21 de jan. de 2015

Saint Spirit – Mea Culpa (CD)

Independente
Nota 9,5/10,0

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Bem, certas bandas, quando expostas às críticas, tendem a rebuscar seu som e ir evoluindo. É aquilo que chamamos de "survival of the fittest", ou seja, a sobrevivência daquele que se adapta melhor às condições que estão reinando. E o tio carioca SAINT SPIRIT, de Belford Roxo, Baixada Fluminense (RJ), retorna à carga mais uma vez. Se nos discos anteriores a banda mostrava um potencial enorme para música, mas que ainda necessitava de maturação e lapidação por uma identidade própria, em "Mea Culpa", eles resolveram descer a marreta sem dó e encontrar sua música na marra!

Aqui, o trio usa de sua personalidade thrasher natural combinada com elementos do Metal extremo, influências do Djente Metal e mais toques modernos, buscando assim uma identidade mais sensível. E conseguiram!

Os vocais da banda, mais roucos e viscerais, beiram o gutural muitas vezes (embora vocais mais melodiosos sujam vez por outra, como em “"City of Roses"); as guitarras estão despejando riffs extremamente pesados, azedos e modernos, além de alguns solos bem feitos e esbanjando melodia; e a base baixo/bateria está com um trabalho pesado e técnico que chega a ser covardia com os ouvidos alheios. Resumindo: um disco ótimo!

Produzido pelo próprio trio e gravado no Clamer Lucio Home Estúdio, com o próprio Clamer fazendo a gravação e masterização, é incrível o resultado em termos sonoros. Compreensível e claro a ponto de conseguirmos ouvir cada instrumento separadamente, mesmo com uma sonoridade tão azeda e bruta de doer os tímpanos e trincar os dentes (devido ao uso da afinação mais baixa). A arte, por sua vez, é bem enigmática, mas antenada com o conteúdo lírico.

Saint Spirit

O grupo usou como tema principal de suas letras as atrocidades acontecidas no hospital Colônia de Barbacena, um dos episódios mais tristes de nossa história, onde pessoas recebiam tratamento desumano, muitas vezes, sem sequer terem um diagnóstico médico de insanidade. E sobre a ótica da banda, essas pessoas seriam párias de uma sociedade que quer se fazer de perfeita, mas cujas bases são podres. E é justamente entre as décadas de 60 e 70, onde o número de mortes foi o mais elevado em toda história da instituição, evento que se referem até os dias de hoje como o "Holocausto Brasileiro".

Mas imaginem isso embalado por arranjos bem feitos, mudanças de andamento perfeitas, timbres bem escolhidos em cada instrumento, e ainda as participações especiais de Frank Lima (MAIEUTTICA) nos vocais em "City of Roses", Daniel Monteiro (FOLHAS DE OUTONO) nos vocais em "Bonsai" e Bruno Max (PURITAN) nos vocais principais em "Tortura". 

Preparai vossos pescoços!

"Arbalest" é uma into que antecede a curta e modernosa "Solitude Collective's Train", mas logo vem a bruta e opressiva "Release the Kraken", com trabalhos de vocais e guitarras assustadores, tamanha a brutalidade (mas com boa técnica). "Pregnant Women" é um pouco mais veloz e com uma clara influência de Djent nos arranjos, com riffs de guitarra bem raçudos. Em "City of Roses", que já começa com uma levada bem rápida da bateria, logo vira um pesadelo sonoro com um tempo mais cadenciado, com vocais insanos (e algumas incursões limpas muito belas, aumentando o clima denso e opressivo). Mais ganchuda e com certo groove é "Iceberg", outra pancada com forte dose de Djent, assim como "Volt", onde os arranjos do baixo estão ótimos, fora riffs brutos e grudentos, e um solo mais melodioso. Introduzida e permeada por cantos gregorianos, "Mea Maxima Culpa" é uma instrumental ótima, com um trabalho ótimo da bateria. E o pogo se torna evidente em "Tortura", cantada em português e uma faixa cujo andamento oscila entre momentos rápidos e outros nem tanto, sempre com ótimo nível e mais uma vez ótimo trabalho das guitarras (que solo!). Bem trabalhada e com arranjos fascinantes é a abrasiva "Hellyard", outra com vocais ótimos e um refrão muito bom. Uma ouvida em "Nameless" já é suficiente para sentir certa aura de Death Metal na composição, bem bruta e um pouco mais seca que as anteriores. "Bonsai" volta a ter um clima denso e moderno, com uma guitarra bem Djent mesmo, com bela variação nos vocais e o baixo dando bastante vibração e força à música. "Roger That" é uma pancada direta, seca e raçuda, evocando um pouco os trabalhos antigos da banda, mas mantendo a roupagem moderna do disco, E fechando, a faixa mais longa do CD, a epopéia "Indestructible", que começa com arranjos interessantes de guitarras, de onde surgem melodias muito boas, e então a música se desenvolver de forma natural, com uma atmosfera menos densa que no disco como um todo.

Um excelente disco, mostrando uma banda que soube evoluir bastante, e que merece a aquisição física sem medo.

Ah, sim: "Mea Culpa" é uma frase que vem do ato penitencial em muitos ritos religiosos. E "Mea Culpa" pode ser ouvido na íntegra no Bandcamp da banda.

Release the Kraken!!!





Músicas:

01. Arbalest (intro)
02. Solitude Collective's Train  
03. Release the Kraken  
04. Pregnant Women  
05. City of Roses  
06. Iceberg  
07. Volt  
08. Mea Maxima Culpa  
09. Tortura  
10. Hellyard  
11. Nameless  
12. Bonsai  
13. Roger That  
14. Indestructible


Banda:

Rodrigo Bizoro – Vocais, bateria 
Michel Mixa – Baixo 
Clamer Lucio – Guitarras


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