12 de ago. de 2012

Dêem a Mão a quem Necessita – A Dicotomia Metal X Religião (Opinião)


Por Marcos Garcia

Há algum tempo, os olhos nas redes sociais cansam de ver ou pessoas em pregações religiosas, ou contra as mesmas no mesmo fundamentalismo, e este que vos escreve fez um manifesto, postado no Facebook, mas acreditando que ele pode ser de valia a muitos, houve a resolução de transformá-lo em uma matéria para que o Metal Samsara possa ser não apenas um espaço para resenhas, notícias e comentários, mas um formador de opinião sério, como é sua proposta.
A cada trecho das palavras do autor, que sou eu (e vejam: raramente uso a primeira pessoa do singular, por questões profissionais, mas abandono o recurso em prol de uma causa que muito vale, até mais que minha própria vida), tecerei comentários explicativos quando necessário, para manter tanto a autenticidade do texto original, bem como para elucidar as palavras que escrevi.
“Vou abrir meu coração: Estou FULO DA VIDA e TRISTE com a BURRICE e HIPOCRISIA de muita gente que anda com bíblias embaixo do braço, cruzes nos pescoços (em pé ou reversas), carregando imagens em procissões ou as destroem em shows, ou com pregos, couro e tarrachas, MAS NÃO ERGUEM UM DEDO EM PROL DOS MAIS NECESSITADOS, fugindo deles ao menor sinal, sentido nojo ou afirmando que não é sua responsabilidade!”

A tristeza assola meu coração há tempos, porque de um lado estão os religiosos de várias denominações cristãs com suas pregações em prol de suas religiões, como se elas pudessem dar algo ao mundo em troca de uma adesão ao projeto divino ao qual defendem; do outro, ateus e Headbangers defendendo a necessidade do fim das religiões, pois estas seriam órgãos de alienação em massa, da pacificação de cordeiros, e buscam também aumentar sua legião de seguidores. Ambos têm plenas condições de exigirem melhorias ao mundo, pois são igualmente numerosos, mas preferem se exaurirem em preces e cultos, missas e procissões, bem como em shows, bebedeiras e orgias sem fim, sem que alguma delas se preocupe de fato com os problemas sociais que assolam a humanidade, que destroem a face da Mãe Terra, pois a atitude de agir não está em suas práticas. Aliás, alguns de ambos os grupos chegam a zombar e desprezar os mais necessitados, inclusive se for de formas de fé diferentes, ou de estilos diferentes de Metal.
“Falar no nome de seu mestre (seja Jesus, Buda, Maomé, ou mesmo você próprio) é simples, mas basta ler a bíblia um pouquinho (sim, a li e leio de vez em quando. Não sou um tolo fundamentalista com mania de Nietzsche, a quem já li até a exaustão e vi que não é uma verdade absoluta. O Super Homem é um mito.), e nos evangelhos, vê-se que Jesus (independente do que acreditemos) vivia entre os marginalizados, curando, ouvindo e auxiliando aqueles QUE VOCÊS REJEITAM COM ASCO! Mesmo os filósofos humanistas falavam da necessidade de ajudar os que necessitam, e ainda assim, os ateus, satanistas ou sei lá mais que raios se denominam, são omissos! Tanto quanto os cristãos, a quem dizem odiar e serem opostos!
NÃO AGUENTO MAIS TANTA HIPOCRISIA, TANTA BURRICE, TANTA FALSIDADE!
Não passam de um bando de pedros, que o negam e só sabem ser fundamentalistas, ou de paulos, teóricos que puseram palavras onde havia ação em prol dos que sofrem! No lado do Metal, Euronimous, Vargs e outros que surgem aos montes, mas se afogam no prazer e no egoísmo, e não olham o próximo! É a mesma atitude tosca, um reflexo em um espelho, nada mais!”

O fruto das religiões em seus fiéis é, em geral, o fundamentalismo, como se somente uma expressão religiosa fosse a certa. No lado do Metal, ocorre a mesma coisa. E o resultado das diferenças, em geral, termina em guerras locais, com ofensas, e algumas vezes, em agressões físicas. E se olharmos a vida dos homens centrais das religiões, como Jesus de Nazaré e outros, bem como de muitos filósofos humanistas (ateus), o ativismo em prol do ser humano sempre foi a tônica de sua pregação. As palavras de Jesus, especialmente no Sermão da Montanha e quando fala no ‘amar a Deus antes de tudo, e depois ao próximo’ ilustram este belo ativismo, indo de encontro aos que necessitam, já que Jesus curou, alimentou e ouviu a todos, não importando se era algo pequeno ou algo gigantesco. Ele sempre ouvia a todos com um sorriso no rosto e sem se aborrecer com aqueles que precisavam. Mas o cristão de hoje, em sua maioria, é omisso na maior parte das vezes em que ele é necessário, assim como os que buscam o ateísmo o fazem para se livrarem desta tarefa árdua. E sobre o pensamento Nietzscheano, ele não reflete uma realidade, é apenas uma imensa perda de tempo, uma masturbação mental que engana a muitos como a própria bíblia, pois que Super-Homens são esses que estão no mesmo barco que o rebanho que tanto desprezam?
Isso invalida a práxis filosófica, bem como as palavras cristãs perdem o sentido. O ativismo amoroso dá espaço ao fundamentalismo rígido (a figura de Pedro é citada por este motivo), e o homem amoroso que sabia sorrir e socorrer é transformado em um deus opressor, que só sabe dar amor se for obedecido cegamente, mas esta é a visão de um fariseu (Paulo de Tarso era um, sendo inclusive discípulo do saduceu Gamalieu). Aliás, a visão no Metal é idêntica ao farisaísmo, pois colocam pesos absurdos de dogmas nos novatos, mas não lhes confere a liberdade de muitas opções de vida, sendo uma a de culto, ou a de agir em prol de quem precisa.
Aqui, há também uma revolta enorme: canso de ouvir citações da bíblia, ou frases prontas saídas da boca de homens comuns, mas tanto uma como a outra são vazias de sentido sem a ação. Marchas para Jesus, evangelização de casa em casa, cultos e missas em praça pública, bem como procissões e as inserções na mídia não ajudam em nada sem a ação em prol de quem precisa. No Metal, as brincadeiras com isso chegam a ser enojantes, pois igualmente são vazias de sentido. E o necessitado continua com frio e fome nas ruas...

“Me dói ver uma criança de rua com fome, um idoso bêbado, uma mulher agredida por seu companheiro, e o pior de tudo: DÓI DEMAIS EM VER SUA AMALDIÇOADA OMISSÃO! Nem sua hipocrisia me incomoda mais que isso!
Não ajudam, e não lutam contra a causa real disso: o MALDITO SISTEMA! Pelo contrário, se enfurnam ainda mais na lama que os corruptos criam, e sem se queixarem!
Elegem uma bancada religiosa, basta um calhorda pôr uma bíblia embaixo do braço, e vocês vão atrás dele como um bando de cordeiros!
E nós no Metal os criticamos, mas cadê as ações em prol de quem precisa, que seria a conscientização de quem realmente precisa? Caíram de pau em Nergal quando ele foi conversar polidamente com o cara do As I Lay Dying, mas o fazem por FUGA, pois TÊM MEDO DE UM DEBATE ABERTO! TANTO QUANTO O OUTRO LADO TEM!”

A omissão de quem nada faz, e que piora ainda mais o mundo, é algo que me enoja profundamente. E aqui surge o verdadeiro vilão: o sistema.
As pessoas odeiam-se por religiões e opiniões diferentes, lutando contra as consequências, ou seja, se alguém se entope de drogas e álcool e se mata assim, bem como outros são vítimas da pedofilia e estelionato, é culpa de péssima formação humana (que deveria ser dada pelas famílias) e uma educação porca, dada pelo estado. E este ainda aliena com programas televisivos e eventos de massa, como bailes funk, jogos de futebol e carnaval, destruindo ainda mais a mente humana.
Até a chamada bancada protestante é uma farsa, que apenas visa ganhar dinheiro e defender interesses de igrejas, que distam em anos-luz do que aquilo que foi preconizado por Jesus de Nazaré. Não se vota em alguém por interesses religiosos ou por vantagens oferecidas, mas pela seriedade de projetos em prol do povo. E não adianta dizer que todos são iguais. Se procurarmos, encontraremos pessoas boas.
Os religiosos e bangers se temem mutuamente no tocante ao debate religioso aberto, à conversa aberta feita de forma pacífica e calma, e qualquer atitude em prol disso é recebida com escárnio e agressividade por AMBOS os lados, mas essa raiva é fruto do medo de serem ridicularizados por argumentos sérios, como no episódio entre Nergal do BEHEMOTH (Graduado em História e habilitado para ser curador de museus pela Universidade de Gdańsk, caso não saibam) e o cara do AS I LAY DYING. Oras, um padre ou um pastor são homens estudados, com grandes conhecimentos, bem como alguns Bangers, logo, se conhecem, mas evitam a conversa por medo e receio de serem agredidos (verbal e fisicamente). Um medo que está aniquilando o mundo... 
Um medo que pode ser dissolvido pelo amor...

“Então o Metal virou desculpa para não se incomodar com as injustiças, para encher a cara e falar besteiras uns dos outros? Vocês não possuem parentes cristãos que amam? Por favor, olhem para o ser humano... Somos todos irmãos, por mais que não entendamos uns aos outros, por mais que não queiramos ouvir o que um tem a dizer ao outro... Por mais que não nos aceitemos em nossas vicissitudes, porque estas manias de evangelizar no cristianismo ou ateísmo não passam de fundamentalismo, de uma arrogância que clama por hegemonia, e que mataria completamente a diversidade e transformaria o mundo em um pesadelo de guerras e sangue inocente derramado por nada... Não desejo ver uma nova guerra com armamentos atômicos, riscando a vida da face da Terra, pois amo a paz. Não quero ver uma criança desnutrida no colo da mãe na África porque um mauricinho quer ter carro com som alto no Brasil, uma guitarra importada de primeira linha, ou bancar novas igrejas. Isso tudo não tem valor diante do amor... Um amor mais profundo pelo nosso semelhante...”

Aqui, surge o apelo: que saibamos respeitar as vicissitudes de cada um nós, pois a hegemonia que se vê em ambos os lados é fruto da egolatria dos tempos atuais. Em um mundo onde houvesse apenas uma forma de pensar ou apenas uma religião, a vida seria insuportável, não importando o quão bom ambos os lados se vejam, pois iriam apenas subverter o pensamento de outrem. E a busca pela hegemonia sempre termina em guerras, e os mais prejudicados são os pequenos. Os grandes senhores do sistema não colocam a cara nos campos de batalha, bem como não são seus filhos que irão morrer.
E todos nós temos parentes religiosos, mas creio que os amamos de forma inquestionável, então, como poderíamos querer destruir cristãos? Vocês matariam seus pais e irmãos em prol de um estilo musical?
Se sua resposta for afirmativa, seu lugar não é em shows de Metal, mas em um hospício, ou melhor, em um presídio!

“Falar em letras em inglês para um povo que mal sabe nossa língua pátria NÃO ADIANTA! É OMISSÃO E ARROGÂNCIA! HAJAM, POR TUDO QUE É MAIS SAGRADO OU PROFANO!
Nisso, as igrejas já fazem algo, porque por mais que não queriam saber, a maior manutedora de obras caridosas no mundo é a Igreja Católica. Ela errou, historicamente falando?
Muito, e sei bem mais que a maioria que fica berrando em shows de Metal, mas foi (e ainda é) quem mais faz bem aos que precisam, cuidados de órfãos gerados em relacionamentos vazios (muitos deles dentro do Metal, sabiam?), de idosos abandonados por filhos ingratos (e que aos montes que se encontram sentados nos bancos de igreja), cuidado de dependentes químicos, mantendo faculdades (a PUC dá várias bolsas e isenções aos mais pobres). Algumas igrejas protestantes também o fazem, em escala menor, bem como centros kardecistas e umbandistas.”

Aqui, falo de uma propagação omissa de uma verdade. Cantar em inglês para um povo que nem conhece os rudimentos de nossa língua é algo, no mínimo, de mau gosto.
E reconheço o valor das obras religiosas de caridade de pessoas como Chico Xavier, Irmã Dulce, Zilda Arns, Madre Tereza de Calcutá e outros religiosos que, a exemplo de  Francisco de Assis, devotaram suas vidas em ajudar os menos favorecidos com vidas de serviço e amor. Bem como tenho amigos no Metal (até dentro do Black Metal) que estão engajados em trabalhos sociais, em levar um pouco de ajuda especializada àqueles que pouco ou nada tem. 
Mas uma caridade maior é a de exercer um direito que todos têm: o de votar em candidatos com programas bem delineados e com cronograma de ações. Promessas de campanha o vento leva, bem como não se vota em candidatos que lhe deram algo. Voto não é para pagar dívidas...

“Um prato de comida, um ouvido amigo a quem precisa, ajudar a pessoa a buscar algo melhor, visitar crianças e velhinhos em orfanatos e asilos, que transbordam de alegria quando alguém de fora os visita, tudo isso, TUDO, é ajudar a construir um mundo melhor! A alegria de um sorriso de quem está sofrendo é algo tão belo, tão suave, que nenhum louvor, culto, missa ou show terá esta mesma intensidade...”

As formas de ajudar quem precisa são inúmeras, e ao mesmo tempo, podemos praticá-las todos os dias sem problemas, então, somente nossa inércia conivente pode nos impedir de auxiliar.
“Por favor, acordem desse pesadelo de omissão... Metal ou igreja, vocês lutam contra ilusões que criaram, contra as consequências de suas próprias ações, e nunca contra a causa verdadeira, que eu não queria dizer, mas o desespero que sinto me faz dizer a verdade: os culpados são os governos do mundo, que oprimem e destroem aquilo que há de mais belo na natureza, que é o ser humano, seja fruto da evolução ou de uma criação divina... Usam a igreja para pacificar os religiosos, mas a atitude atual dos fãs de Metal é diferente? Novamente o espelho mostra o reflexo distorcido, mas ainda assim, reflexo!”

Questiono as ações de ambos os lados, mostrando que, no fundo, ambos são iguais em suas omissões, bem como imploro para que saiam disso e façam o melhor por todos, despindo-se de sua forma de pensar tosca em prol de quem precisa, bem como chamo a atenção para o real vilão do mundo: os governos.
Este ano há eleições municipais, logo, poderemos mudar as coisas e começar uma virada de mesa, se todos pensarmos em uníssono em prol do bem.


“Querem me chamar de falso, de White, de demônio por eu pôr isso para fora? 
FAÇAM ISSO À VONTADE, DANEM-SE, pois não vou retroceder um milímetro em minhas convicções!
Tal ato será apenas reflexo da prisão em que vivem enfurnados acreditando que estão salvos ou felizes, da tortura que se submetem todos os dias para sufocar a voz que vem lá do fundo e incomoda, aquela coisinha chamada de 'consciência', algo que os cristãos atribuem ao Espírito Santo, e os ateus a nossa condição de ser consciente de nossa capacidade de pensar...”

Chamar-me de ‘demônio’ (os fanáticos religiosos) ou ‘white’ (os bangers ateus fundamentalistas) não significa nada para mim. Não me soam como ofensas, tamanho grau de estabilidade mental que alcancei, mas este ato de ofender alguém por representar o posto de suas idéias é reflexo da prisão em que se colocam e não querem fugir. 

“Perdoem-me pelo desabafo, mas há dias carrego essa dor comigo, essa tristeza enorme, e a cada palavra, meus olhos se enchem de lágrimas, um desabafo de uma pessoa que sofre em ver tantos erros, e que luta todos os dias, mesmo com poucas armas e possibilidades, em um mundo cheio de vaidades pessoais. E me repreendo duramente quando não acudo quem precisa, pois fica me doendo dias a fio...
Será que sou o único a quem esta dor consome”?

Estas palavras que encerram o texto são claras, não necessitando de maiores esclarecimentos... 
Peço novamente: por favor, façam o bem a quem precisa, lutem pela paz, sem ficarem apenas orando ou berrando por ela, e pela igualdade entre os homens de direitos e deveres, e nem que seja nas pequenas coisas de todos os dias... 
Quem tem fome, frio, necessidades quaisquer, ou mesmo carências afetivas, tem pressa e não quer saber se a mão que o ajuda é cristã ou banger, mas apenas que seja a mão que o ajude, então, estendam suas mãos e corações para eles...

Aproveito o texto e coloco entidades e ações para que ajudem aqueles que precisam:

https://www.pastoraldacrianca.org.br (Pastoral da Criança)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Farinha_m%C3%BAltipla (receita da Farinha-Múltipla da Dr. Zilda Arns)

Mas se necessitam de mais informações, em geral centros espíritas kardecistas mantém ações em prol dos pobres, bem como realizam as campanhas do quilo, mesma ação mantida pelo grupo católico dos Vicentinos. Ou podemos gerar eventos que visem a arrecadação de alimentos e agasalhos, que seriam repassados à instituições sérias.

ॐ ॐ ॐ
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