18 de jul. de 2014

Resenha: Unearthly - The Unearthly (CD)

Nota 10,0/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Ser uma banda veterana nem sempre é algo simples, pois é preciso lidar com a dualidade "manter personalidade X evoluir sempre", o que nunca é algo simples. Muitos gigantes já escorregaram feio nisso em anos passados. Mas há sempre quem mostra ousadia e faz diferente, mantendo as raízes de seu trabalho, e o quarteto carioca UNEARTHLY realmente abusa de surpreender fãs e crítica, disco após disco mantendo-se firme, e sempre sabendo criar dentro do universo Death/Black Metal que criaram para si. E "The Unearthly", que a Shinigami Records lança agora, veio ao mundo para ser um disco cotado para estar entre um dos melhores de 2014, sem desculpas.

O grupo mostra uma faceta mais seca e bruta do que vimos em "Flagellum Dei", caprichando em climas soturnos e densos, mas sabendo dar uma diversidade musical maior que antes, e os elementos regionais de antes estão mais evidentes sob a opressividade sonora que o quarteto criou. Ao mesmo tempo, é incrível perceber o salto qualitativo em termos de técnica musical, pois tudo está em níveis bem altos: os vocais deram uma melhorada em termos de tons mais rasgados, e a dicção de F. Eregion está perfeita; as guitarras chegam a ser abusivas em riffs extremamente bem construídos e na presença mais evidente de solos carregados de melodias, em um trabalho ótimo de Vinnie Tyr, baixo e bateria estão com uma pegada muito pesada, mas ao mesmo tempo com uma diversidade rítmica assombrosa, mostrando que M. Mictian e B. Drummond se entendem bem. E isso tudo somado a uso de violões, percussões e alguns instrumentos não muito convencionais ao Metal extremo tornam "The Unearthly" um disco superior a seu antecessor.

Gravado e mixado no estúdio AM, no Rio de Janeiro, com produção de F. Eregion, Fernando Campos e B. Drumond, mais a masterização de George Bokos (ex-guitarrista do ROTTING CHRIST) no Grindhouse Studios, em Antenas (Grécia), a sonoridade de "The Unearthly" foge do ponto comum por ser mais seca e direta, mas ao mesmo tempo, deixa os aspectos mais Black Metal da banda em evidência, sem retirar o peso opressivo que é constante, e muito menos a clareza dos instrumentos, ainda mais que percussões e outros não tradicionais estão presentes e bem audíveis.

Já a arte é um trabalho de M. Mictian e F. Eregion mais uma vez, mas agora, eles preferiram algo mais simples e funcional do que a banda já utilizou antes, mas mesmo assim, incorpora totalmente o conteúdo musical, e também as letras merecem uma menção especial, uma vez que o grupo preferiu usar uma abordagem mais sobrenatural dessa vez, falando da relação do ser humano com a fé e seus símbolos, algo um pouco diferente do que vemos por aí.

Unearthly
Em termos de composição, o disco é o projeto mais ousado no quarteto desde "Blessed are the Destroyers of False Hope", seu primeiro Demo CD, já que realmente a proposta foi expandir fronteiras, pois as regionalidades que a banda usa realmente são uma inovação bem grande, bem como a estrutura de arranjos está muito bem cuidada. Não há espaços vazios, e isso deixou a música do grupo compacta, sendo ainda que outro ponto forte é que a banda usa bastante ritmos mais cadenciados e ótimos refrões, tornando a música do quarteto mais envolvente e de fácil assimilação.

O disco já abre de forma grandiosa com "The Sin Offering", uma canção com clima denso e andamento mais cadenciado e pesado, com riffs rasgados, e belo trabalho da bateria (que no disco está fantástica em termos técnicos), mais toques regionais e ótimo refrão. Ela é seguida da excelente "The Confidence of Faith", outra pancada mais lenta e abrasiva (embora existam momentos mais rápidos), com grande trabalho das guitarras (reparem no uso de melodias bem evidentes no solo) e belas declamações dos vocais, que são o grande destaque de "Eshu", introduzido por um canto comum nos terreiros de Quimbanda, para então virar um pesadelo sonoro com conduções em velocidade mediana, usando não só de letras em português, mas também de toques e levadas rítmicas regionais típicas do Brasil. Em "The Unearthly", mais uma vez o uso de ritmos alternados e ótimos riffs e refrão muito bem caprichado, que se ouve uma vez e fica na cabeça (bem como os timbres vocais mudam de guturais a rasgados sem pudores). O uso de vocais femininos em meio ao abuso de "Agens Mortis", participação especial de Maria Fernanda Cals (do INDISCIPLINE), além da dinâmica ganchuda da faixa em si. "Chant from the Unearthly Rites" é uma instrumental de violões, maracás (o que aparenta a este autor, mas sem certeza se é ela ou outro chocalho), tambores tribais e sintetizadores bem soturna e de clima opressivo, preparando o ouvinte para "Where the Sky Bleeds in Red", outra faixa bem intensa e abrasiva, com a bateria caprichando nas conduções e mudanças de ritmo (além de belo uso e variações de bumbos duplos e caixa), mais um belo solo e toques regionais bem presentes e audíveis. Em "The Dove and the Crow", introduzida por baixo e bateria, temos uma faixa com um andamento fantástico e ganchudo, fora o uso de ótimos duetos de guitarras aqui e ali, alguns momentos limpos, mais um ótimo solo (que transpira certo feeling setentista) e uma interpretação de tirar o fôlego. A força cadenciada sombria e melodias soturnas de "From Womb to Reborn" a tornam um dos pontos altos do disco, mais uma vez guiada por um trabalho de guitarras além da imaginação. A velocidade fica evidente em "The Fire of Creation", mas logo cede espaço para momentos mais trabalhados, mais uma vez com baixo e bateria mostrando uma base rítmica compacta e firme. E fechando, "Aisle to Everything" mostra um trabalho melodioso ótimo, embora a velocidade e brutalidade sejam a tônica principal do grupo, mais momentos bem ganchudos e mais cadenciados, onde as guitarras se sobressaem, mas não se pode deixar de citar a excelente performance dos vocais. 

Não tem jeito: o UNEARTHLY realmente é uma das grandes bandas de nosso país, e representa como alguns outros nomes o lado mais criativo de nossa cena brasileira.




Tracklist:

01. The Sin Offering
02. The Confidence of Faith
03. Eshu
04. The Unearthly
05. Agens Mortis
06. Chant from the Unearthly Rites
07. Where the Sky Bleeds in Red
08. The Dove and the Crow
09. From Womb to Reborn
10. The Fire of Creation
11. Aisle to Everything


Banda:

F. Eregion – Vocais, guitarras
Vinnie Tyr – Guitarras
M. Mictian – Baixo
B. Drummond – Bateria


Contatos:

Metal Media (Imprensa)
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