5 de jan. de 2015

Tá no Sangue – A História do Rock Pesado Gaúcho (anos 70 e 80)

Por Marcos “Big Daddy” Garcia


Um dos grandes feitos em termos de literaturas é justamente o de registrar e resgatar aspectos históricos, sociais e políticos de dada época e/ou movimento. Mas quando se lida com algo de contexto histórico, é sempre laborioso, já que implica em buscar fontes de informações dignas de confiança, como jornais, artigos acadêmicos, revistas, e mesmo testemunhos de pessoas que viveram tais momentos aos quais obras se dedicam a narrar. E quando lidamos com uma obra como “Tá no Sangue – A História do Rock Pesado Gaúcho (anos 70 e 80)”, é perceptível que seus autores realmente tiveram um trabalho de Hércules para levantar tanta informação.

O tema do livro, como seu próprio nome deixa explícito, é o de resgatar a história da cena roqueira do Rio grande dos Sul, que deu ao país nomes de peso como ASTAROTH, LEVIATHAN, PANIC, e mais recentemente, KRISIUN (um dos grandes nomes do Metal nacional), REBAELLIUN, NEPHAST e outros.

E que se diga de passagem: o livro é um trabalho primoroso feito pelos autores Douglas Torraca, Luis Augusto Aguiar e Maicon Leite, todos eles pessoas calejadas dentro da cena Rock/Metal do Rio Grande do Sul.

O livro é já encontra no prefácio dois nomes de peso: Ricardo Batalha (Editor-Chefe da ROADIE CREW) fala um pouco de sua experiência com o Metal gaúcho, e Eduardo Martinez (guitarrista do PANIC) tece seus comentários sobre o gênero. 

Os autores
Falando do livro em si, é interessante notar que a obra mostra o início da cena roqueira do RS datando ainda no final dos anos 50, em bailes e festas em vários locais e cidades, e o surgimento de bandas mais adiante. E mesmo assim, paralelamente ao que já se mostrava em outras regiões, surgiam bandas como OS CLEANS, ALPHAGROUP e outros nomes, que são as raízes da cena gaúcha. E com uma narrativa deliciosa, somos levados a conhecer mais e mais da história do Rock dos Pampas. 

Outro ponto interessante é que nas divisas, ainda temos pequenas biografias de bandas (acompanhadas de testemunhos de fãs e músicos), comentários sobre vários pontos onde os fãs se aglutinavam para estarem juntos e curtirem músicas, vídeos, compartilharem fitas (em especial destaque para a loja Megaforce e seu folclórico dono, Adenir Kessler), Rádios, entre outros.

Um filé (ou churrasco, se preferirem) que existe é quando se entra nos aspectos históricos dos discos seminais da cena. Se São Paulo teve suas SP Metal e o HARPPIA com “A Ferro e Fogo”, o Rio de Janeiro teve “Ultimatum” do DORSAL ATLÂNTICA e METALMORPHOSE, Belém teve “Stress” do STRESS, e Belo Horizonte teve “Século XX/Bestial Devastation” do OVERDOSE e SEPULTURA, a cena gaúcha tem as coletâneas “Rock Garagem” I e II para contar um pouco de sua fase seminal nos anos 80. Também é interessante notar que nomes fortes como ASTAROTH, LEVIAETHAN e PANIC deixam registrados os discos que transcenderam as fronteiras do RS, pois “Na Luz da Conquista”, “Smile” e “Rotten Church” foram adquiridos por fãs em todo Brasil. E um dos pontos ressaltados em alguns pontos é que o Rock Gaudério possui algumas particularidades que o diferem de outras regiões do país, assim como o Rock praticado em outras regiões também diferem muito uns dos outros em muitos aspectos líricos/musicais. 

E outro aspecto muito bem ressaltado: falar em Rock implica em falar em várias vertentes do mesmo, e vemos que o Rock Progressivo e o Punk estão presentes, bem como se fala no início do Metal extremo no RS, e o livro ainda abrange shows internacionais, festivais, mulheres na cena, as figuras da cena, e uma sessão “In Memorian” (onde se reverencia a memória de pessoas importantes para a cena, entre eles Paulo Schroeber). Mas uma sessão especial é “Infectados pelo Vírus do Rock”, onde vários personagens da cena comentam como se deu o início dessa infecção bendita que leva a todos nós a irmos além da ambição financeira, sempre pondo o amor ao Rock acima de muitas coisas.

Diagramação privilegiada (com fotos de jornais, cartazes e bandas espalhadas por todo o livro, tornando a leitura mais interessante), depoimentos muito importantes e uma narrativa fluída e longe do “insight” insosso da academia, tudo em “Tá no Sangue” é de primeira, tornando o livro uma leitura obrigatória para todos que desejam conhecer um pouco mais de como a cena gaudéria se desenvolveu. E por meio dela, nos é permitido traçar um paralelo entre ela e as outras cenas regionais pelo país, e assim, ver como a cena nacional foi sendo construída como um todo.

Um trabalho excelente, que merece aplausos, e lembrando que este é apenas o primeiro volume, abrangendo os anos 70 e 80, logo, ainda temos mais duas décadas e a atualidade a serem contadas, o que será feito no futuro segundo volume.

O livro pode ser adquirido através dos sites e lojas listados na página oficial do projeto.


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