1990
Capitol
Records
Nacional
Tracklist:
1. Holy
Wars... The Punishment Due
2. Hangar
18
3. Take No
Prisoners
4. Five
Magics
5. Poison
Was the Cure
6. Lucretia
7. Tornado
of Souls
8. Dawn
Patrol
9. Rust in
Peace... Polaris
Banda:
Dave Mustaine - Vocais, guitarras
Marty
Friedman - Guitarras, backing vocals
Dave
Ellefson - Baixo, backing vocals
Nick Menza - Bateria
Contatos:
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(mailing list)
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
O final dos anos 80 tinha uma atmosfera muito positiva. O
fim do muro de Berlim, a queda do comunismo na Rússia e final do bloco
socialista encerravam os 50 anos de guerra fria. Mas as tensões regionais em
vários pontos ainda não permitiam que o mundo realmente estivesse em paz. A
chegada da Guerra do Golfo, nos primeiros meses de 1991, levou o mundo a se
questionar se outro conflito em escala global não iria aparecer.
Mas o misto de alívio e certa incerteza ajudaram o MEGADETH
a lançar, enfim, sua obra-prima, seu disco definitivo, que seria usado como parâmetro
de comparação com todos os discos que lançaram antes e todos que viriam no
futuro: o clássico atemporal conhecido por “Rust in Peace”.
Nesta época, o MEGADETH era conhecido como um grupo de
formação altamente instável, e mesmo pelo temperamento volátil de seu líder,
Dave Mustaine. O disco
anterior, “So Far... So Good... So What!” já havia catapultado o grupo
para o mainstream. Mas a demissão sumária do guitarrista Jeff Young e do baterista
Chuck Behler tiraram a banda da estrada, bem como jogaram dúvidas sobre o que o
grupo faria. Dave, que não é nenhum pateta, colocou Nick Menza, técnico de
Chuck, na bateria (uma ironia do destino, pois Chuck havia sido técnico de
bateria de Gar Samuelson, seu antecessor), e após cogitar os nomes de Dimebag
Darrel e Jeff Waters para a guitarra (sendo que ambos declinaram as ofertas, e
houve boatos de que Slash havia sido convidado na época), ouviu “Dragon Kiss”,
disco solo de Marty Friedman (que já tinha nome consolidado como um guitarrista
soberbo por seu trabalho em bandas como HAWAII e CACOPHONY). Pronto: tudo que
poderia dar errado foi cogitado (tanto por fãs como pela imprensa da época), inclusive elo ego de Mustaine não
aceitar um guitarrista melhor que ele na banda dele. Só que, como já se sabe,
Dave Mustaine nunca foi muito de seguir o que pensam dele, e a formação não só
vingou, mas foi o line-up mais estável que o quarteto teve.
“Rust in Peace” é um disco pesado, técnico e muito bem feito
em todos os aspectos. Além da inspiração musical, o estilo musical de Marty
caiu como uma luva para o grupo, bem como a técnica quase jazzística de Nick na
bateria (chega a ser exagerado às vezes, mas sempre ótimo). O baixo pesado e
vibrante de Dave Ellefson criou linhas rítmicas belíssimas, ajudando o “approach”
mais técnico a ficar ainda mais elaborado, sem perder o peso. E tendo parceiros
desse nível, finalmente toda a criatividade de Dave Mustaine pode se propagar
para as canções, sem contar que o trabalho dele nas guitarras melhorou ainda
mais e seus vocais estão em ótima forma, sempre com ótimos timbres.
Ou seja: “Rust in Peace” é o auge do amadurecimento musical
do grupo até então.
Como de praxe na época, “Rust in Peace” mostra problemas na
fase de produção. O produtor original é Mike Clink (que havia trabalhado com o
GUNS N’ ROSES em “Appetite for Destruction” e com o UFO em “Strangers in the
Night”), enquanto a mixagem é de Max Norman (que veio a trabalhar como produtor
da banda no disco seguinte, “Countdown to Extinction”). Só que Cink estava
envolvido com a produção de “Use Your Illusion I” e “Use Your Illusion II” do
GUNS N’ ROSES, e conforme entrevistas posteriores de Dave Mustaine, ele, junto
com Max e Micajah Ryan (engenheiro de som do disco) fizeram tudo. Seja lá o que
for fato ou boato, a verdade é que na época, muitos críticos torceram o nariz
para a sonoridade de “Rust in Peace”, alegando falta de peso. Só que peso é o
que não falta ao disco, bem como a definição sonora é excelente, e as
timbragens estão de primeira. Tudo em “Rust in Peace” soa perfeito e em seu
devido lugar.
A arte da capa é um conceito de Dave Mustaine, que ganhou
vida pelas mãos de Edward J. Repka, mais conhecido como Ed Repka. Na capa, está
uma clara referência ao Single “Hangar 18”, ou seja, no controle às descobertas
sobre vida extraterrestre estar nas mãos dos poderosos do mundo, representados
por George H. W. Bush (então presidente dos EUA), o líder da União Soviética
Mikhail Gorbachev, Richard von Weizsäcker (presidente da Alemanha Ocidental na
época, e depois, presidente da Alemanha reunificada), o primeiro ministro
japonês Toshiki Kaifu e o primeiro ministro inglês John Major, tendo no meio o
mascote Vic Rattlehead em trajes políticos. É um claro indicativo ao conteúdo
lírico azedo que se encontra no disco.
Maduro, extremamente técnico (beirando o Progressive Metal),
com canções fortes e bem trabalhadas, solos mais longos e melodiosos, mas com
bases rítmicas agressivas, “Rust in Peace” causou furor nos fãs e calou a boca
dos detratores do grupo. E foi um disco que vendeu os tubos, justamente porque
a improvável fusão de uma técnica mais apurada com a pegada pesada do grupo
parecia não ser possível. Mas foi e é.
Um clássico como “Rust in Peace” toma de assalto o fã logo
com a trabalhada, climática e furiosa “Holy Wars... The Punishment Due”, que
começa com uma saraivada de riffs, seguida por um ataque rítmico de baixo e
bateria intenso e muito técnico (Nick e Dave Eleffson se entenderam
perfeitamente), fora os solos e temas de Dave e Marty, mais os vocais ácidos,
quase profetizando a guerra vindoura no Oriente Médio. Já “Hangar 18” mergulha
fundo em uma levada não tão acelerada e adornada por lindas partes de guitarras
bem melodiosas e sua temática referenciando a manutenção do conhecimento de
aliens pelos EUA na famosa Área 51. Outra saraivada de violência musical é “Take
No Prisioners”, com baixo e bateria mostrando sua técnica esmerada sob uma
agressividade que mostra uma das influências mais sensíveis do quarteto, que é
o trabalho do MOTORHEAD, assim como a sinuosa e com momentos mais
introspectivos “Five Magics”, onde os vocais e guitarras estão muito bem. A
curta “Poison Was the Cure” mais uma vez mostra as cinco cordas de Dave “Junior”
Ellefson detonando, sendo seguidas por riffs abusivamente agressivos, e aqui, a
raiz Hardcore do grupo aparece mais evidentemente. O andamento desacelera e
ganha corpo em “Lucretia”, uma canção bem pesada e com guitarras chamuscando a
todos, mesmo com lindas melodias. A bateria mostra mais uma vez sua técnica e
peso na clássica “Tornado of Souls”, com uma pegada bem envolvente, refrão
forte e um jeitão irresistível. Em “Dawn Patrol”, uma introdução focada em
bateria e baixo, mais vocais sussurrados, que vai aclimatando o fã. E logo a
bateria introduz a porradaria de “Rust in Peace... Polaris”, que logo começa a
mostrar contrastes entre o azedume das partes quebradas do meio, e as melodias
das pontes e agridoce refrão, mas sendo que no final, o lado Hardcore/Punk que é
uma das raízes do grupo, surge. E na versão remaster de 2004, temos quatro
faixas bônus: a inédita “My Creation”, além das versões Demo de “Rust in
Peace... Polaris”, “Holy
Wars... The Punishment Due” e “Take No Prisoners”. E foi graças ao sucesso de "Rust in Peace" e à desistência de David Lee Roth de se apresentar no Rock in Rio II que pudemos ver o quarteto pela primeira vez, na quarte-feira, 23/01/1991.
O nome “Rust in Peace”, conforme uma entrevista de Dave
Mustaine em 1990, fez referência quando ele passou por um caminhão carregando
vários mísseis balísticos intercontinentais UGM-27 Polaris, mas na placa do
caminhão, o dizer: “que um dia todas as armas possam enferrujar em paz”, o que
Dave aproveitou.
Que o desejo escrito no caminhão se torne verdade, e que
ouçamos “Rust in Peace” em um clima de paz e harmonia entre os homens.
Excelente texto!
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