
MS: Outro aspecto ótimo de “Honor” é que ele não é como os discos de muitas bandas que retornaram à ativa, pois soa vigoroso e cheio de vida. Mesmo com a personalidade thrasher que vocês sempre tiveram, se percebem influências modernas no som, e uma belíssima aprimorada na técnica de cada um de vocês. Essa dinâmica toda seria à entrada de dois jovens na banda (Rafinha e Rafael DM), ou é mesmo algo de todos vocês evoluírem com o passar do tempo?
Edson: A entrada do Rafinha e do DM, sem dúvida, nos trouxe essa influência moderna, o próprio DM é quase 20 anos mais novo que eu, é notório que ele ouça coisas novas, diferentes do que eu trago como bagagem. Com o Rafinha foi a mesma coisa, ele gosta de muita coisa agressiva e trouxe esse lado para nosso som. Mas sem duvida também que o André e eu tivemos essa aprimorada técnica que você disse. Eu mesmo não sou o mesmo baterista de 12 anos atrás, eu me mantive tocando, explorando o mundo da bateria de outras formas e hoje sou um músico mais completo, com outra visão da bateria dentro da composição. O mesmo se passou com o André, que também sempre se manteve na ativa e não se “enferrujou” com o tempo. Isso nos permite tocar coisas que no passado não estariam na nossa música. Hoje nos desafiamos a nós mesmos como músicos, e isso tem sido muito bacana para caras que gravaram o último disco com essa banda há 12 anos.
Panzer na primeira edição do Panzer Fest. |
MS: Bem, vocês trabalharam com o Henrique Baboom na produção do CD, logo, podemos dizer que ficaram plenamente satisfeitos com o trabalho dele? E o processo de gravação chegou a ser algo um pouco “sacrificante”, ou tanto “Rising” como “Brazilian Threat” já havia dado uma bela “azeitada” em vocês?
Edson: Trabalhar com o Baboom é algo bacana, pois ele sabe TUDO dentro do estúdio, além de ter um ouvido privilegiado. Ele já sabia o que queríamos devido aos trabalhos com "Rising" e "Brazilian Threat", o bacana de trabalhar com ele é que ele respeita a vontade do musico em vários quesitos na gravação.
Quando comecei a gravar, por exemplo, pedi a ele que fizéssemos um disco com baterias “orgânicas”, eu não queria aquela coisa pasteurizada de timbres digitais e edições ao extremo, que é comum nas bandas de hoje. Queríamos o PANZER como soa ao vivo, e assim ele fez! O resultado pode ser conferido em cada musica de "Honor", onde a banda soa natural e orgânica, ficamos felizes com o resultado.
Edson Graseffi |
MS: Outra coisa legal do CD é sua arte, que é 90% em preto e branco com contornos de cinza, captando bem não só a agressividade azeda das letras, bem como a sonoridade que o CD apresenta. De onde surgiu este conceito, e como foi ter o Rodrigo Balan dando uma força? E já que falamos em conceito, qual a idéia central da arte e do título?
Edson: Essa capa foi feita em parceria com o Rodrigo, que havia feito sozinho as artes de "Rising" e "Brazilian Threat".
Quando eu comecei a trabalhar nessa imagem, eu vim com o conceito de capas de Stoner como Pentagram, Down, das quais sou fã. Eu queria algo em preto e branco, que remetesse a simplicidade das capas setentistas, além de também passar na imagem o conceito da nossa mistura Thrash/Stoner, tão característica no nosso som.
Mas eu tenho um sério problema, meus trabalhos gráficos são sempre muitos limpos, talvez devido as influencias que tive no passado quando estudei artes plásticas. Assim, eu pedi a ajuda do Rodrigo para “sujar” a imagem com texturas, ele é o mestre nisso. Quando ele me mandou o resultado final eu pirei. Ficou exatamente o que eu gostaria de ter feito.
Rafinha Moreira |
MS: As letras estão bem azedas no disco, cada uma com conteúdo bem próprio. De onde vieram as inspirações? E que tal dar uma geral sobre o que cada uma delas diz?
Rafinha Moreira: As inspirações do álbum vieram de acontecimentos cotidianos, de pensamentos, revoltas e histórias de vida etc. As inspirações surgem de repente, alguns sons simplesmente apareceram na mente, seja por um título legal ou até mesmo por uma idéia maluca rsrs.
"The Last Man on Earth": É a contagem regressiva de uma guerra entre humanos e máquinas, na qual somos derrotados e só se resta um sobrevivente perdido à procura de mais alguém!
"Heretic": Uma mensagem direta que demonstra todo o ódio contra certo líder religioso, preconceituoso, que usa a religião para trazer conquistas pessoais como cargos importantes e etc... Ele deveria ouvir essa música !
"Intruders": Fala sobre a vida de motociclistas, diversão, algazarras e festas em todas as cidades por onde passam!
"Rising": Foi a primeira música que compus no PANZER. ela veio após um período de recuperação pessoal de um acidente e pode ser dividida em duas partes: uma que fala sobre perseverança e seguir em frente, estar cada dia mais forte; e também passa uma mensagem de que o PANZER voltou pra recuperar seu lugar na cena nacional.
"Savior": Fala sobre vingança. A idéia dessa letra simplesmente veio na cabeça de repente e quer mostrar que se você faz o mal pra alguém, um dia você pode ter o desprazer de estar frente a frente com essa pessoa... E nesta hora nenhuma santo, nenhum Deus vai poder te ajudar no acerto final.
"I Wanna Make You Pay": é sobre tomar decisões, sobre fazer seu próprio caminho, e deixar claro que qualquer um que tentar impedir, será massacrado.
"Burden of Proof": A idéia nessa música é falar em nome daqueles que sofreram injustiças, que tiveram que pagar por crimes que não cometeram.
"Victim of Choices": Letra do Edson, que fala é sobre as escolhas que uma pessoa faz na vida e acaba sendo vítima delas. É uma letra baseada em experiências próprias.
"Hastening to Death": Sempre curti o tema da “Vida X Morte”, a forma como a qual estamos morrendo lentamente, dia após dia... O tempo passa, não perdoa ninguém, não esquece ninguém, e acho que não existe um motivo mais forte que esse para que a gente viva nossas vidas da melhor forma que pudermos, já que o fim está logo ali.
"Mind's Slavery": Quantas vezes deixamos que algum fator externo ou alguma outra pessoa controle nossa própria mente? E quantas vezes sentimos que algo fala dentro de nós, mas não é exatamente nosso eu racional? Essa música fala sobre a falta de livre-arbítrio, sobre controle e dominação mental.
"Alma Escancarada": Essa letra foi feita pelo André Pars retrata conflitos vividos na sua infância, período em que muitos passamos pelo mesmo: bullying e provações. No fim da letra percebe que aquele que teve sua vida atormentada por outros, deu a volta por cima e se tornou melhor que aqueles que um dia o julgaram, o fizeram sofrer!
André Pars |
MS: “Honor” já tem um tempinho de lançamento, então, já é possível sentir a recepção do público ao disco? E como tem sido o trabalho de promoção da Shinigami Records? Estão satisfeitos com esta parceria?
Edson: A recepção está melhor possível, o disco está vendendo muito bem! As pessoas têm falado muito bem do disco num modo geral e já tivemos quatro notas 10 para o álbum, isso é fantástico! Além disso, já fomos indicados em votações para melhor disco de 2013, e entramos em vários sites entre as melhores bandas daquele ano, tudo isso em muito pouco tempo.
Quanto ao trabalho da Shinigami, é um trabalho sério e bem feito que vem sendo desenvolvido pelo Willian e sua equipe, estamos felizes em ter essa parceria!
MS: Ah, sim: este ano, tivemos duas versões do Panzer Fest, ambas bem sucedidas. Como foi que surgiu a idéia do festival? E como foi a escolha do cast de cada um deles? E qual o motivo de terem trocado o Cine Jóia (onde ocorreu a primeira versão, em junho) pelo Blackmore Bar (local da segunda edição)? E podemos dizer que o Panzer Fest agora é um evento do calendário de eventos anuais de São Paulo? E perdão pela minha ausência no II, mas infelizmente, seguram-me pelo pé (risos).
Edson: Cara, o Panzer Fest na verdade é uma extensão dos festivais que fazíamos nos anos 90, na casa de cultura do Ipiranga, quando voltamos com a banda, queríamos voltar com eles também, mas queríamos imprimir a marca da banda junto, por isso mudamos o nome para Panzer Fest.
A escolha das bandas das duas edições forma feitas baseadas na sua relevância dentro do cenário paulistano, uma vez que o publico alvo é quem vive aqui em SP. Para nossa surpresa nessa última edição tivemos no publico pessoas de MG, Mato Grosso, que vieram apenas para curtir o evento.
Quanto à troca de local, se deveu ao fato do Cine Jóia não ter mais datas disponíveis esse ano, assim migramos o festival para o Clash Club, que devido a contratempos de agenda não pode manter a data e assim migramos mais uma vez para o Blackmore que abriu suas portas para o evento.
Acredito que o Panzer Fest tenha se tornado um evento do calendário metálico paulistano, mas isso bate de frente com toda a logística e custos do evento, que briga diretamente com centenas de shows de bandas estrangeiras, então, precisamos reavaliar futuros eventos para que sejam viáveis.
E quanto sua “não vinda” a essa edição... Marcão você fez falta.. Rsrsrs!
Rafael DM |
MS: Desde que retornaram no ano passado, a Metal Media Management abraçou com unhas e dentes a banda, então, neste pouco mais de um ano de parceria, como se sentem em relação ao trabalho deles?
Edson: O que falar de Rodrigo e Débora da Metal Media? Simplesmente a melhor assessoria de imprensa que uma banda pode ter no Brasil! São sérios, dedicados, comprometidos com seu trabalho e trabalham lado a lado conosco, vendo Metal de forma séria. São dois profissionais trabalhando por trás do PANZER, muitas vezes segurando nossas loucuras... Só tenho a agradecê-los!
MS: vocês já possuem um vídeo para “Rising”, feito na época do lançamento do Single, mas já existe uma idéia para um novo de divulgação de “Honor”, ou essa idéia já se encontra em andamento no momento?
Edson: Sim, vamos lançar dois vídeo clipes para 2014, um inclusive será em desenho animado e já está sendo produzido.
MS: Vocês têm uma vontade ao vivo, uma energia que é de dar inveja em muitas bandas mais jovens, e como “Honor” nas lojas, chega a hora de cair na estrada. Como estão sendo os convites de shows? Já há algo de certo por shows pelo Nordeste mais uma vez? E o Rio de Janeiro, quando é que sai este bendito show, que está sendo um parto em termos de realização (risos)?
Edson: kkkkkk. Queremos tocar no RJ! Tenho tentado fazer esse parto acontecer faz muito tempo, mas tudo depende de certo produtor que você conhece muito bem... rsrsrs... Espero que consigamos esse ano, o PANZER nunca tocou no RJ, será uma honra para nós tocarmos ai.
Em relação a tour no Nordeste, eu tenho tentado fechar algo viável para bandas e produtores faz algum tempo, espero que consiga também isso em 2014, tenho contato com produtores sérios de lá e espero que a coisa aconteça.
Temos planos de levar a banda para fora do país também, temos que fazer isso, mas é um passo maior a ser dado e com tudo bem pensado.
MS: Agradecemos demais pela entrevista, e o espaço é todo de vocês para sua mensagem aos fãs.
Edson: Agradeço, Marcos, a todo espaço que você vem nos dando para que possamos falar sobre a banda e sua história, e agradeço em nome de toda a banda a todas as pessoas que estão nos apoiando de alguma forma. Sem vocês tudo isso não faria sentido!
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