1980
Emi
Nacional
Texto:
Marcos "Big Daddy" Garcia
O ano é 1980.
Após o enfraquecimento dos efeitos iniciais da explosão do
Punk Rock em 1977, a Inglaterra começava a mostrar o surgimento de uma nova
geração de bandas de Heavy Metal. Todas possuíam similaridades, e muitas
diferenças. A estética das bandas do início estava sendo alterada,
personalizada e diversificada, mas mantendo o peso e energia de seus
antecessores.
Capa da versão remasterizada |
Este é o apogeu da NWOBHM, onde as bandas do gênero que começaram
a lançar Demos e Singles de forma independente (um legado do Punk Rock, o bom e
velho "Do It Yourself", que será uma bandeira de muitos nessa década
que se iniciava), até que as gravadoras abriram os olhos para o potencial
comercial do gênero. Mas é óbvio que, como todo movimento musical, algum nome,
em meio a tantos, virá a se destacar e ser a ponta de lança do mesmo.
No caso da NWOBHM, não há o que questionar: o grande nome
daquela geração era, sem sombra de dúvidas, o do IRON MAIDEN, que depois de
muita ralação no circuito underground de shows em Londres, de muita luta para
estabilizar sua formação e de ter sucesso enorme dentro do cenário underground com
a Demo (que viraria um EP mais tarde) "The Soundhouse Tapes", chegou
com seu primeiro álbum, "Iron Maiden", lançado pela Emi.
Lançado em 14/04/1980, podemos dizer que "Iron
Maiden" já nasceu clássico, mas infelizmente, teve problemas e mais
problemas até chegar nas mãos dos fãs: o produtor Will Malone mais foi um peso
morto que uma peça a ajudar no processo criativo (e a banda já havia despedido
dois antes dele: Guy Edwards por não gostarem da sonoridade que ele criou, e
Andy Scott por insistir que Steve tocasse baixo com uma palheta), o guitarrista
Dennis Stratton aprontando das suas em "Phantom of the Opera" pela
costas da banda... Se lerem a biografia "Run To The Hills", terão a
clara idéia do que digo. E um fator interessante é que Martin Birch (o produtor
que foi o sexto membro do grupo até sua aposentadoria, em 1990) estava disposto
a entrar no projeto com eles, mas nunca foi chamado.
Coisas da vida.
O motivo de "Iron Maiden" ser tão importante,
histórica e musicalmente falando, pode ser compreendido com uma audição mais
aprofundada e a consciência do que era feito em termos musicais naqueles dias: em
palavras simples, a banda conseguia associar a agressividade e energia crua do
Punk (que eles negavam na época), o peso do Metal tradicional (e o refinamento
musical de bandas como THIN LIZZY e WISHBONE ASH) e as estruturas musicais
complexas do Rock Progressivo (lembrando que Steve sempre foi musicalmente influenciado
por Chris Squire (YES), Geezer Butler (BLACK SABBATH), entre outros). Ou seja,
o IRON MAIDEN junta um grande bojo de influências musicais e transforma em
músicas coesas, fortes e que são capazes de seduzir os fãs. E verdade seja
dita: a banda assim deu passos em direção de se tornar o maior gigante do Heavy
Metal em cima dessa fórmula.
Gravado nos Kingsway Studios, em Londres, a produção de Will
Malone não ajudou. Embora a sonoridade de "Iron Maiden" não seja
ruim, está muito aquém do que o quinteto iria nos oferecer nos próximos anos.
Está limpa, mas carece de mais peso e soa oca, mesmo para os padrões da época.
Mas lembrando que ele foi gravado em menos de 15 dias, com a banda basicamente
fazendo tudo (já que Will não se mostrava muito interessado no trabalho), o
resultado final não é ruim. É muito bom, mas como dito: longe do nível que os
caracterizaria nos anos seguintes.
A capa, trazendo Eddie (o monstro favorito de quase 99% dos
fãs de Metal), é de Derek Riggs, que seria o ilustrador da banda pelos próximos
anos, até 1990. Óbvio que é bem simples em comparação ao que o grupo mostraria
no futuro, mas é claramente uma declaração de guerra: o Heavy Metal estava de
volta, e para ficar!
Musicalmente, falar das músicas do disco chega a ser algo pecaminoso. O que mais se pode acrescentar a canções que são hinos de 36 anos de idade que já não tenha sido feito? O que falar de Paul, Steve, Dave Murray, Dennis Stratton e Clive Burr, que se mostravam uma banda afiada e precisa?
"Prowler" mostra a força do dueto de guitarras da
banda em uma canção rápida e cheia de energia, enquanto "Remember
Tomorrow" e suas mudanças de ritmo nos embalam e exibem a habilidade
instrumental do grupo em muitos momentos, mas a força e versatilidade de um
vocalista inimitável. Já "Running Free", um dos maiores clássicos da
banda, é simples e acessível, exibindo um caráter extremamente envolvente. Em
"Phantom of the Opera", um dos maiores clássicos do grupo, a banda
inteira se mostra em excelente forma em meio a tantas mudanças de ritmo, e com
o baixo mostrando-se um tanque de guerra em certos momentos. Isso foi o lado A.
Já o lado B abre com a ótima instrumental "Transylvania",
que mostra muitas mudanças, além de evidenciar a força de um dos elementos mais
característicos do grupo: seus duetos de guitarra. Em "Strange
World", uma balada introspectiva, mostrando o lado mais sensível dos
vocais, mas é um tanto quanto descartável por não estar no mesmo nível das
outras músicas. Embora cheia de energia e mostrando boas variações harmônicas,
podemos aferir que "Charlotte the Harlot" seria um bom lado B de um
Single, sendo uma boa canção, mas não no nível das outras. E fechando o disco,
a clássica "Iron Maiden", com um dos melhores riffs e refrão do
Metal, mostrando que realmente a Donzela de Ferro iria pegar a todos, não
importasse o quão longe.
Nas versões mais recentes do CD, tem saído a clássica e mais
Hard "Sanctuary", com uma sessão rítmica excelente e belo trabalho
nos vocais. Ela poderia ter entrado no lugar tanto de "Strange World"
ou "Charlotte the Harlot", mas quem conhece o IRON MAIDEN sabe que
eles têm um histórico de pôr em lados B de Singles músicas que poderiam estar
no álbum, como "Total Eclipse" que poderia ter entrado no lugar de
"Gangland" no "The Number of the Beast". Mas esta é outra
estória.
Um último ponto que gostaria de citar é que o trabalho de
Paul neste disco e em "Killers" é tão contundente que, para muitos, é
o melhor vocalista que passou pelo grupo, justamente por ter um timbre de voz
bem mais particular que Bruce, mais cru e rocker. Nos anos 80, essa discussão
era levada muito a sério, diga-se de passagem, e em um ponto, tem sua razão de ser: nas músicas de "Iron Maiden" ao vivo, Paul sempre se saiu melhor que Bruce (não seja fanático, meu caro leitor. Isso é um fato).
Enfim, se "Iron Maiden" peca no quesito de
qualidade sonora (novamente referencio os problemas acima descritos), excede na
qualidade sonora e ajuda a definir o que seria o Heavy Metal nos anos
vindouros.
É ouvir e deixar que o IRON MAIDEN te pegue, não importando
o quão longe estejam.
Músicas:
1. Prowler
2.
Sanctuary
3. Remember
Tomorrow
4. Running
Free
5. Phantom
of the Opera
6.
Transylvania
7. Strange
World
8. Charlotte the Harlot
9. Iron Maiden
Banda:
Paul Di'Anno - Vocais
Dave Murray - Guitarras
Dennis
Stratton - Guitarras
Steve
Harris - Baixo
Clive Burr
- Bateria
Contatos:
Facebook (Iron Maiden Brasil)