22 de set. de 2016

EDEN SEED: “Vivemos hoje as heranças de pessoas que quebraram as regras antigas”


Religião x Heavy Metal é uma discussão antiga que sempre divide opiniões e geram grandes rixas. Mas e quando um musico impõe sua escolha religiosa sem influenciar o som de sua banda?

É este o caso da guitarrista Gisele Marie do EDEN SEED, que mesmo sendo mulçumana e adepta dos trajes típicos da religião, em nada influencia na sua musicalidade assim como na escolha dos temas abordados pela banda, trazendo o direcionamento de liberdade.

Falando sobre isto e sobre o EDEN SEED Gisele deixa claro seu ponto de vista e se demonstra muito animada com as novas composições da banda, confira agora mesmo neste breve bate-papo:

Como é para você lidar com a questão de sua religião? E o que isso impacta a sua vida pessoal e profissional?

Para mim é algo bem tranquilo porque é normal do meu ponto de vista. A diferença está sempre no olhar das outras pessoas, não em mim.

Apesar do ar de exotismo que a minha vestimenta inspira nas pessoas, eu considero que não há muito impacto na minha vida pessoal e muito menos na profissional. Eu sou uma mulher simples, que vive em paz e gosta de viver tranquilamente, faço compras, passeio, cuido da minha casa, tenho amigos.

Em relação à vida profissional então, não impacta em nada. Me sinto totalmente livre para exercer o meu trabalho na música e a minha religiosidade faz parte de mim naturalmente e não influi na música.


Musicalmente é um impacto visual grande, pois tocar Heavy Metal de niqab não é nada comum. Como surgiu essa decisão?

A decisão é baseada em dois conceitos: Liberdade, e Coerência.

Veja, usar niqab é um direito meu, então o niqab é símbolo do exercício da minha liberdade. Não há esta intenção como foco, mas não deixa de ser também uma reivindicação de direito tão válida quanto uma mulher que exige respeito acima de tudo, mesmo que seja com pouca roupa.

E coerência também porque eu me sentiria hipócrita se eu tirasse o niqab para tocar. Niqab é uma escolha minha, algo sério. Não haveria sentido em usar o niqab na minha vida pessoal, e tirar o niqab para tocar. Então eu pensei: “Ok, eu sou uma “munaqaba” (mulher muçulmana que usa niqab), e isto é para valer! Então se eu vou voltar a tocar profissionalmente, eu vou continuar a usar o niqab, porque isto é ser coerente comigo mesma.”


Sobre suas influencias o que poderia nos falar?

Minhas influências são vastas e ecléticas, tanto quanto o meu conceito de música e arte. Randy Rhoads é e sempre será o músico que mais me influencia. O Número um para mim.

Mas além do Randy, eu tenho influência direta de Yngwie Malmsteen, Jimi Hendrix e Paco de Lucia. Guitarristas do que eu chamo de “escola californiana” me influenciam também diretamente, e eu incluo neste grupo Zakk Wylde, Eddie Van Halen, Jake E Lee, Carlos Cavazo e Brad Gillis. Mas há também influências de música barroca, blues, jazz, fusion, Allan Holsdworth, por exemplo, Jeff Beck, Al Di Meola, Blues do Delta do Mississipi... enfim, muita música boa, independente de estilo.


O Eden Seed está prestes a lançar seu novo videoclipe o que podemos esperar do mesmo? E sobre o seu trabalho solo, que direcionamento o mesmo terá?

Bem, estamos finalizando a produção do primeiro vídeo oficial do EDEN SEED e, ao mesmo tempo, de um single com duas músicas e estamos trabalhando duro como sempre, dando o melhor de nós nesta produção. O vídeo trará uma síntese do que é o conceito de arte do EDEN SEED com a parceria da música da banda aliada à dança árabe, um dos elementos presentes em nossos shows. A música escolhida para o vídeo é RETURN, uma das mais rápidas e pesadas do repertório do EDEN SEED, e também diferente com um riff marcante e único.

Sobre o meu trabalho solo, eu penso que é um caminho importante para eu poder me expressar artisticamente de forma completa. O que eu quero dizer é que nem todas as minhas ideias cabem no EDEN SEED que é uma banda de thrash metal, que tem o seu ecletismo e conceito, mas ao mesmo tempo é uma banda. Eu gosto de visitar outras dimensões musicais além do que posso expressar no trabalho do EDEN SEED e quando crio coisas que eu sei que são muito ecléticas, eu posso reservar o meu trabalho solo para expressar estes elementos, estas outras notas musicais, estas outras cores. Isto é interessante, tem a ver com a minha forte influência do Jimi Hendrix. Eu penso que a grande genialidade do Hendrix tem ver com o fato de que ele fez o que ninguém fazia. Isto não se resume só à guitarra, mas a tudo, a todo o conceito artístico, a toda a expressão artística dele, na época dele. Vivemos hoje as heranças de pessoas que realmente quebraram as regras antigas, e o Hendrix seguramente foi um deles.


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