Nota 10,0/10,0
Por Marcos "Big Daddy" Garcia
Um fenômeno não incomum na cena Metal é o surgimento de trabalhos que precedem shows, ou seja, bandas que seguem o caminho inverso ao algoritmo montar banda => tocar ao vivo => gravar algo. E isso vez por outra é capaz de nos surpreender com trabalhos de qualidade inegável. E o TELLUS TERROR, banda de Niterói (RJ) prova que chegou para realmente ser diferente da grande maioria, já que "EZ Life DV8" é um disco muito, muito diferente do comum. Ou seja, o Terror não está chegando, mas está entre nós. E para ficar, preparem pescoços, ouvidos e o cérebro para uma experiência completamente nova em termos de Metal.
Antes de tudo, o quinteto foge do convencional, usando a designação "Mixed Metal Styles", ou seja, podemos aferir que é um grande caldeirão de múltiplas influências, uma verdadeira falta de limites, e que só faz bem, indo de momentos extremamente brutais e opressores a outros mais trabalhados e suaves. Vocais que oscilam de timbres normais (ora melodiosos, ora mais agressivos), sussurros macios, tons rasgados e guturais sem ter pudores dos mais desavisados, riffs de guitarra extremamente criativos e alguns solos muito melodiosos e bem colocados, teclados constantes e com boas orquestrações, baixo muito técnico e mantendo peso, e uma bateria fantástica, muito bem trabalhadas e pesada, conduzindo bem as canções. E não falei no uso de vocais femininos. Mas esqueçam os rótulos, basta dizer que é excelente.
Gravado nos estúdios Visom Digital e AM, ambos no Rio de Janeiro, sob a tutela de Fernando Campos, a mixagem e masterização são da dupla Fredrik Nordström e Henrik Udd, dois suecos que tem no currículo trabalhos com gente de peso como DIMMU BORGIR, IN FLAMES, ARCH ENEMY, DARK TRANQUILITY, OPETH, SOILWORK, ROTTING CHRIST, entre tantos outros, mais a ajuda providencial de Anders Patrik Jerksten (ou Pat Power, para os mais íntimos), batera do DREAM EVIL e técnico de áudio do DIMMU BORGIR, fazendo as famosas "Click Corrections" da bateria, tornando as mudanças de metrônomo bem precisas. Não tinha como não ser outra coisa: uma sonoridade cristalina, vibrante, pesada e que se assenta a cada momento da música do grupo.
A arte é algo muito belo, mas o que se poderia esperar de um trabalho do renomado artista grego Seth Siro Anton (o mesmo de trabalhos visuais de NILE, ROTTING CHRIST, PARADISE LOST, EXODUS, VADER, e por aí vai). A beleza e bom gosto se aliam à uma arte bem enigmática.
O que falar das composições do disco?
Simples: eles, usando a experiência que possuem de trabalhos em bandas anteriores ao TELLUS TERROR, usaram e abusaram da criatividade, e de romper fronteiras. Sim, eles não se restringem às barreiras estilísticas que muitos preferem respeitar e enrijecer. A fusão, no entanto, é saudável, apontando uma direção nova para o futuro. E sim, eles capricharam em cada arranjo, em cada nota está colocada com perfeição, e assim, conquistaram um lugar deles. Pode parecer que o Pai Marcão aqui está exagerando, mas se o tempo fizer justiça, pode ser que estejamos vendo nascer um novo "To Mega Therion" ou "Into the Pandemonium" em termos de ousadia e criatividade, algo muito à frente de seu próprio tempo. E aqui no Brasil!
Tellus Terror |
Óbvio que "EZ Life DV8" não é um disco de fácil assimilação, longe disso, leva uma duas audições para se compreender a complexidade e completitude musical do sexteto.
Falar das músicas?? São todas perfeitas, simples assim.
O disco inteiro é maravilhoso de seu início até o último acorde. O CD já abre com a excelente "Stardust" (cheia de variações rítmicas e belas melodias nas guitarras que conduzem a faixa muito bem), passando pela enigmática e opressiva "Terraformer" (a dinâmica dos vocais é impressionante, novamente com estruturas harmônicas preciosas), a mais compassada e firme "3rd Rock from the Sun" (que bateria fantástica, fora os arranjos de teclados estarem ótimos), as ríspidas e trabalhadas "Bloody Vision" (mas notem bem que os riffs, apesar de mais secos e brutos, são bem arranjados e com bastante técnica, seguidos de perto pelo baixo técnico), "Equinox" (uma pedrada mais brutal, mais seca e simples em comparação às outras composições, mesmo com belos arranjos de teclados), a insana e pesada "Civil Carnage" (ótimo refrão, excelente bateria e baixo muito bem colocados, ambos conduzindo bem a base rítmica técnica do grupo), a linda e sensacional "I.C.U. In Hell (International Chaos United)" (mesmo extrema, a beleza estrutural e feeling mais melancólico surge em vários momentos sobre a colcha de riffs opressivos e vocais ríspidos), "Brain Technology Part 1 (This Is Where It Starts...)" (outra faixa bem bruta e com feeling melnacólico, acentuado ainda mais pelos belos vocais femininos muito bem colocados, inclusive em um dueto interessante e surpreendente com os masculinos rasgados, guturais e normais se alternando). "Endtime Panorama" é uma faixa absurdamente trabalhada e ríspida, mas novamente temos um refrão ótimo e bem envolvente. Fechando, "Error", onde agressividade e um clima mais soturno se alternam, sempre com ótimos vocais (reparem na mutação da voz humana para uma robótica, que se encaixa perfeitamente no contexto lírico do grupo) e guitarras com ótima diversidade. É insano, absurdo, fantástico e maravilhoso. Simples assim.
Muito prazer, TELLUS TERROR, e muito agradecido pela aula de Metal bem feito. E também por apontarem uma nova direção para o Metal!
Exagero? Ouçam e tirem suas próprias conclusões...
Tracklist:
01. Stardust
02. Terraformer
03. 3rd Rock from the Sun
04. Bloody Vision
05. Equinox
06. Civil Carnage
07. I.C.U. In Hell (International Chaos United)
08. Brain Technology Part 1 (This Is Where It Starts...)
09. Endtime Panorama
10. Error
Formação:
Felipe Borges – Vocais
Álvaro Faria – Guitarra
Wederson Félix – Guitarra
Arthur Chebec – Baixo
Ramon Montenegro – Teclado
Rafael Lobato – Bateria
Contatos:
Metal Media (Tellus Terror Press)