18 de dez. de 2015

PROJECT BLACK PANTERA - Project Black Pantera (CD)


2015
Independente
Nacional

Nota 9,0/10,0

Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia


Fazer Metal no Brasil, muitas vezes, é algo dificultado pela resistência do próprio público. 

Digo isso baseado na resistência dos headbangers brasileiros à sonoridades mais jovens e experimentais. E tal radicalismo é manifestação do conservadorismo colonial que permeia a nossa realidade social, que nos atrasa tanto e que tantos (inclusive os fãs de Metal mais radicais) reclamam que faz com que nosso país seja tão cheio de corrupção em todos os sentidos. 

Mas mesmo assim, em meio a este cenários causticante e difícil, é um prazer conhecer trabalhos que fogem do convencional, como o do trio mineiro PROJECT BLACK PANTERA, de Uberaba, que chega detonando ouvidos e destruindo o conformismo com seu primeiro trabalho, o ótimo disco que leva o nome da banda.

Imaginem uma banda que detona um Crossover raivoso e intenso, cheio de raiva e rasgado. Mas existem nuances que diferenciam o grupo da maioria dos grupos, com uma sonoridade abrasiva nas guitarras herdada de bandas mais modernas, e certo feeling cheio de Groove. É sujo, cheirando a guetos sujos, intenso, e uma raiva anti-conformismo que chega a ser rascante. Mas como desce bem, e mostrando um trabalho técnico em muito momentos que foge ao convencional (ouçam o trabalho do funkeado no baixo em "Ratatatá" e vejam o que digo).

Vocais que variam bastante entre timbres urrados e outros mais normais, riffs de guitarra bem criativos e envolventes, baixo e bateria formando uma base rítmica pesada, intensa e muitas vezes bem diferente do que se espera do gênero. É uma torrente de energia absurda, sem fim, e criativa!

Ricardo Barbosa é o produtor do disco em parceria com o trio. E Ricardo também gravou, mixou e masterizou tudo no 106 Studio. E a sonoridade é abrasiva, com um impacto absurdo, mas soando clara, nos permitindo ouvir e compreender a música da banda sem esforço algum. Ou seja, aliou-se a sujeira necessária com uma clareza preciosa. E é preciso falar da arte e layout, pois apesar de bem simples, é funcional, fora a forma extremamente criatividade em confeccionar o encarte nesse formato que lembra bem o dos antigos LPs.

Project Black Pantera 
O ponto forte do PROJECT BLACK PANTERA é sua vontade de ser diferente, sem deixar de ser espontâneo. É bruto e agressivo, mas feito com um nível de qualidade musical bem diferente do que estamos acostumados. E que arranjos, completados com letras politicamente incorretas e diretas.

Nem tentem destacar uma faixa ou outra, pois seria dizer que as outras são inferiores. E não dá, o disco é excelente de ponta a ponta.

Boto Pra Fuder - Nem precisaria escrever nada sobre esta. O título já diz tudo. Mas sabe aquela faixa que gruda nos ouvidos e não sai mais? Pois é, este é o caso aqui, recheada de riffs abrasivos e sinuosos, além de uma letra inspiradora (se este refrão não te fizer cantar junto, você está morto).

Ratatatá - Alternando entre algo mais funkeado (certa influência de INFECTIOUS GROOVE surge de forma bem espontânea) com algo mais agressivo e firme, é uma faixa excelente. Reparem como o baixo arrasa em vários momentos e a bateria mostra uma diversidade bem extra-classe, ao mesmo tempo em que os riffs acompanham essa levada mais eclética.

Godzilla - O pau come nessa instrumental permeada de gritos chamando o nome do icônico monstro gigante dos filmes japoneses. Mas ao mesmo tempo, arranjos bem diversificados se mesclam à brutalidade do grupo, logo, vemos uma canção com seu próprio valor.

Eu Sei - Aqui, o andamento é feito de forma entre o veloz e o lento, deixando o lado mais abrasivo da banda bem exposto. E que belo trabalho dos vocais, mostrando timbres bem diferentes.

Rede Social - Novamente, aliado à força do Crossover/Hardcore, existe uma envoltória funkeada dada pelos arranjos do baixo, algumas partes de guitarra excelentes, e tudo isso em uma canção que foge da velocidade extrema.

Abre a Roda e Senta o Pé - Nesta, o lado mais cru e Crossover dá as cartas, embora a força de riffs azedos deixem tudo muito pesado. E mais uma exibição de gala do baixo pode ser ouvida aqui.

Execução na Av. 38 - Uma faixa totalmente hardcorizada, veloz e firme. Não chega a ser reta e direta, pois o refrão é com uma levada não tão rápida, fora momentos mais intensos e com velocidade moderada, onde somos levados a balançar a cabeça sem que percebamos. É inevitável.

Manifestação - Mais uma vez, a banda usa de uma velocidade não muito extrema, vocais com timbres próximos ao normal, e com alguns gritos mais viscerais aqui e ali, e algumas mudanças de andamento. Mas se essa música não te levar ao slam dancing, pode contar que você não é do ramo...

Ressurreição - Aqui, impera um ritmo mais cadenciado e abrasivo, com belas incursões de baixo e bateria. Mas basta ver que a banda deu uma caprichada ótima em termos de arranjos de guitarra e vocais muito bons preenchem a canção. 

Escravos - E mais uma vez, o lado Hardcore/Crossover fica evidenciado pelo andamento. O pau quebra, e os vocais mais uma vez mostram um trabalho intenso e firme. 

Manifestation - Uma reprise de "Manifestação", apenas cantada em inglês. Mas como o que é bom merece um repeteco, aqui está ele.

Execução na Av. 38 feat. J. Cole - Uma versão bem diferente da anterior, cheia de efeitos, discursos, e vocais que lembram o Rap. Chega-se ao ponto de quase não reconhecer a música original. Mas mesmo assim, é muito boa e interessante.

Uma revelação excelente, brilhante e ótima. Ouçam sem moderação alguma!

E sim, eles botam pra fuder sem dó dos ouvidos dos mais conservadores.





Músicas:

01. Boto Pra Fuder
02. Ratatatá
03. Godzilla
04. Eu Sei
05. Rede Social
06. Abre a Roda e Senta o Pé
07. Execução na Av. 38
08. Manifestação
09. Ressurreição
10. Escravos
11. Manifestation
12. Execução na Av. 38 feat. J. Cole


Banda:

Charles Gama - Vocais, guitarras
Chaene Gama - Baixo
Rodrigo (Pancho) - Bateria


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