2015
Independente
Nacional
Nota 10,0/10,0
Texto: Marcos "Big Daddy" Garcia
Quem foi que disse que Metal extremo e inovações são coisas incompatíveis? Especialmente quando falamos em Black Metal?
No caso deste gênero do Metal, especificamente falando, ele possui características bem delineadas há quase 20 anos, mas dentro delas, é possível ser criativo e inovador, capaz de surpreender o ouvinte, e mostrar que a diversidade e experimentalismo em nada desvirtuarão o estilo, mas irão lhe dar nova vida e criar possibilidades que permitem que o Black Metal se renove, evolua e vá adiante. E um nome muito forte nisso é o do trio Curitibano INSANE DEVOTION, que após uma ausência de anos, retorna com tudo em "Infidel", seu mais recente álbum.
Após o Split "In Inferioribus Terrae" de 2000 (em que dividiu o CD com o SCORNER, outra banda de Maurício Laube, guitarrista/baixista/vocalista do trio), e o álbum "Slaves Will Serve" de 2005, a banda retorna, sempre fiel às suas raízes, mas agora, com uma forma mais bem trabalhada e muito mais diversificado, inclusive usando passagens e tempos que não são comuns ao Black Metal. Mas isso sem deixar de ser bruto, ríspido e agressivo. Basta olhar na diversidade de timbres vocais, guitarras que ditam os rumos e inclusive acrescentam melodias em muitos pontos, e teclados em orquestrações muito bem feitas, sem serem extremamente virtuosas, mas se encaixando perfeitamente. O baixo e a bateria (mesmo programada) dão peso e mostram uma diversidade de levadas e ritmos que vem de muitas e variadas influências musicais. Sim, eles ousaram e foram longe, e isso é excelente.
A produção é de Fernando Nahtaivel (tecladista/vocalista da banda) e Maurício, que deram uma sonoridade brutal e agressiva ao trabalho do INSANE DEVOTION, pondo bem em evidência o lado ríspido da banda, mas ao mesmo tempo, a qualidade é seca e com certa limpeza, permitindo-nos compreender o que eles estão tocando. E a arte de capa de Chris Cold, mais a arte complementar de Maurício e Fernando para o layout e encarte ficou excelente, mostrando a idéia de sua música em uma arte sinistra.
Insane Devotion |
Son of Hate - Introduzida por riffs instigantes e belos teclados, a faixa vai em um crescendo arrasador (veja a presença de solos e baixo bem evidentes), até o surgimento de vocais em tom de lamento que fazem a atmosfera da canção ficar sinistra, então os vocais se tornam rasgados, e o andamento em meio tempo reforça o lado opressivo da banda. Então, começa um festival de mudanças de ritmo que vão do cadenciado terroroso à velocidade extrema, mas sem perder a coerência musical.
Obscure Blackened Night - Já começa arrasadora, pesada e rápida, com um belo trabalho das guitarras mais uma vez, que lembra o que a banda fez em "Slaves Will Serve". E reparem como os vocais de Moloch rendem muito bem, bem como os teclados de Fernando mostram algumas experimentações ótimas.
Bad Machine - Outra bem empolgante, com o baixo trovejando e belos teclados fazendo sons aterrorizantes para deixar o ouvinte arrepiado. A faixa transita entre Thrash, Death e Black Metal em sua composição, mais alguns toques de teclados e efeitos para lá de bem postados.
The Rite of Winter - Um pouco mais melodiosa e cadenciada, esta aqui começa opressiva e bela, graças aos belos riffs e orquestrações que dão aquele sabor fúnebre à canção, que logo ganha um andamento forte e ganchudo, em meio tempo, algo que BATHORY sabia usar muito bem na fase "Blood Fire Death". Óbvio que as melodias ficam evidenciadas, e vejam que solo de guitarra caprichado.
Standard Operating Procedure - Sendo a faixa mais curta do disco, é evidente que a violência é bem evidente logo no início, mas logo, um lado mais cadenciado e bem trabalhado aparece, com uma bateria mais técnica, mais vocais sussurrados e melodias ótimas nas guitarras.
Mass Murderer - Aqui, temos 12 minutos de uma faixa cheia de experimentações, mudanças de ritmo, com a banda mostrando a que vem. Tudo de uma vez só, como um imenso rolo compressor disposto a destruir qualquer barreira e/ou oposição ao seu trabalho. E que belas variações vocais, digamos de passagem.
Um disco ousado, feito com muito cuidado e esmero. A versão digital se encontra disponível de graça no Bandcamp da banda (com encarte com letras, fotos, release, entre outros extras), mas a versão física tem, como um belo presente aos fãs de longa data (e aos novos também, claro), o álbum "Slaves Will Serve", pela primeira vez lançado em CD.
Não é um simples disco de Black Metal, mas um dos top 10 nacionais de 2015, com certeza.
Dúvida, caro leitor?
Ouça e tire suas próprias conclusões...
Músicas:
1. Son of Hate
2. Obscure Blackened Night
3. Bad Machine
4. The Rite of Winter
5. Standard Operating Procedure
6. Mass Murderer
Formação:
Fernando Nahtaivel - Teclados, vocais, bateria programada
A. Maurício Laube - Guitarras, vocais, baixo, bateria programada
Moloch - Vocais
Contatos:
Metal Media (Assessoria de Imprensa)