Bem, o tema desta matéria pode parecer estranho aos caros leitores, mas é preciso saber que há uma praga, uma maldição existente dentro do Metal nos últimos anos, e que está causando danos absurdos à cena, às bandas e todos os que trabalham nela com afinco: as piadinhas e humoristas do Metal.
Um questionamento muito bom é: o Metal é só um estilo de música?
Não, aqueles que estão dentro do estilo bem sabem que é muito mais que isso, por mais que muitos acreditem e digam o oposto. Provas: o estilo tem imprensa especializada própria, lojas exclusivas (e lembremos que existe até mesmo a célebre Galeria do Rock, em SP), assessorias de imprensa de bandas de Metal, selos que só trabalham com o estilo, points quase que exclusivamente do gênero, e manifestações culturais inerentes a eles, entre tantos outros pontos a serem argumentados.
Há gente séria trabalhando dentro do estilo todos os dias, devotando muito de suas energias, e na maior parte das vezes, não ganhando nada (ou muito pouco) em troca, enquanto algumas pessoas sofrem do complexo de comediantes e são efusivamente aplaudidos (e muito bem pagos) por isso: transformar a todos nós do meio em alvo de piadas sem nexo.
Que me perdoem, mas versões Metal de MAMONAS ASSASSINAS (para não citar nomes, este autor optou por uma ironia), que usam e abusam de humor e piadas com pessoas alheias e valores de vida que muitos possuem como reais, fazerem sucesso é o ápice da falta de consciência do Headbanger brasileiro, do vazio intelectual de muitos, de uma incoerência existencial que se instalou por vários motivos:
01 – Clonar MANOWAR, HELLOWEEN e IRON MAIDEN já foi feito ad infinitum no Metal, e muitas vezes, criou nomes interessantes, que depois do amadurecimento, começaram a fazer trabalhos sublimes, como o FATES WARNING (que não faz o sucesso que lhe é devido). Os oportunistas (no péssimo sentido da palavra) fazem humor usando este mesmo expediente, e daí, começam a fazer bandas (e pessoas) que conseguiram chegar lá (ou estão lutando nesse sentido) de forma honesta de palhaços. Talvez seja um pouco do sentimento de não conseguir sucesso sem incomodar a outrem, algo muito visto no Metal;
02 – Tirar sarro de alguém que não está presente, ou que não o autoriza a tanto, é ser leviano e mal educado, algo que se justifica em um país que, desde 1985, foi conferido direitos inúmeros sem a cobrança proporcional das obrigações. Fala-se demais sem saber até onde estará infringindo a lei, ou na pior das hipóteses, magoando alguém;
03 – O Brasil foi uma escola para grandes humoristas, como Agildo Ribeiro, Jô Soares e Chico Anysio, todos eles usando uma linguagem mais formal e subjetiva (motivada pelo Regime Militar instaurado em 1964 no país). Não precisamos de humoristas de baixo nível e sem raciocínio, que não contribuem para a formação de mentalidade crítica. Humor pelo humor não é Parnasianismo, mas perda de tempo útil, ainda mais quando a pessoa diz gostar de algo que ela mesma torna caricato. Estranho, não?
04 – Há uma palavra que deveria definir tudo, mas que anda muito em desuso no Brasil: RESPEITO.
Perderam-se as noções de respeito e limites, e no momento em que este autor escreve estas linhas, mais polêmicas estão instauradas devido aos “humoristas” de internet: a criação de páginas contra algumas vertentes do Metal, fora a depreciação do trabalho alheio. Falar em liberdade de expressão para encobrir as besteiras que dizem/fazem, para se impor e colocar todos os trabalhos feitos de maneira séria no chão, e o direito de magoar pessoas sérias. É para isso que serve a tal liberdade de expressão? Se for, que me perdoem, mas é este tipo de atitude que justificava a censura durante o regime militar, uma vez que falar o que quer em detrimento do respeito não é virtude, mas uma imensa falta de educação, de ética, e principalmente, de humanidade. Sem mencionar que é passível de ação legal, pois apesar de alguns apelarem ao artigo 5º de nossa Constituição, Inciso IX, onde se diz que "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença", esquecem que o Inciso X deixa claro que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação", ou seja, você é responsável por suas palavras sempre. Falar o que quer implica em ser responsável, coisa que muitos "humoristas" de plantão não são.
Particularmente, este autor desaprova e condena o humor dentro do Metal por muitos motivos, talvez por pertencer à geração que deu o sangue para que o Metal se tornasse mais forte, para que a cena nascesse e crescesse no Brasil, e que ainda sente que tem muito que fazer, muitas orelhas a puxar e muito que ensinar. Ou talvez por saber o quanto muitos ainda dão o sangue dentro da cena todos os dias, apenas para alguns comediantes serem aplaudidos por pessoas carentes da capacidade de julgar algo como “ridículo”.
É nessas horas que este autor agradece que as faces que melhor representam o Metal brasileiro são as de Max Cavalera, André Mattos, Andreas Kisser e, no atual momento, as do pessoal do SHADOWSIDE e HIBRIA, pois são pessoas inteligentes, sérias e que se impuseram por seu talento musical e carisma, não por piadas ou por travestirem-se como algo caricato, que não ajuda o Metal em nada, apenas transforma o estilo de marginalizado em motivos de risos. Mas cada um consegue a atenção que busca da maneira que sua criatividade permite...
“Empty mind just receiving the information
Seeing this place like a dark mirror reflection
So afraid, all I need is a piece of peace
Sacrificing my freedom for some illusion
We build our prison, they give us the tools
Sacrificing my freedom for some illusion…”
(SACRIFICED – Prision Mind)