4 de jan. de 2016

DISTRAUGHT - Locked Forever (CD)


2015
Nacional

Nota 10,0/10,0


Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Destaques: Between the Walls of Colônia, Lost, Locked Forever, Brazilian Holocaust, The Last Trip


Quando se fala em experiência na cena, muitas vezes, a impressão que podemos ter são de bandas que já estão cansadas ou mesmo apenas tocando a vida (e o próprio trabalho) com a barriga. Conformismo com a situação ou mesmo cansaço diante das inúmeras dificuldades do cenário underground, ou mesmo outra, pode levar a banda a realmente desistir. Mas existem aqueles que se recusam a ceder, a jogar a toalha, e parecem dispostos a emplacar disco excelente em cima de disco excelente, sem perder o pique e a vontade de ser relevante e revolucionário. E nisso, meus caros, o quinteto gaúcho DISTRAUGHT é um mestre. Na luta há 25 anos, eles se atrevem a ir mais adiante e expandir fronteiras com "Locked Forever", seu sexto e mais recente álbum.

Ainda com a mesma pegada Thrash Metal agressiva e técnica que sempre os caracterizou, o quinteto mostra que se pode evoluir dentro da própria proposta sonora. O trabalho do grupo está atualizado, com uma sonoridade moderna e agressiva, mas como dito acima, sem abrir mão de sua identidade. Os vocais de André estão urrados com maestria, sabendo usar algumas sutilezas não muito convencionais ao gênero. As guitarras do veterano Ricardo Silveira e do novato Everton Acosta mostra um entrosamento forte, criando uma muralha de riffs absurdamente compacta e feroz, e solos inspirados. E a cozinha rítmica de Nelson Casagrande (baixo) e Maurício Weimar (bateria) esbanja técnica, peso e solidez abusivamente coesa. E o resultado: um murro na cara bem dado, e de bom gosto, já que "Locked Up" é, de longe, o melhor disco da banda.

Distraught
Usando de uma apresentação visual que começa pela arte primorosa de Marcelo Vasco, encorpada e bem feita em um formato digipack de muito bom gosto. Em termos de sonoridade, a presença de Renato Osório (do HIBRIA) na produção dá a idéia clara do que encontraremos: peso, agressividade e clareza bem equilibrados, com uma sonoridade moderna e ríspida. Mas não se pode deixar de citar que Benhur Lima (também do HIBRIA, que fez a mixagem) e Adair Daufenbach (masterização) também tem uma responsabilidade enorme pelo resultado sonoro ser tão bom. 

Eduardo Baldo (também do HIBRIA) dá uma canja na bateria em "Dehumanized", Ezequiel Catalano (do grupo argentino WITCHOUR) compôs e toca em "Brazilian Holocaust", e Estevan Pietro toca harmônica em "The Last Trip". Sim, harmônica, isso para verem a riqueza instrumental que existe sobre todo o peso e brutalidade opressivos dos arranjos do quinteto. "Locked Up" nasceu para ser referência em termos de Thrash Metal, e não estou exagerando.

Vale citar que "Locked Forever" é um disco cujas letras foram baseadas no livro "Holocausto Brasileiro" (da autora Daniela Arbex), que conta como funcionava o manicômio Colônia de Barbacena (MG), o maior hospício do Brasil. É um triste capítulo de nossa história recente, pois as pessoas lá internadas (a maioria delas eram doentes mentais) eram tratadas em condições terríveis, muitas vezes com o interesse que os internos morressem e seus corpos fossem vendidos às universidades (ou quando a procura por estes era pouca, os corpos eram dissolvidos em ácido). Mais de 60 mil pessoas foram mortas...

Do lado musical, "Locked Forever" é irrepreensível, nasceu perfeito.

Between the Walls of Colônia - O disco começa com uma introdução macabra, mas logo as guitarras da banda começam um massacre insano, mas sempre com um nível técnico fantástico. Óbvio que o trabalho de baixo e bateria se sobressaem bastante, mas não dá para não observar como os vocais se encaixam bem. É uma golfada de energia e agressividade de muito bom gosto.

Lost - Outra explosão de agressividade e boa técnica. Os andamentos mudam entre levadas mais rápidas e outras nem tanto. E isso sem falar que o refrão é ótimo, preenchido por guitarras insanas.

Locked Forever - Que música ganchuda! É impossível ficar parado ao ouvi-la, tamanho o dinamismo que existe nos arranjos musicais, e isso sem mencionar que algumas variações rítmicas estão excelentes. Reparem mais uma vez na força da interpretação de André, ao mesmo tempo em que ótimos solos e mais um refrão de fácil assimilação dá as caras. E é a música do vídeo de divulgação do disco.

Dehumanized - O andamento aqui é tocado em velocidade mediana, com algumas aceleradas aqui e ali, mas o lado mais bruto da banda está bem evidenciado. E que guitarras, exibindo bases chapantes e solos com ótimas melodias.

Brazilian Holocaust - Mais uma vez, o grupo mostra uma criatividade ótima, com algumas pitadas de Melodic Death Metal aparecendo no meio da pegada Thrash cheia de energia do grupo. E reparem bem como o baixo aparece bastante, dando aquele toque de peso essencial à canção.

Shortcut to Escape - Furiosa e com riffs impactantes, a energia e brutalidade aqui chegam a ser difíceis de serem descritas. E vejam como a banda mostra uma diversidade de andamentos, indo de momentos velozes até outros cadenciados, e durante os solos, andamentos com velocidade mediana.

Blacktrade - Mais uma vez, a banda usa de andamentos que mudam bastante, mesmo mantendo valores medianos (embora alguns momentos mais velozes estejam presentes), e mais uma aula de baixo e bateria, aplainando tudo para os vocais mostrarem uma interpretação privilegiada.

The Blind Vision of the Enemy - Parece que o arsenal de ótimos riffs do quinteto não tem fim... Mais uma vez, as guitarras mostram uma potência absurda, cheia de energia e impacto. Mas é injusto não falar do que baixo e bateria andam fazendo nessa música (veja a força da cozinha nos momentos mais etéreos das guitarras).

The Last Trip - E o disco fecha com outra canção brutal, excelente, que dá dor nos tímpanos dos mais incautos devido à rispidez dos vocais e seus urros mais esganiçados e agudos. E reparem como a evolução da canção é espontânea, firme e sem espaços vazios. E o fechamento com harmônica é um toque de bom gosto a mais.

É um dos grandes discos de 2015, sem sombra de dúvidas! E como chegou no final do ano, deve ser votado no ano de 2016 (esse ano promete)!

Estão esperando mais o que?

Arrumem logo suas cópias do disco!



Músicas:

1. Between the Walls of Colônia
2. Lost
3. Locked Forever
4. Dehumanized
5. Brazilian Holocaust
6. Shortcut to Escape
7. Blacktrade
8. The Blind Vision of the Enemy
9. The Last Trip


Banda:

André Meyer – Vocais
Ricardo Silveira – Guitarras
Everton Acosta – Guitarras
Nelson Casagrande – Baixo
Maurício Weimar – Bateria


Contatos:

Metal Media (Assessoria de Imprensa)

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