Cogumelo Discos - Nacional
Nota 10
Por Marcos Garcia
1985 foi o ano em que, enfim, o Metal brasileiro começou de fato a se fortalecer e pôr a cara para bater diante das bandas vindas de fora, ventos vindos do primeiro Rock in Rio, acontecido em Janeiro, inundando as fileiras de fãs de novos seguidores.
Na verdade, alguns corajosos já enfrentavam as dificuldades impensáveis para os mais jovens no meio underground da época, como falta de instrumentos e equipamentos decentes, tendo que se virar muitas vezes com instrumentos nacionais muito ruins, estúdios sem bons equipamentos e engenheiros de som totalmente despreparados para conseguir captar o som de bandas de Metal como ele bem merece, e isso fora o fato de que as gravadoras grandes não davam nenhum tipo de apoio às bandas de fora que não fossem as unanimidades da época como Kiss, Iron Maiden, AC/DC e outras (e mesmo assim com prensagens bem limitadas), quanto mais as daqui. Somente o Stress teve apoio da Polygram para gravar o Flor Atômica, e mais ninguém. E isso sem falar que preços de instrumentos importados eram um assalto.
As gravadoras independentes tentavam aos trancos e barrancos darem força à cena, mas era difícil, ou melhor, quase impossível destruir as barreiras da época, mesmo porque a maioria das bandas daqui não estava tão emparelhada com o underground de fora, já que muitas ainda nem haviam entrado em uma sonoridade mais NWOBHM, mas focavam o Hard’n’Heavy dos 70, bastando observar a SP Metal I, e verão que somente o finado Vírus era mais agressivo, enquanto as outras (Centúrias, Avenger e Salário Mínimo) ainda faziam um Hard'n'Heavy bem setentista. Óbvio que já existiam bandas como Dorsal Atlântica, Korzus e outras fazendo trabalhos bem antenados com o que estava acontecendo no exterior na época, mas estas passavam péssimos bocados para poder levar seu trabalho adiante.
Até que em 1985, a Cogumelo Discos, uma loja que resolveu se transformar em selo, deu uma oportunidade a duas bandas da época para gravarem em Split em vinil, as duas mais conhecidas da região de BH: Overdose e Sepultura.
Ambas já arrastavam uma legião de fãs, então ambas foram postas em apenas dois dias no J.G. Estúdio, para gravar e mixar aquele que seria um dos trabalhos mais importantes do Metal nacional, ao lado do primeiro do Stress: Século XX/Bestial Devastation.
De um lado do vinil, o Overdose, que já tinha uma Demo Tape com uma única faixa lançada na época (Última Estrela, uma das canções mais famosas e pedidas da banda) disparava um Heavy/Power Metal de primeira linha, bem trabalhado e pesado, com ótimos vocais, guitarras muito bem tocadas tanto nas bases quanto nos solos (que tinham uma veia bem clássica), e cozinha baixo/bateria pesada, e em suas três músicas, que eram Anjos do Apocalipse, Filho do Mundo e Século XX, marcaram história por mostrarem uma musicalidade nunca antes visto por aqui, e com temas que refletiam a realidade em suas letras; o Sepultura, por sua vez, destilava o primeiro disco de Death Metal brasileiro, em suas quatro músicas (já que The Curse é uma introdução onde Vladimir Korg, então no Chakal, fez as honras na voz), Bestial Devastation, Antichrist (cuja letra é de Wagner, do Sarcófago), Necromancer e Warriors of Death, mostrando brutalidade, garra e força, apesar da pouca técnica, mas vale por ouvir a voz esganiçada de Max, as bases brutas de Max e Jairo, os solos ‘guitarra-quebrada’, e a base baixo-bateria de Paulo e Igor. A gravação não era lá essas coisas, mas deixava claro que existia Metal de primeira linha por aqui, e isso abriu muitas portas.
Graças a este Split, surgiram várias gravadoras independentes nacionais dispostas a apostar suas fichas em bandas nacionais, bem como fortaleceu as já existentes, e no ano posterior, 1986, várias bandas que só aportavam por aqui via CDs importados, começaram enfim a ter seus trabalhos saindo ou por gravadoras grandes ou independentes (provavelmente a estabilidade econômica causada pelo Plano Cruzado tenha ajudado um pouco nesse aspecto), e as bandas de fora começaram a se corresponder com as nossas, e este mesmo Split virou item obrigatório em coleções daqui e de fora.
Sem bairrismos, mas o mais interessante é que justamente duas bandas fora do eixo RJ-SP causaram uma revolução tão grande que ecoa até os dias de hoje.
Logo, antes de muito radicalzinho de menos de 30 anos se achar o sabichão e insultar os nomes dessas duas bandas, de seus membros e ex-membros, faça um favor a si mesmo e cale a boca, pois estas fizeram muito pelo Metal nacional, pois sem elas, o mesmo não existiria.
Ah, aproveitem e votem no Viradão Cultural de BH pela volta do Overdose, pois a banda está querendo voltar, mas necessita de nosso apoio, logo, façamos nossa parte: VOTE NO OVERDOSE para o Viradão Cultural de BH.
Overdose – Século XX
01. Anjos do Apocalipse
02. Filho do Mundo
03. Século XX
Formação:
Pedro "Bozó" Amorim – Vocais
Cláudio David – Guitarra solo
Ricardo Souza – Guitarra base
Fernando Pazzini – Baixo
Helio Eduardo – Bateria
Sepultura – Bestial Devastation
01. The Curse
02. Bestial Devastation
03. Antichrist
04. Necromancer
05. Warriors of Death
Formação:
Max "Possessed” – Vocals, Guitarra base
Jairo "Tormentor" – Guitarra solo
Paulo "Destructor" – Bass
Igor "Skullcrusher" – Bateria