Ano de 1995.
Após alguns anos das polêmicas abrangendo incêndios de igrejas, violações de túmulos, assassinatos, o suicídio de Per Yngve Ohlin (Dead, vocalista do MAYHEM) em 1991, e culminando com a morte de Øystein Aarseth (mais conhecido por Euronymous, guitarrista/fundador do MAYHEM) pelas mãos de Varg Vikernes (do BURZUM) em 1993, o Black Metal norueguês explodiu para o mundo, trazendo consigo as cenas sueca e grega. As pessoas começaram a descobrir que, após dado como morto em 1986/1987, o Black Metal estava, na realidade, em animação suspensa, fora do foco da mídia em geral. E ali, nos países escandinavos, o estilo ganhou corpo, foi finalmente canonizado e preparado para nos novos tempos que chegavam. Assim, podemos afirmar que 1995 seria o ano em que o Black Metal arrombou as portas e chegou para ficar de vez.
Mas outro traço interessante da época é que muitos músicos, na época, tinham projetos paralelos, para poderem expressar suas criatividades sem, contanto, descaracterizarem suas bandas originais. Isso era bem comum na Noruega, e assim, Satyr (do SATYRICON e WONGRAVEN), junto com o amigo Fenriz (do DARKTHRONE, ISENGARD, NEPTUNE TOWERS, entre tantas outras bandas/projetos) resolveram criar um trabalho paralelo, dando roupagem de Metal à músicas tradicionais da Noruega, e ainda convidaram a cantora Kari Rueslåtten (na época, do THE 3th AND THE MORTAL) para a empreitada. E dessa união, nasceu o projeto STORM, que rendeu apenas um fruto, o ótimo “Nordavind” (cujo nome significa “vento do norte” em norueguês), lançado em fevereiro de 1995.
Satyr gravou guitarras, baixo, teclados e vocais, usando o nome S. Wongraven (que, no fundo, é seu nome verdadeiro, Sigurd Wongraven), Fenriz gravou a bateria e vocais sob o nome Herr Nagell (usando seu sobrenome verdadeiro apenas, e “herr” significa “caro” ou “dileto”, em alemão), e Kari fez suas partes usando o próprio nome. Em “Nordavind”, fica claro o amor nacionalista dos membros por seu país, dando àquelas canções tradicionais do peso do Metal, o que seria chamado de Folk/Viking Metal alguns anos depois (óbvio que já existiam bandas usando o nome do gênero, mas eram apenas bandas de Metal usando temas voltados ao folclore europeu), todo cantado em norueguês. Mas é impossível não gostar desse disco, já que ele transpira uma honestidade e um amor pátrio enormes. Chega a ser comovente.
Storm |
“Innferd” é uma introdução em teclados que vai ambientando o ouvinte para “Mellom Bakkar Og Berg”, que já começa com ótimo trabalho de vocais, com Satyr usando uma entonação viking em tons normais e as intervenções de Kari são belíssimas, com uma frase em vocal rasgado no final da canção, e mudanças de andamento ótimas. Em “Haavard Hedde”, é a vez de Fenriz mostrar seu vocal Viking (como já havia feito no ISENGARD), em uma faixa com andamento um pouco menos veloz. A curta, envolvente e forte “Villemann” se segue, outra com andamento mais moderado, com belos duetos entre Kari e Satyr. “Nagellstev” é uma canção sem guitarras ou baixo, apenas com o som do bumbo da bateria acompanhando os vocais melodiosos de Fenriz, ou seja, uma música só dele (com letras parcialmente idênticas a “Soelen Gaaer Bag Aase Ned”, do ULVER). Um dos pontos mais altos do CD é a encorpada “Oppi Fjellet”, com um trabalho ótimo das guitarras (que riffs!), belas mudanças de andamento, coros para vikings e os vocais de Satyr mostram maior diversidade de tons. A longa e variada “Langt Borti Lia” é a mais bela canção do CD, justamente porque os vocais de Kari são bem macios e ela usa uma ótima diversidade de tons, e baixo e bateria mostram uma força maior que nas faixas anteriores, já que as mudanças de andamento são muitas. Em “Lokk”, temos um solo de Kari nos vocais, sem base instrumental, lembrando muito do que se houve em New Age. Fechando, “Noregsgard” é a faixa mais pesada do disco, com riffs de guitarra bem azedos (mas que os fãs de DARKTHRONE percebem na hora serem os mesmos usados em “Quintessence”, faixa do “Panzerfaust”, apenas com algumas mudanças aqui e ali), e Fenriz e Satyr fazem ótimos duetos, belas intervenções de Kari e uma cozinha rítmica muito boa. “Utferd” é uma bela instrumental de violões e teclados, encerrando o disco com chave de ouro.
“Nordavind” foi filho único desta associação, já que Kari saiu da banda pouco depois do lançamento do disco (devido a se sentir traída por Satyr e Fenriz, que introduziram trechos extremos nas letras, coisa que ela pedira que não fosse feito, já que era uma exigência para sua participação) e se dedicou à sua carreira solo. Satyr deu continuidade ao SATYRICON, que hoje tem uma sonoridade mais voltada ao Death’n’Roll que ao Black Metal. Fenriz hoje se dedica a fazer Metal Punk, distante do Black Metal que a banda praticou por anos.
Aos que se interessarem, ainda existe material do STORM na coletânea “Crusade from the North”, de 1996, lançada pela Moonfog: a inédita “Oppunder Skrent og Villmark”, “Noregsgard” em uma versão remixada, e a versão de um ensaio para “Mellom Bakkar Og Berg”.
Um disco ótimo, que pedia (e ainda pede) uma seqüência merecida.
Músicas:
01. Innferd
02. Mellom Bakkar Og Berg
03. Haavard Hedde
04. Villemann
05. Nagellstev
06. Oppi Fjellet
07. Langt Borti Lia
08. Lokk
09. Noregsgard
10. Utferd
Banda:
S. Wongraven – Vocais, guitarras, baixo, teclados
Herr Nagell – Vocais, bateria
Kari Rueslåtten – Vocais