2017
Nacional
Tracklist:
1. Machine Messiah
2. I Am the Enemy
3. Phantom Self
4. Alethea
5. Iceberg Dances
6. Sworn Oath
7. Resistant Parasites
8. Silent Violence
9. Vandals Nest
10. Cyber God
11. Chosen Skin (Bônus - Versão Deluxe)
12. Ultraseven no Uta (Bônus - Versão Deluxe)
Banda:
Derrick Green – Vocais
Andreas Kisser – Guitarras
Paulo Jr. – Baixo
Eloy Casagrande – Bateria
Contatos:
Nota:
Originalidade: 10
Composição: 10
Produção: 10
10/10
Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia
É comum associar-se o fato de uma banda ser experiente e ter renome com a reação desenfreada de muitos (ou seja, falamos do bom e velho “amo-ou-odeio” sem meio termo). Existem bandas que realmente sofrem ou uma perseguição implacável de seus detratores, ou são quase divinizadas pelos fãs. A causa disso, aparentemente, é a corrosão da paciência de sentar e ouvir um disco atentamente. Parece que a modernidade, a necessidade de estar atualizado com tudo que ocorre e que é enorme, erodiu tal conceito.
Talvez isso seja o motivo maior de tanta polêmica e das opiniões desencontradas quando se fala de “Machine Messiah”, mais novo disco do SEPULTURA, que acaba de ser lançado.
A primeira coisa que se deve ter com o disco é paciência. Uma ou duas ouvidas são serão suficientes para uma compreensão mínima do que ele é, do que o disco representa e a que ele vem. Esse disco é como Vishnu, deus Hindu, que possui mil nomes e mil faces: possui tantas e ricas facetas que pode fazer com que qualquer abordagem unidimensional seja fracassada.
Sim, pois antes de tudo, “Machine Messiah” não é um disco simplório e nem tão pouco simples de ser assimilado. Não, de forma alguma, ele demanda paciência, uma vez que ele é sinuoso, rico em diferentes influências, com camadas e mais camadas musicais cheias de diferenças quase díspares, que somente uma banda do porte do SEPULTURA poderia ousar (e conseguir) fundir de forma coerente. E assim, criaram uma obra-prima em termos de Metal, com tudo o que faz parte da identidade musical do quarteto, e algo mais.
É um passo adiante do que foi feito pelo quarteto em “Kairos” e “The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart”, um disco ousado e disposto a pôr o grupo de vez no mesmo patamar dos gigantes do Metal mundial.
A produção, mixagem e masterização do disco foram feitas no Fascination Street Studios, em Örebro, Suécia, com a produção feita pelas mãos do quarteto e de Jens Bogren (que já trabalhou com AMON AMARTH. SOILWORK, KATATONIA, MOONSPELL, ROTTING CHRIST, e outros). Este é um diferencial de “Machine Messiah”, uma vez que o disco soa pesado, intenso, com um impacto forte e claro. Sim, o nível de clareza é enorme, seja nos momentos mais introspectivos ou nos mais brutais. Mas não se preocupem: a agressividade do grupo, uma de suas características mais primordiais, está intocada.
A capa é de Camille Dela Rosa, uma artista filipina. Chamada “Deus Ex-Machina”, ela encerra em si todo o conceito de sociedade mecanizada, robótica, que por carecer de divindades visíveis e tocáveis, criará para si deuses cibernéticos. E ela, por ser uma pintura, dá um aquela sensação de algo orgânico ao disco.
Groove, modernidade, elementos de Hardcore, partes de Thrash Metal e mesmo de outros gêneros do Metal, influências quase tribais e de estilos regionais do Brasil são disponibilizadas em um leque amplo e diversificado de influências, algo bem difícil de ser digerido por aqueles que ainda vivem na fase entre “Schizophrenia” e “Arise”.
Derrick está em sua melhor forma, cantando muito bem e usando vários timbres e formas de impostar a voz; Andreas continua um mestre em termos das seis cordas, sabendo soar diferenciado, com riffs de primeira e solos caóticos; Paulo está bem no baixo, pois está sabendo segurar bem o peso da base rítmica e marcar sua presença (como “Resistant Parasite”); e Eloy é mesmo um dos grandes mestres da bateria no país, sabendo dar diversidade e peso nas medidas certas. Juntem tudo isso, e se preparem para o massacre!
As 10 músicas de “Machine Messiah” são excelentes, mostrando o quanto uma banda pode ser criativa quando quer. Mas por mera referência, o massacre agressivo e cadenciadamente introspectivo de “Machine Messiah” (onde Derrick mostra uma forma de cantar excelente, passando pelo suave, o urrado e o vocal deprê cheio de efeitos sem nenhum pudor), a golfada Hardcore brutal e explosiva de “I Am the Enemy” (onde Paulo e Eloy proporcionam um massacre reto e direto, mas com alguns pequenos detalhes rítmicos muito interessantes), os toques regionais e teclados bem colocados na massacrante “Phantom Self” (cheia do Groove intenso e moderno que acompanha a banda há anos), as levadas técnicas da bateria e as guitarras caóticas em “Alethea” (os ritmos são quebrados, exigindo bastante da base rítmica), a multicultural instrumental “Iceberg Dances” (justamente onde a diversidade técnica das guitarras de Andreas fica mais evidenciada), a densa e sinuosa “Sworn Oath” e seus riffs certeiros e pesados (além do uso teclados em partes Thrash Metal, algo bem pouco usado), a moderna e trabalhada “Resistant Parasites” (aqui, algo de discos como “Chaos A. D.” e “Against” pode ser sentido, especialmente no Groove pesado e quase New Metal em alguns momentos), as rápidas e cheias de influências de Thrash Metal clássico “Silent Violence” e “Vandals Nest” (esta um pouco mais moderna e com alguns momentos mais técnicos, e mais uma vez, os vocais usam de uma gama de timbres fantástica), e fechando, a mecanicidade de “Cyber God”, que chega a beirar o Rock Industrial em alguns momentos, mas sem deixar de ser pesada e cheia de detalhes musicais quase que antagônicos. Para os que adquirirem a versão deluxe, existem dois bônus em “Chosen Skin”, que é brutal e opressiva, mas segue a dinâmica de todo o disco, e a irônica “Ultraseven no Uta”, em uma versão mais comportada e não tão extremada como o R.D.P fez há alguns anos, e que é o tema de “Ultra Seven”, seriado de 1967, criado por Eiji Tsuburaya e que tem enorme legião de fãs no Brasil.
Novamente: este autor comenta cada uma das faixas com uma motivação apenas: mostrar como cada faixa tem seu valor dentro da diversidade musical que o quarteto se revestiu com o passar dos anos.
Em suma: o SEPULTURA, mais uma vez, mostra-se uma banda corajosa e que soube se renovar, com muitos anos de carreira pela frente. Mas este autor torna a prevenir os caros leitores: “Machine Messiah” é um disco que requer paciência para ser assimilado dignamente.
Outro que vai estar no Top 10 de muitos no final de 2017.
Outro que vai estar no Top 10 de muitos no final de 2017.