9 de abr. de 2013

Sobre os downloads ilegais - A visão de Willian Ohara Sakamoto (Shinigami Records)




Li com muita atenção a matéria sobre download ilegal do nosso parceiro Marcos Garcia do Metal Samsara, e os posteriores comentários, e achei oportuno me pronunciar, não como consumidor, senão como gravadora. 

O meu nome é Willian Sakamoto e sou o dono da Shinigami Records. Esta tem poucos anos de vida, porém eu comecei a trabalhar no mercado fonográfico em 1998, seja através da minha distribuidora, ou como vendedor de importantes gravadoras do ramo, e posso garantir que vi muita coisa acontecer. 

Em primeiro lugar, quero falar sobre a qualidade do material gráfico. 

Concordo plenamente que o material gráfico no Brasil é inferior ao produzido em outros lugares, como Estados Unidos, Europa e Japão. Mas, de jeito nenhum pode-se dizer que é de má qualidade (claro que sempre poderá e há exceções), só não é comparável ao material dos países já citados. Com a Shinigami Records, já prensei em quatro fábricas diferentes e o material gráfico de todas é similar e inferior aos importados. Nesse ponto, as gravadoras, para poderem lançar os seus produtos, estão sujeitas a escolher. O porquê dessa inferioridade no material, só as fábricas (e gráficas) podem explicar. 

Outro ponto que deve ser explicado é o fato de alguns CDs terem algum tipo de defeito, já seja no áudio ou no material gráfico. Cada gravadora trabalha de uma forma específica e nós, da Shinigami Records, sempre tentamos oferecer um produto sem nenhum tipo de erro: ouvimos duas ou três vezes a master para detectar possíveis erros, olhamos detalhadamente a arte gráfica que as gravadoras enviam para retirar informações que não conferem ou colocar novas informações, e o mesmo acontece quando o produto chega as nossas mãos da fábrica, pois antes de comercializar o produto, conferimos o áudio e arte. Mas nós, que trabalhamos na gravadora, somos seres humanos, e como tais, estamos sujeitos a errar. Um exemplo claro que posso citar se encontra no encarte do CD “Litany” da banda VADER. Nele estão as informações técnicas de um vídeo bônus que o produto nacional não possui e só percebi após um colaborador mencionar o fato. O porquê de estas informações constarem no encarte é simples: A Metal Blade, gravadora que licenciou este título para nós, enviou a arte do CD no formato que está à venda nos Estados Unidos, porém não enviou o vídeo nem tampouco autorizou a Shinigami Records a incluí-lo na nossa versão, e não percebemos que essa informação constava também dentro do encarte. 

E aproveitando que estou falando sobre bônus nos lançamentos nacionais, é fundamental que vocês saibam que a maioria das vezes não é decisão da gravadora nacional incluir ou não os bônus. Geralmente, eles são exclusivos para determinado país, não sendo autorizado o lançamento em outro. Nos casos que a decisão recai na gravadora brasileira, geralmente covers de bandas internacionalmente conhecidas, os preços exorbitantes cobrados para o uso e adição da música desestimula a inclusão. Particularmente, eu já deixei de incluir um bônus (cover de uma banda famosa que não é necessário explicitar qual) por ter que pagar 3 mil dólares e mais uma taxa por CD vendido.

Falando agora das bandas nacionais lançadas no Brasil. Posso afirmar com conhecimento de causa que 99,99% delas pagam quase o total dos custos que implica em lançar o seu trabalho. Então, por que tentar lançar por uma gravadora? 

Simples, geralmente estas bandas ganham maior visibilidade na mídia e o CD fica disponível em quantidades maiores de lojas graças ao suporte de uma gravadora. Sei que muitos dirão que estas bandas são exploradas pelas gravadoras, mas a decisão de ser lançada ou não por uma gravadora está na mão dos membros da banda. Não posso falar por outros selos discográficos, eu sempre exponho as minhas condições, e quais serão as minhas obrigações, antes de fechar com alguma banda e, como disse anteriormente, a decisão é da própria banda de aceitar ou não as mesmas. 

A respeito dos preços dos CDs lançados no Brasil, é verdade que se vocês vão aos Estados Unidos ou Europa encontrarão lançamentos no valor de 8,00 a 10,00 Dólares (ou Euros), porém é fundamental que as pessoas olhem as nacionalidades das bandas. O que quero dizer é que bandas que nós, brasileiros, consideramos bandas internacionais, nesses lugares são consideradas nacionais, por exemplo, ARCH ENEMY na Europa ou ANTHRAX nos Estados Unidos. Então se consideramos a nacionalidade como parâmetro, aqui também nós encontraremos CDs de bandas brasileiras com valores entre R$ 10,00 e R$ 20,00.

Neste ponto é necessário fazer uma ressalva: o conhecido site E-Bay é semelhante ao nosso Mercado Livre e, portanto, muitas vezes o vendedor é uma pessoa física ou empresas que vendem os seus produtos sem recolher o imposto de forma antecipada e como os correios trabalham com amostragem, não são todos os envios que são recolhidos e taxados. Já no caso de adquirirem produtos através de outros sites como Amazon ou a loja virtual de Century Media Records, entre outras, o recolhimento do imposto é feito antecipadamente. 

Até aqui falei sobre os preços dos novos trabalhos dos artistas. Agora bem, vocês podem alegar que comprar no exterior os antigos discos dessas mesmas bandas é, também, mais barato. Em primeiro lugar, se o CD nunca saiu no Brasil, o preço cobrado pela gravadora que licencia o título é quase o mesmo que o cobrado pelo mais recente trabalho da mesma banda.

Outro fator, para quem não sabe, é que no Brasil a quantidade mínima para prensagem é de 1000 peças, com raras exceções de fábricas que aceitam o pedido mínimo de 500 cópias, porém o valor para fabricar 500 é praticamente o mesmo que para fabricar 1000.  Então, por esse motivo, é difícil repor no catálogo um produto que vende só cinco peças por mês quando esgotar. 

O que quero explicar com os dois pontos anteriores é que, primeiro, se tomamos a data do lançamento desse título aqui no Brasil, para eles (a gravadora original) é um CD ponta de estoque e sendo assim o preço é mais barato e, segundo, se faz difícil prensar só 500 cópias para ainda ter o título no catálogo por não compensar monetariamente (nem para a gravadora e nem para o consumidor, especialmente). 

Quero deixar bem em claro que se tivesse absoluta certeza de vender a prensagem toda (1000 cópias) em seis meses, eu conseguiria vender mais barato. Por quê? 

Vou dar um exemplo específico: O CD “In War and Pieces” da banda alemã SODOM.

Para poder lançar no Brasil este título, no mesmo formato em que foi lançado no exterior – duplo Digipack - e no mesmo mês do lançamento lá fora, tive que fechar um contrato para 2500 cópias, acreditando que seriam logo vendidas. Em que me baseei? 

Na quantidade de CDs vendidos dos anteriores títulos, nas pessoas que foram nos shows (aproximadamente 5000 se contamos todas as cidades onde a banda tocou) e nas pessoas que vi usando a camiseta da banda (aproximadamente 1000 só no show de São Paulo). 

As primeiras 1000 cópias que fabriquei demoraram cerca de um ano e meio para ser vendidas. Vamos fazer uma conta simplificada: das 5000 pessoas que foram no show, tiramos 3000 somando as que foram em mais de um show, as que compraram o CD importado, as que compraram o download (legal) e as que ganharam o ingresso, restando 2000. Como é possível só ter vendido 1000 CDs em 18 meses? Se tivesse vendido as 1000 cópias nos primeiros seis meses, os custos operacionais da Shinigami Records seriam menores. 

E aí é que entra o problema dos downloads ilegais. Por não poder sustentar os custos que uma gravadora tem no dia a dia, cada vez serão mais limitadas as cópias que estão à venda, cada vez menos bandas (internacionais, nacionais, conhecidas ou desconhecidas) terão os seus trabalhos lançados no Brasil (e no mundo) e esse fato pode ser confirmado pelas pessoas que estão na cena um bom tempo: cinco ou seis anos atrás eram lançados no Brasil ao redor de 40 CDs de metal por mês. Hoje em dia, são lançados entre 6 e 10 álbuns do estilo. 

Para finalizar, atualmente, você encontra nas lojas CDs da gravadora entre 20 a 30 reais, mas isto depende – e muito – do custo de cada loja para manter-se aberta e não necessariamente da margem de lucro aplicada. Mas, eis aqui a pergunta: Qual o valor que você acha justo para pagar no CD?

Desde já, eu peço desculpas se alguém se sentiu ofendido com o exposto, nunca foi essa a minha intenção. Não me acho o dono da verdade, mas queria expor aqui alguns fatos que talvez sejam desconhecidos para a maioria das pessoas.

Aguardo os seus comentários e tentarei responder a todas as dúvidas. Só uma condição: respeito sempre.

Atenciosamente, 

Willian Sakamoto
Shinigami Records



Willian Sakamoto é o proprietário do selo discográfico Shinigami Records. Formado em Administração, começou o seu trabalho no mercado fonográfico no ano 1998 com sua distribuidora 3 Elementos, trabalhou no departamento de vendas da Century Media e Dynamo Records. Em 2009, fundou a gravadora Shinigami Records, que tem lançado, até o momento, mais de 70 títulos como os últimos trabalhos de bandas consagradas como ICED EARTH, DEICIDE, LACUNA COIL, GOD DETHRONED, entre outras.

Em 2012, a gravadora lançou a Coletânea Hellstouch para ajudar na divulgação de bandas brasileiras.
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