Nota 9,5/10
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
A sociedade brasileira atual é fruto de anos de uso e abuso, da corrupção que assombra este país desde suas fundações. O cidadão honesto é transformado em refém do estado, que baseado na teoria da corrupção, é devorado e oprimido, é destituído do direito de viver, e em pouco tempo, a possibilidade dele ter cerceado seu direito de respirar pode se tornar uma realidade. E isso gera o inconformismo que vemos inundar as ruas, sejam em conversas entre poucas pessoas, sejam nos manifestos contra as ações do Governo em qualquer instância. Este é o castigo de se nascer na Terra de Santa Cruz, primeiro nome dado ao Brasil, que é uma terra onde cada um de nós carrega uma pesada cruz para sustentar a corrupção, seja ela nos bastidores da política, nos saguões de cultos, ou mesmo nas ruas e nossas desonestidades de todos os dias. E raiva e inconformismo contra tudo e todos transpiram em “Terra de Santa Cruz”, primeiro álbum do quarteto NUESTRO ODIO, de Osasco (SP).
Adeptos de uma mistura furiosa entre Metal e Hardcore, com toques experimentais, o quarteto, ora mais rápido e raivoso, ora mais lento e abrasivo, mostra uma música ótima e consistente, moderna e cheia de peso, e bem longe de ser simplista. O grupo mostra vocais que oscilam entre timbres normais gritados e outros mais guturais, riffs de guitarra pesados e intensos, baixo e bateria com boa técnica e peso. Mas esta música é despejada sobre nossas cabeças com uma intensidade absurda, e fica claro que a revolta do grupo é construtiva, não niilista, já que as letras em nossa língua pátria deixam claro que o inconformismo é consciente. E isso tudo misturado nos dá um disco que é capaz de deixar os ouvidos dando sinal de ocupado por horas!
Nuestro Odio |
O que torna o trabalho do NUESTRO ODIO é a capacidade de mixar suas influências musicais sem medo e de forma homogênea, e os toques mais experimentais não destoam. Sua música soa compactada, extrema, ríspida, mas sempre bem feita, e com uma dinâmica que não nos deixa cansados.
O CD já abre de forma irônica, pois “Terra de Santa Cruz” é um típico Samba brasileiro, mas a letra transcreve a realidade de nosso país sem máscaras ou alívios. E isso vai preparando o ouvinte para “Desordem e Caos”, uma pedrada com andamento variado, mas sempre entre o cadenciado e o meio tempo, alguns tempos quebrados, evidenciando o ótimo trabalho de guitarras e base rítmica. “Sagaz” é rápida, curta e grossa, mais uma vez mostrando um trabalho ótimo das guitarras. “Interlúdio” é uma introdução mostrando todos os lados da corrupção de nosso país, um protesto azedo, preparando-nos para “Ópio do Povo”, com um jeitão de Hardcore Beatdown vez por outra, com um ótimo trabalho dos vocais (que mostram que cantar em português não compromete a métrica, como muitos alegam). Ainda mais hardcorizada é “Hipocrisia Hereditária”, brutal e opressiva no trabalho de baixo e bateria surpreendente. Em “Alma Corrompida”, música do vídeo oficial de divulgação do disco (e censurada para menores de 18 anos), é outro murro de puro inconformismo na cara, com guitarras bem dinâmicas e vocais mais uma vez surpreendendo os ouvintes. Mais lenta e azeda a princípio é “Sangue no Olho”, com um andamento ganchudo, mas logo ganha mais velocidade e empolgação. E “Por Um Deus” é um murro direto na hipocrisia religiosa da “Teologia da Prosperidade”, defendida por vários pastores, entre eles, Edir Macedo. E a canção é rápida e empolgante, mas com algumas mudanças e toques mais experimentais ótimos. Há ainda uma décima faixa, onde vemos algumas brincadeiras com pedaços de músicas (nem me pergunte de onde saíram).
O disco pode ser baixado legalmente direto no site da banda, e também está disponibilizado no canal do Youtube deles (inclusive com as letras), logo, nenhum dos caros leitores tem desculpas para não conhecer este nome emergente, mas que ainda vai dar muito o que falar no cenário brasileiro.
Esses caras prometem, e muito!
Músicas:
01. Terra de Santa Cruz
02. Desordem e Caos
03. Sagaz
04. Interlúdio
05. Ópio do Povo
06. Hipocrisia Hereditária
07. Alma Corrompida
08. Sangue no Olho
09. Por um Deus
Banda:
Leonardo Ronqui – Vocais
Denis Alvim – Guitarras
Tiago Rocha – Baixo
Leandro Oliveira – Bateria
Contatos:
Metal Media (Assessoria de Imprensa)