2015
Independente
Nacional
Nota: 10,0/10,0
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
Enquanto povo da América do Sul, nós no Brasil ainda
ignoramos a força e criatividade de nossos vizinhos.
Sim, apesar das nossas similaridades culturais, ainda
carecemos de olhar com mais detalhes para nosso continente e vermos a força da
cena Sul Americana em termos de Metal. Sim, pois temos por aqui bandas
excelentes, como o RATA BLANCA e o CLIMATIC TERRA na Argentina, o THY
ANTICHRIST da Colômbia (e que agora está radicado nos EUA), o CURARE no
Equador, entre tantas outras. Ou seja, nem só de Brasil vive o Metal Sul
Americano.
Sabendo disso, vemos que mais um excelente nome surge no
Chile um abalo sísmico em termos de Metal que é capaz de afundar o continente:
o excelente quinteto EGREGOR, que após um EP e dois Singles, finalmente chega
com seu primeiro disco, "Karma".
Podemos dizer que o quinteto é uma banda que funde a técnica
do Prog Metal com o peso agressivo de vertentes mais modernas do Metal, mas sem
nunca perder sua essência mais clássica, mais voltada ao Metal tradicional. Bem
trabalhado e envolvente, "Karma" ainda é permeado pela força
ancestral da cultura dos povos de nosso continente, e embora as temáticas da
banda sejam mais abertas, percebe-se que a música do EGREGOR fala-nos direto ao
coração. A força seu bojo cultural, aliada à uma música fascinante, trabalhada
e envolvente, nos toma de assalto.
Produzido pela vocalista Magdalena Opazo e pelo guitarrista Richard
"Ripo" Iturra (que ainda fez a mixagem do disco), mais a colaboração especial de Andrés Goday, e com a masterização feita por Maciej Dawidek nos Nova
Studios (na Polônia), podemos dizer que a sonoridade de "Karma" é de
primeira. Tudo está claro e audível, com timbres muito bem escolhidos, mas o
peso e intensidade estão ali, permitindo que mesmo nos momentos mais densos e
agressivos, tudo seja compreendido.
A arte de Pablo Rebolledo é de primeira, evocando em seus elementos todo o conceito lírico do disco.
Um dueto de guitarras com riffs fortes e pesados, baixo e
bateria formando uma base rítmica sólida, pesada e com boa técnica, além dos
talentosos vocais femininos que se diferenciam de todas as divas pelo uso sábio
de seus timbres normais de voz, tudo isso é feito de forma que o trabalho
melodioso do quinteto seja de primeira linha. As letras em espanhol permitem
uma boa acessibilidade à mensagem da banda, que como citado antes, dá a clara
impressão de ser uma imersão total no âmago cultural dos nossos povos irmãos. E enriquecendo ainda mais o disco, temos as presenças de convidados especiais: Martín Romero no charango (instrumento similar à viola) e Quena (um tipo de flauta) em "Karma", Martín Morales na Zampoñas (flauta de vários tubos tradicional dos Andes) em "Karma", Pablo Dominguez na percussão africana em "Ritual", e Héctor León no viejo, e nos vocais inicias de "Ritual".
Destaques?
Sinto muito aos mais chatos, mas "Karma" nasceu um
disco muito bem feito em tudo, e a qualidade das músicas do grupo são algo que
não abre espaços para críticas negativas.
Só para que se referenciem, cito a ótima "Shunyata"
(com alguns tempos não convencionais, cortesia do trabalho de primeira de Alejandro
no baixo e Carlos Hidalgo na bateria, mais solos de guitarra bem melodiosos),
as melodias modernas e envolventes que surgem em "Inflexion" (como a
voz de Magdalena é bela e versátil, verdade seja dita), a etérea e bem
arranjada "Karma" com seu clima mais suave (o que privilegia muito os
vocais mais uma vez. Mas nos momentos mais certos, as guitarras de Richard e Giancarlo
aparecem muito bem), a pesada e cheia de mudanças rítmicas "Ritual",
onde a banda como um todo se mostra ótima (é a música de divulgação do disco,
com vídeo oficial. Mas reparem como há uma forte aura espiritualizada aqui); a
agressividade progressiva contida nas melodias complexas de "Metamorfosis",
e as guitarras bem feitas (especialmente os solos) de "Sideral"
(outro show de mudanças rítmicas, mostrando que a banda consegue ser entendida.
E reparem alguns vocais um pouco mais agressivos ao fundo).
Sim, o EGREGOR veio para ficar, e mesmo sendo um disco de
2015, merece constar na lista de muitos como um dos plays do ano.
Uma excelente revelação!
Músicas:
1. Shunyata
2. Inflexion
3. Karma
4. Ilumina
5. Awen
6. Ritual
7. Metamorfosis
8. Mascara
9. Sideral
10. La Luz de Oscuros Recuerdos
11. Libera
Banda:
Magdalena Opazo - Vocais
Richard Iturra - Guitarras
Giancarlo Nattino - Guitarras, vocais
Alejandro Heredia - Baixo, didjeridu
Carlos Hidalgo - Bateria
Contatos: