Nota 10,0/10,0
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
O Metal nos últimos anos está mostrando que novas possibilidades sonoras apontam para uma mudança de modelo no todo. A diversidade, multiplicação de novas vertentes, a utilização de novos recursos mostram que o paradigma atual irá mudar, pode ser hoje, amanhã ou mesmo em alguns poucos anos, mas é uma coisa boa. É sinal que o estilo está vivo. E um exemplo bem evidente dessa mudança está em bandas novas ou jovens que se recusam a seguir padrões já estabelecidos e ousam criar para si personalidades fortes e marcantes, como o holandês CARACH ANGREN. Sim, esse excepcional trio já anda causando muito alvoroço no underground do Metal extremo, e que está se agigantando cada vez mais, acaba de soltar mais uma pérola preciosa em forma de música, que tem por nome “This is Not a Fairytale”.
É preciso estabelecer que o trio faz o que convencionou-se como Symphonic Black Metal, mas tenham cuidado: o CARACH ANGREN não copia outras bandas, justamente pela sabedoria nos arranjos musicais, já que os teclados não fazem apenas fundo ou orquestrações sinistras. Eles são uma parte essencial da dinâmica musical do conjunto, com linhas bem próprias (e isso é uma marca do trabalho da banda). Os vocais nesse disco ganharam uma maior diversidade de timbres, permitindo que as músicas ganhem sutilezas antes ausentes. Os riffs de guitarra continuam técnicos, cortantes e ótimos, agora com um pouco mais de melodias. Baixo e bateria que sempre foram técnicos, agora levam isso a outro patamar, mas sem deixar a música da banda soar oca ou sem peso. E mesmo com tudo isso, o trabalho da banda soa coeso como um todo, forte, elegante, muito pesado, com personalidade e energia aos borbotões.
O grupo reuniu um time dos sonhos para cuidar da produção. Uma vez mais, Patrick Damiani está na produção (é o mesmo que produziu todos os álbuns da banda até hoje), mais a mão de Peter Tägtgren na mixagem e Jonas Kjellgren. E não erraram na escolha, pois “This is Not a Fairytale” está um passo adiante de seus outros discos em termos de sonoridade: pesado, climático e sinistro, mas bem claro aos ouvidos, nos possibilitando compreender tudo o que a banda faz. Em termos de arte, o trabalho de Erik Wijnands e Pedro Ortiz IV é de cair o queixo, belo, sinistro e refletindo bem a proposta musical/lírica do grupo.
Carach Angren |
As letras, como uma tradição da banda, formam um conceito central interessante: a famosa estória dos Irmãos Grimm, Hansel e Gretel (que por aqui, chamamos de João e Maria), ganha uma roupagem sinistra e bem diferente do costumamos ver em filmes.
O disco é perfeito, todas as músicas possuindo seu valor próprio.
Após a introdução “Once upon a Time...”, temos a violenta e opressiva “There’s No Place Like Home”, com excelente trabalho de teclados e guitarras, e mais uma interpretação vocal antes ausente nos discos do trio, seguida pela preciosamente orquestrada “When Crows Tick on Windows”, com um andamento mais variado, cheia de ritmos quebrados, onde o clima teatral se torna ainda mais evidente. Em “Two Flies Flew into a Black Sugar Cobweb”, vemos uma pegada mais pesada e suja no início, e depois, ganha contornos mais melodiosos e sinistros. “Dreaming of a Nightmare in Eden” é uma faixa baseada em orquestrações e vocais, sendo bem sinistra e preparando o ouvinte para “Possessed by a Craft of Witchery”, que mixa peso e técnica com maestria, mas possuindo alguns momentos bem trabalhados que surpreenderão os fãs. O clima opressivo de terror é evidente em “Killed and Served by the Devil”, graças ao uso de orquestrações perfeitas e vocalizações muito bem pensadas em coma de uma base instrumental perfeita. Cadenciada e pavorosa é “The Witch Perished in Flames”, com muitas mudanças de ritmo (o que se vê nos momentos mais velozes que surgem vez ou outra) e orquestrações que se transformam juntamente com as guitarras, algo fabuloso, e uma marca registrada do CARACH ANGREN. O disco fecha com “Tragedy Ever After”, uma canção um pouco mais bruta e agressiva, mas permeada por belas orquestrações e alguns momentos mais climáticos. Mas se pegar a versão deluxe com bônus, tem uma versão orquestrada muito sinistra de “Dreaming of a Nightmare in Eden”.
Ótimo disco, que vai para o top 10 sem medo, pois são bandas como o CARACH ANGREN que trazem o futuro até nós.
Músicas:
01. Once upon a Time...
02. There’s No Place like Home
03. When Crows Tick on Windows
04. Two Flies Flew into a Black Sugar Cobweb
05. Dreaming of a Nightmare in Eden
06. Possessed by a Craft of Witchery
07. Killed and Served by the Devil
08. The Witch Perished in Flames
09. Tragedy Ever After
Banda:
Seregor – Vocais, guitarras
Ardek – Teclados, pianos, orquestrações, backing vocals
Namtar – Bateria, percussão
Contatos:
Facebook (Brasil)