14 de fev. de 2013

Produtoras de Eventos – O que elas fazem (Entrevista com Edu Lane)



O Metal Samsara tem a responsabilidade não só de informar aos leitores, mas ao mesmo tempo, de trazer à luz informações preciosas que, muitas vezes, nos passam despercebidas.

Assim, com a gentil ajuda de Edu Lane, baterista do NERVOCHAOS (que não é o tema central desta entrevista. Mas em breve será) e mente por trás da Tumba Productions, produtora que trouxe vários nomes fortes do underground mundial ao Brasil nos últimos anos, como GORGOROTH, BELPHEGOR, AUTOPSY, KEEP OF KALESSIN, HATE ETERNAL e outros, e fomos saber de informações sobre este universo.

Apesar da Tumba Productions ter encerrado suas atividades, fica a experiência de vida de nosso amigo e irmão do Underground.

Edu Lane, Chris Reifert (AUTOPSY) e Leandro

Metal Samsara: Edu, antes de tudo, conte-nos um pouco da história da Tumba Productions.

Edu: Eu comecei a TUMBA em 96 com a ideia de movimentar e fazer algo pelo cenário Brasileiro. Na época não existiam shows internacionais de bandas extremas e o cenário nacional de música extrema estava engatinhando ou nascendo, ou seja, era muito complicado agendar uma turnê ou mesmo realizar um show de música extrema....não haviam lojas ou selos focados na música extrema e tudo era muito mais difícil e inédito no Brasil. Como sou fã de música extrema, sentia a necessidade de ir a shows, comprar material de bandas deste estilo e etc...daí resolvi montar a TUMBA, com foco exclusivo na música extrema e assim comecei. Primeiramente, dei inicio fazendo uma distribuidora (mailorder) para logo na sequencia começar agendando shows/turnês e logo em seguida montar um selo. Tudo isso exclusivamente para a música extrema. Com o tempo, a distribuidora foi crescendo e montei uma loja na Galeria do Rock, a primeira dedicada exclusivamente a música extrema. O selo também era dedicado a lançar somente bandas nacionais do cenário underground. Com o tempo, fechei a loja, a distribuidora e logo em seguida coloquei o selo num hiato; fazer somente lançamentos esporádicos, pois deixou de ser o meu foco e eu precisava de mais tempo para me dedicar melhor ao agendamento de shows/turnês pelo Brasil e pela América Latina e as minhas outras atividades.


Metal Samsara: Uma das perguntas mais frequentes sobre as produtoras de eventos é sobre como é feita a captação de recursos e contato com bandas. Pode nos contar como é isso, e como lidar com todas as despesas, e aproveite e explique-nos os motivos de certas datas serem, muitas vezes, em dias ruins, como os de meio de semana.

Edu: Acho que são duas perguntas distintas em uma só. No inicio foi muito complicado o contato com as bandas, em especial pela falta de histórico do mercado Brasileiro (e a minha, é claro). Graças ao pessoal do KRISIUN (cujo trabalhei por alguns anos) tive os primeiros contatos com bandas extremas internacionais, ou seja, indicação mesmo. Como a TUMBA sempre foi totalmente idealista, faço somente bandas que eu gosto e que pessoas próximas (assim como o KRISIUN) me indicam como profissionais e de 'fácil' trato. Com o tempo, eu adquiri mais experiência e conhecimento, fazendo assim um 'nome' o que facilitou bastante o trato, a negociação e o contato com as bandas. A captação de recursos sempre foi própria, pois eu tenho um trabalho fixo que me garante uma segurança no caso da turnê (ou do show) ter prejuízo, não contando somente com venda de ingressos (um dos maiores erros cometidos por produtores) para pagar as contas. Até porque, nunca houve interesse algum, por parte de patrocinadores, em apoiar esse tipo/estilo de música. No passado também tentei algumas parcerias, com selos de METAL, que não funcionaram. É um segmento muito especifico, de alto risco e com poucas pessoas (no Brasil) que realmente acreditam e fazem algo por ele.

Edu e Vyl (KEEP OF KALESSIN e GORGOROTH)

Metal Samsara: Em termos de exigências de bandas, quais as mais comuns e quais as piores de serem atendidas? Isso chega a ser algo estressante, em certas horas? Sem citar nomes, qual foi a exigência mais difícil que teve de atender nesses anos todos? E poderia nos falar de algum evento que realmente foi difícil de lidar, ainda sem falar em nomes?

Edu: Como eu trabalho com um segmento especifico, as exigências são mais ou menos iguais e nada muito fora do tradicional. As bandas basicamente querem que os voos sejam pagos (antecipadamente), vistos sejam tirados (caso necessário), um hotel descente (limpo, seguro e próximo do local do show), um transporte adequado, um equipamento de palco (backline) bom, uma equipe decente (roadie, tour manager,...), o cachê seja pago e o básico de refeições e bebidas. Ser Underground não é aceitar qualquer coisa ou ser tratado com descaso. Quando me aventurei a agendar bandas de Thrash Metal (em especial as dos anos 80) as exigências já aumentam consideravelmente e esse foi um dos motivos que deixei de agendar shows/turnês para essas bandas. Acredito que a banda precisa ter 'força' (ou seja, trazer público) para poder demandar certas coisas e não só solicitar/demandar mais coisas/exigências só porque viveu um passado de glória (mas atualmente não tem a mesma 'força'). As mais difíceis e piores (em termos de exigências e nível de estresse) bandas que trabalhei foram o W.A.S.P. e o DESTRUCTION. Todas as demais, é sempre muito prazeroso de se trabalhar e muitas bandas acabei desenvolvendo uma relação que transcende os negócios e hoje somos amigos independente dos negócios.

Edu com GORGOROTH

Metal Samsara: Um dos eventos que sabemos estar sempre associado à Tumba Productions é o Setembro Negro, que ocorre todo ano desde 2002, se não nos falha a memória. Como se dá o planejamento de tal evento? E quando começam os preparativos para a versão do ano vindouro?

Edu: É verdade. Criei dois (EXTREME METALFEST e o SETEMBRO NEGRO) festivais anuais, mas o SETEMBRO NEGRO se destacou e se solidificou. Eu sempre acreditei em planejamento, então o quanto antes começar o processo de agendamento e toda a logística de uma turnê, melhor. A escolha do 'cast' é o primeiro passo. Baseado nisso, a escolha do local e o agendamento das demais datas. Daí é um lance mais técnico, com muitos detalhes... funciona como um dominó. As chaves são planejamento e antecipação.


Metal Samsara: Essa pergunta é um pouco chata, mas necessária: como uma produtora de eventos consegue ter retorno financeiro? 

Edu: Nem sempre. O 'showbusiness' é um negócio de alto risco e não se consegue ganhar sempre. As vezes você ganha, as vezes empata e as vezes perde. É um negocio como outro qualquer, mas de alto risco e não de primeira necessidade.

Edu e Luciano Piantonni (Rock Brigade/LP Metal Press, Hard and Heavy) com os irmãos Donald e John Tardy (OBITUARY)

Metal Samsara: Aproveitando a deixa, quais são os próximos eventos que estão confirmados, e outros que planeja. Isso sem falar no Setembro Negro 2013, se é que o mundo vai passar de 2012 (risos).

Edu: Após a turnê com o TANKARD e o WAR-HEAD agora em Janeiro, eu estou encerrando as atividades da TUMBA. Após 17 anos dedicados ao cenário nacional e em especial a música extrema, acredito que os meus objetivos foram todos atingidos e que o ciclo está concluído. É hora de seguir em frente, tendo assim, mais tempo para me dedicar e focar nas atividades da banda e a minha família.


Metal Samsara: Sem criar polêmicas, mas você já tem uma longa experiência na produção de eventos de nível internacional, logo, tem uma visão bem aprofundada da coisa, então, na sua visão, o que teria dado errado no Metal Open Air? E por falar nisso, já não está na hora de pessoas honestas e dignas como você e outras produtoras tentarem algo do gênero? Seria ótimo para todos nós!

Edu: Com certeza seria ótimo e espero que role algo assim num futuro próximo. É difícil dizer o que realmente aconteceu com o M.O.A., mas acredito que foram uma soma de fatores, em especial a falta de honestidade e de caráter por parte da produtora em questão. Mas, eu ainda acho que a maior dificuldade no Brasil é mesmo a passividade e a memória curta do povo Brasileiro, em especial daqueles que compõem a nossa cena. Enquanto houver apoio por parte do público e das bandas, esse tipo de pessoa/produtora sempre irá existir e se aproveitar disso, alem de dificultar bastante o trato com os 'gringos' para aqueles que trabalham de forma correta. Mudam os 'palhaços' mas o 'circo' é o mesmo.


Metal Samsara: Edu, todo mundo sabe que você divide sua agenda entre os eventos da Tumba Productions e o NERVOCHAOS, então, é muito difícil conciliar ambos?

Edu: Sim, bastante complicado e muito corrido, mas não acho que isso seja o pior. O pior mesmo é lidar com uma pequena parcela do público, que não faz ideia alguma de como funcionam os bastidores (seja de uma produtora ou de uma banda), não apoiam verdadeiramente o cenário (ou a cena) e só sabem criticar (sem ser criticas construtivas) e tentar prejudicar/atrapalhar....o que eu chamo de 'espírito de porco'. Ou não reconhecem o trabalho idealista feito em prol de toda cena ou creem que a banda toca em determinados eventos não por credibilidade e merecimento, mas sim por eu ser da TUMBA. Isso só mostra o tamanho da falta de conhecimento, a falta de comprometimento e apoio verdadeiro a cena.

Edu com AD HOMINEM

Metal Samsara: Tá, já sabemos que vão ter leitores perguntando ‘Pô, mas nenhuma pergunta sobre o NERVOCHAOS’, então, vamos nós: o que podemos esperar de ‘To the Death’? Já existem datas para shows acertadas fora de São Paulo?

Edu: O CD foi lançado ano passado pela Cogumelo e acredito que seja o nosso melhor trabalho até o momento. Estamos trabalhando forte na divulgação e promoção deste novo CD. Começamos a turnê no inicio do ano passado e vamos seguir com ela até o fim deste ano. Fizemos alguns shows em São Paulo no ano passado e é claro pretendemos fazer mais alguns esse ano.

Metal Samsara: Agradecemos pela gentil atenção, então, deixe sua mensagem para os leitores do Metal Samsara, e se prepare, que em breve, vem uma entrevista com o NERVOCHAOS, ou seja, ainda vamos te alugar por um tempo (risos).

Edu: Eu é que agradeço pela entrevista interessante e agradeço demais pelo apoio. O NERVOCHAOS está a disposição para uma entrevista quando você quiser. Valeu!


Edu Lane e Marcos Garcia, durante o Setembro Negro 2012, em SP






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