18 de ago. de 2014

Resenha: King Diamond - Abigail (CD)

Roadrunner Records

Por Marcos "Big Daddy" Garcia


Bem, hora de falar de um grande clássico do Metal, e que sempre foi muito subestimado antes do atual "revival" oitentista. Hora de falar de um dos grupos mais influentes na cena Black Metal e Metal tradicional de todos os tempos: KING DIAMOND, e o disco escolhido não poderia ser outro senão aqueles que é considerado o melhor de sua carreira por uma enorme parte de seus fãs, "Abigail".

Lançado em 21 de Outubro de 1987, é justamente "Abigail" que vai consolidar de vez o nome da banda, já que debates entre a chegada de "Fatal Portrait" ao mundo (17 de Fevereiro de 1986) e de "Abigail" eram comuns, quase sempre comparações entre a banda e o finado MERCYFUL FATE: a contestação de Mikkey Dee como um bom baterista (justamente por ter sido mais direto no primeiro disco da banda, os fãs o achavam inferior a Kim Ruzz, baterista do MERCYFUL FATE), o fato do trabalho da banda ser um pouco menos melódico (não tão ganchudo, digamos assim), já que Andy LaRocque é um excelente guitarrista, mas Hank Shermann é um excelente compositor (basta dizer que compôs sozinho todas as músicas do "Melissa"). Então, o lançamento de "Abigail" chega para acabar de vez com as dúvidas, e encerrar debates tolos.

Mas ao mesmo tempo, "Abigail" rompe de vez com o passado, mostrando que o KING DIAMOND era uma banda diferente do MERCYFUL FATE em tudo: muito mais técnico, canções mais elaboradas e grandiosas, vários "inserts" de Música Clássica e Barroca, King também passou a usar melhor sua voz em inúmeras variações de tons (e abandona de vez os vocais que muitos rotulavam como "chorados" quando cantava em tons normais, uma das marcas registradas do MERCYFUL FATE), e começam a surgir o uso de teclados mais e mais (uma vez que em "Fatal Portrait" eram usados apenas nas introduções). A única ligação com o MERCYFUL FATE explícita eram os solos de guitarra bem característicos de Michael Denner. E por falar nele, Andy monopolizou bastante os solos de guitarra: 11 solos, 5 temas e uma intro com violão, contra 10 solos, 1 tema e uma intro acústica de Michael! E isso sem falar que é em "Abigail" que fica clara a dualidade nas guitarras, já que o estilo de Andy é bem mais técnico e rápido de solar, contrastando bastante com o jeito mais clássico e quase Barroco de Michael. O baixo de Timi Hansen (que já havia abandonado o pseudônimo "Grabber") está ainda mais técnico que antes, fazendo belas incursões e mesmo aparecendo com toques jazzísticos (como vemos em "The Possession"), e Mikkey Dee cala de vez a boca de seus críticos, mostrando que tem bem mais técnica e peso que Kim, matando de vez qualquer saudosismo. E talvez o aspecto mais importante na diferença: enquanto o MERCYFUL FATE é mais pesado e ganchudo, o KING DIAMOND é mais complexo e técnico. Talvez isso ilustre bem a diferença de estilo de compor de Hank e King.

Ao contrário de "Fatal Portrait", King produziu "Abigail" apenas com a ajuda de Roberto Falcão (por favor, não confundam o produtor e tecladista com o jogador de futebol! Essa piada, que existe desde 1986, se já não tinha graça na época, quanto mais hoje em dia...) na engenharia de som, mais Andy na produção adicional das guitarras, Mikkey e Michael como assistentes, não é de se estranhar que a produção seja absurdamente pesada e "volumosa" (o som é bem cheio, podemos dizer assim), pesada e clara, sem um arranjo mínimo que fique imperceptível aos ouvidos. E a capa, um trabalho primoroso e focada em tons escuros, mostra os Cavaleiros Negros guiando uma carruagem fúnebre.

Da esquerda para a direita: Andy, Timi, King, Mikkey e Michael
Mas a capa deixa claro o conteúdo lírico do disco: King, dessa vez, optou por escrever um disco conceitual como um todo, narrando uma estória de horror focada em Abigail La Fey, uma criança concebida de uma relação amorosa da esposa do Conde de La Fey com um amante, que "nasceu" morta no dia 07 de Julho de 1777, e vai causar problemas mais tarde. Não entro em detalhes para que os que ainda não conhecem a estória possam ter o prazer da descoberta por si. Mas se vocês se impressionam com este tipo de coisa, aconselho a lerem durante o dia. Tive problemas severos de insônia na época por conta disso...

Bem, após a intro "Funeral", o disco abre com "Arrival", uma faixa bem ao estilo que o KING DIAMOND já mostrava no "Fatal Portrait", só que com técnica extrapolada a níveis absurdos, especialmente em termos de bateria e guitarras (o contraste entre os solos é algo fantástico). Seguindo, vem "A Massion in Darkness", uma música que rebusca um pouco as influências da NWOBHM que a banda possui, com King cantando maravilhosamente bem sobre uma linha melódica fabulosa. "The Family Ghost" é uma música cheia de mudanças de ritmo, onde Mikkey resolve mostrar as garras de vez (mas uma pena que o vídeo para ela seja ridículo e cortado. Talvez porque a última estrofe da letra seja chocante demais para os padrões da TV). Um violão acústico bem técnico (tocado por Andy) introduz a fabulosa e perfeita "The 7th Day of July 1777", onde mais uma vez a voz de King mostra-se bem diversificada em torno dos personagens da estória. E daqui para diante, o que seria o lado B do vinil, as últimas quatro músicas, o clima começa a ficar mais pesado conforme a estória evolui, já que "Omens" já possui um clima bem tétrico, reforçado pelo uso de teclados e pelas bases de Timi e Mikkey. Timi mostra mais uma vez sua técnica nas quatro cordas em "The Possession", e digamos que ela é a "menos melhor" (me permitam dizer assim, por favor) faixa do disco, sendo excelente. A clássica e hiper-trabalhada "Abigail" dá sequência, cheia de variações de tempo, ritmo e um assalto à mão armada das guitarras e bateria, fora a presença ótima dos teclados. Fechando o vinil e a estória, temos "Black Horsemen", outra faixa mais climática e pesada, introduzida pelo violão clássico de Michael, conduzida por bases de guitarra venenosas, baixo e bateria no auge, King cantando tudo o que sabe, e encerrando com um dos melhores solos da história do Heavy Metal (e não estou brincando. Michael Denner é um mestre).

Em um dos lançamentos em CD, temos um série remasterizada onde o disco tem por bônus "The Shrine" (que fez parte de um B-Side do Single "The Family Ghost", lançado em 01 de Julho de 1987, ou seja, 100 anos depois do nascimento de Abigail!) e alguns rough mixes de "A Mansion in Darkness", "The Family Ghost" e "The Possession". Há também uma versão em CD+DVD de comemoração dos 25 anos, trazendo os mesmos bônus em CD, mas no DVD, uma apresentação ao vivo,  "Live in Gothenberg, Sweden, 1987", com sete canções, "Funeral", "Arrival", "Come to the Sabbath", "The Portrait", "The Family Ghost", "The 7th Day of July 1777" e "Halloween".

Sem desdenhar de "Fatal Portrait" (que é um ótimo disco de estréia), mas é com "Abigail" que o KING DIAMOND mostrou que havia vindo para ficar. E uma pena que a formação acabou de desfazendo antes de "Them", uma vez que Michael e Timi sairiam da banda. E a ida para os Estados Unidos pouco adiantou, pois apesar de "Them" ser o disco mais bem vendido na terra do Tio Sam, nunca tiveram o suporte por parte do público e da gravadora que realmente mereciam. Talvez o abandono de temas muito pesados nas letras (King já criou o KING DIAMOND com isso em mente, conforme várias entrevistas, mas as estórias que viriam em "Them", "Conspiracy" e "The Eye" não são tão apavorantes como em "Abigail"), e até mesmo a mudança na maquiagem (o abandono da cruz reversa na testa) fossem tentativas de buscar maior aceitação mercadológica, que nunca veio na época. Hoje, muitos batem palmas para a banda, mas na época, nunca lhes deram o suporte merecido.

Mas na memória dos fãs da época (o Pai Marcão aqui, inclusive), fica a memória de um disco que merecia MUITO MAIS atenção do que teve. Talvez se saísse um ano antes, quando grandes clássicos do Metal dos 80 foram lançados, "Abigail" obtivesse mais expressão. Cacife para isso eles tinham, e muito.

Mas chega de falar do passado e de reclamar (acho que o Pai Marcão aqui será um velho bem resmungão algum dia), e vamos pôr na vitrola ou no CD player esta obra de arte em forma de música.





Tracklist:

01. Funeral
02. Arrival
03. A Mansion in Darkness
04. The Family Ghost
05. The 7th Day of July 1777
06. Omens
07. The Possession
08. Abigail
09. Black Horsemen


Banda:

King Diamond - Vocais
Michael Denner - Guitarras
Andy LaRocque - Guitarras
Timi Hansen - Baixo
Mikkey Dee - Bateria


Contatos:

King Diamond Coven (site oficial)
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